domingo, outubro 29, 2006

oxalá

puxa vida, a solidão e a anonimidade agora me alimentam. qualquer parede, atenção, dever e função me oprimem tanto. não costumava ser assim, e mais uma vez, me cheira a esquizofrenia. vou viajar, pra mais uma vez, pros outros, não ser ninguém.



mentira.

décimo quinto andar

os meninos dos telhados fumando cigarros, tirando a roupa já que não gritam com a mãe, bebendo a pinga dos trabalhos que não fizeram pra faculdade, olhando a cidade só pra eles, ao contrário das meninas que nunca se entregam. uma hora e meia que ninguém se importa onde eles possam ter se escondido, algo entre o término da aula e o jantar. Um lance de escada a partir do último andar, e eles são os reis que sempre foram, sem a opressão das mesquinharias constantes. esforço tão grande de tornar medíocre essa vida de que te falo. tem que ser muito passional pra saber viver das entrelinhas.

sexta-feira, outubro 27, 2006

like a roling stone

aqueles arzinhos de samba burguês infectavam as narinas de um jovenzinho de criação liberal como ele. vestidos de bolinha, saias de paetês, e dez mil meninas bonitas. o samba correndo por detras não acalmava suas hipóteses, os casais semi-profissionais no meio da sala, recendendo a sexo dócil. foi-se dali na pressa das coxas, com uma ou duas palavras gentis caiu numa ruela mal iluminada (e nem precisava ver mais nada). a rua era tão fácil pra ele, a chuvinha fina e a escuridão gritavam sua anonimidade. "when you got nothing, you got nothing to lose". há de se esvaziar o momento, em poucos minutos estará perto demais. novas palavras doces e a imensidão perdida, entre as quatro paredes do claustro, comeu uma banana e dormiu.

folículo

eu me pergunto porque toda felicidade intensa vem junto desse leve desamparo, minutos de querer morrer. se enfiar tanto na solidão e não ter mais solução. sim, sim, fácil falar dos outros, eles que não sabem lidar com nada (delicado erro), se protegem em mil máscaras, e eu já nem mais sei amar o amor dos puros. tais carinhos calculados, utopia de uma liberdade corrompida, ecos de uma existência conturbada. reconhecerá facilmente a melancolia nos meus traços? nela me protejo. não aprendi a lidar com o mundo, mas (ainda) sei de côr o sofrimento.

quinta-feira, outubro 26, 2006

awareness

auto-sustentada enfim?

segunda-feira, outubro 23, 2006

inocência

vai ver é trauma de intuição.
só sei sentir as coisas nas mãos,
digo,
extravasando pro algo mais.
sexo, arte, ou berro,
matando dias a grito.

chopchop

dias em que amigo de verdade é granola.

sábado, outubro 21, 2006

ato

não imagino pois escrever já é imaginar.

lapela

Chamo-te pra dançar, assim como quem não quer nada, quanto menos ao que diz respeito. Dar-te a mão como quem sabe segredos, intimidades do tempo. Travessia dessa tua sensibilidade, não saberás assim de mim, ao menos que seja dado. Mais uma, outra, tentativa rota, de que sendo eu a conduzir essa velha dança, não te percas no tempo. Não sendo eu outro vestido, tendo-te por parentesco ninguém mais do que as traças do úmido armário ainda seco, como teu sexo, mortalha de nós.
Mas giraríamos, e talvez nesse lusco-fusco, permitiria-se ser menos tu do que usual, entregaria-me mão, e seio, e virtude, como as flores que faço girar e girar. E por último, desespero cândido, tontura da sede que te provoco, daria-me tua liberdade, o mais belo, para que possa devolvê-la enfim intacta.

peixe

a vida só me é nas margens que a comprimem, nos olhos velhos que tem a doença de saber: olhos também cegos.
a primeira, ao redor é uma releitura, frequências e ritmos cambaleando no pensamento.
a segunda, o vejo com o que não deixo de saber, e não vivo a vida que vivi nos livros. descamuflando o pensamento, por vezes, torna-se como foi ontem, e o é raramente, ver-te assim pura e sem projeções infames. vida na essencia, eu estar assim, olhando pra você, se dando assim, é sentir a intensidade mais densa dos pequenos gestos.

sexta-feira, outubro 20, 2006

labirinto

se eu contrair esquizofrenia tão cedo na vida,
deixo pro nicolai todo o alcool que eu não bebi,
todos os cigarros que não me mataram,
e todas as ressacas que eu evitei.
pro bruno tudo o que eu não escrevi,
e pra juba todos que não amei.

sabe o que que é?
eu perdi o medo.

quarta-feira, outubro 18, 2006

síntese

crash,
poft,
pow.

domingo, outubro 15, 2006

meia lua inteira *

a lua muda surda,
toda palidez nua.
muda em sua loucura.
lunática
sem cura.

a lua muda em lua,
quarto minguante
nunca sua.
a andar perdida nas ruas.

*reprise

água ardente

escondida no porão, fumando cigarros de medo. meio rosto penumbra de vela, música de respiro. se olhar pros cantos e saber que não há em lugar nenhum, é também chorar, enquanto me abandono à você. momentos distraídos e é mulher. o sol nos prédios como gatos dormindo depois do almoço, metáforas sinalizadas do algo mais, detalhes submissos.
homem pálido esquálido, segurando lança de ponta, contra os ímpetos insaciáveis das visceras. tudo isso acontecendo, enquanto dormia no meu colo.

sábado, outubro 14, 2006

sombra

tenho que me livrar do medo.
ele não existe,
mas me controla.
solidão é uma ilusão,
não sei mais bem que música,
me diz que é melhor ser feliz sozinho.

contrasta a compulsão,
que é ainda achar beleza no mundo.

cambaio

o sol azulejar o dia, nos passos dispersos e livres, vem me fazer companhia, além do teu útero, macio e leve. apesar de toda tristeza, me escorre puro assim - belo, pelos poros que além de tudo meus, também tem sua beleza. beijos enfim na tua bochecha, esparramando-se pelos teus restos, chego em casa enquanto amanhece e cessa o pensamento.

quinta-feira, outubro 12, 2006

vazio

parto nessas viagens de que te falo como um homem cego. passos de ansiedade na ida, e passos de quieto desespero na volta. busco enfim a parte de mim nas cidades a minha volta, busco a palidez no breu que nos afronta. busco a alma que perdi, e que no entanto, me procura. de cidade em cidade, e em lugar algum. não posso encontrar-me nas paisagens, não posso me encontrar com tais pessoas, enquanto for impossível.

terça-feira, outubro 10, 2006

piegas

não me sinto vazia quando me aprendo. coisas como o amor sem esperar, aos outros, para si. as verdades todas estão em todo lugar. mundo-holograma.

macrobiótica

a realidade quem inventa
sou eu
o todo é o meu resto.
cindido mundo ao meio
todas as metades são inteiras
construções erradas são
laranjas ou não
minhas preferidas.

domingo, outubro 08, 2006

poesia barata

você aninha eu,
e eu aninha,
em teus braços.

sábado, outubro 07, 2006

olhos de vidro

às vezes as palavras dão razantes, é parte da poética o som que o som faz. outras vezes é preciso atenção, como quando as crianças tem a alma na superfície.
o importante é manter o espírito livre,
garantia é olhar fundo nos olhos.

quarta-feira, outubro 04, 2006

fome

verbo vivo oco,
de dentro do seu olho,
grita passos e quimeras.
sem carboidratos,
clamotivações.

terça-feira, outubro 03, 2006

esqueça

eu achei talvez que o erro fosse meu e assim de qualquer maneira poderia diluir-me algo circundante da noção de eu além de páginas e páginas tudo que põe-se pra dentro - e pra fora além dos olhos nos olhos e o que mais pode significar a solidão alimento-me de mim então os ossos reclamam e se leio os jornais já nem tenho (pra quem) dizer eu te amo tem um pouco de vazio em quase tudo toda mulher é também um pouco de dor e se desisto de tudo por um instante e se toda verdade arde e vira pó em um instante ainda posso mudar de idéia mastigo o que resta depois a liberdade do nada ausência de projetos de modelos da idéia esqueça-me da poética contrua teu próprio niilismo não venha me achando as coisas bonitas se perca não saiba mais a noite até que anoiteça não cabendo mais no peito.

segunda-feira, outubro 02, 2006

fibrax

os franceses são uns idiotas,
eles acham que os solteiros são celibatários.

domingo, outubro 01, 2006

nhoque

divido-me nos pedaços que você fez de mim,
metades absurdas e tímidas,
ora prefiro o não, ora prefiro o fim.

maltratam-me os meios carinhos,
a frieza úmida da noite,
e essa atravessada saudade.

busca incessante
se inexistem razões
metafísicas ou conscientes.

em mim tua ausência
arde como
não há liberdade - sua presença.