segunda-feira, junho 29, 2009

fic

Ela abriria os olhos nessa segunda feira como se o ano fosse outro, o país, e o sexo. Acordasse francesa nem saberia que horas eram e deixaria a fome para o vento, o café na janela. Porém, abriria os olhos, deixaria o corpo se levar pelas pernas e talvez fizesse outros amigos.
Era segunda feira e acordou com os braços doendo, e um vontade frouxa de não se ser não se vendo.
Era pouco e acordou, como se os dentes ainda não tivessem nascido e no lugar dos olhos tivesse apenas filmes mudos, amores brutos.
Acordou sem dentes, embora mordesse. E ainda dormisse.
Viveu, porém por breves momentos
e apenas nua e bem viva
no centro de uma mentira.

quarta-feira, junho 24, 2009

morte rápida

fecha meus olhos antes que o sangue comece a escorrer pelas orelhas, pelos olhos, os miolos esquentem e tudo vá pelos ares.

a ilha das quatro da tarde

O tempo é que faz a terra levantada pelas rodas do carro baixar ao chão novamente. O tempo de secar a lama da chuva. o tempo de lembrar, e o de esquecer.
giraram em falso um pouco as rodas desse carro que logo chegaria. trouxe consigo novidades do passado, alegrias passageiras.
os animais pressentiram a milhas. agitaram-se. entraram no lago como forma de anoitecer as emoções.
o instante do chegar era um instante perdido.
o sol lambia a encosta numa constante inclinação de fim de dia. os pés nos charcos de outros meses. outros animais perenes sutilmente nos dando a conhecer.
pouco se disse, e mesmo, pouco se fez.
entretanto aquele cheiro lento - aquele jeito de ser - embrenhou-se como marca cardíaca,
que dará ou em saudades,
ou em poesia.

quinta-feira, junho 18, 2009

flores horizontais

flores brancas que vejo na murada de um sonho.
por cima de visgos e trepadeiras. sempre por cima do sonho.
acordada pois tudo lógico, na verdade dormia da certeza de que tudo poderia ser outro. nós como músicas rodando mundos em lp's antigos. nós em capaz envelhecidas de antigos cartazes. nós velocidade razante de outros automóveis. nós enfim. até isso acreditei ser possível.
acreditei ser possível a vida na morte. pois a música tocava nessa realidade densa de que te falo e eu em um minuto parei-me os momentos, e lembrei de ti. lembrei de ti e te ouvi cantando.
quando acabou a música nada mais dispos. voltei a aqueles momentos.
momentos envelhecidos pela passagem de uma memória. os mesmos rostos.

terça-feira, junho 16, 2009

raw

a emoção era enorme.
por isso tanta inconsciencia com esse tal de tempo presente.

segunda-feira, junho 08, 2009

à

Cara,
quando eu sonhei com você estávamos envoltas em sonho. Você me olhava eu te olhando e não tínhamos medo dessa felicidade. Você segurava uma prancheta branca, toda simples da verdade de estar num dia a dia. Estávamos num dia a dia, como há um tempo atrás. Acordei e era outra. Mal lembrei. Acordei com uma certa tristeza nos olhos, podia ser frio, ou ainda a sua imagem colada nessa superfície de ver, mas na escuridão de um pensamento.
Demorou pra eu te lembrar. Para eu te trazer dessa memória ainda distante. Foi aos poucos, como uma água inundando. Foi assim que abri os olhos e te tinha. Você vinha com o nome saudades e eu alcançando o braço te levava comigo. Fazia tempo. Andamos juntas na rua, rindo porque era de se rir. Chegamos, você se despediu. Ficamos sós.
Meus olhos se encheram novamente de escuro. Virou tristeza.
Eu lembrei de você e pensei, até um outro dia.

limão

hoje eu era um mar revolto um vento forte um dia cinza um peito em brasa.
hoje, em alguma hora.
deram-me limão forte e o gosto que senti foi o mesmo.
o gosto das frutas que tem o gosto dos dias que tem o gosto das dores
que nunca é o mesmo.
porque hoje eu senti um gosto novo de limão azedo.
minha cara pensou em deformidades
começou a fazer uma careta
e parou.
parou para respeitar o gosto novo de uma fruta nunca antes vista
que descia por uma nova garganta sem ajuda, sem respirar.

hoje eu senti o gosto de uma nova tristeza.
nesse novo dia respeitei a tristeza que descia sem ajuda,
sem respirar.

marmota

num vazio de não encontro me esgueiro.
até saio dessa toca, ponho a cabeça para fora,
e vejo como lá fora faz frio.
ouço o barulho das pessoas que conversam para além da minha janela,
por vezes ouço a chuva
e quando estou num bom dia posso até ouvir o sol.
com esse lá fora não tenho nada,
dele desisti, dele não existo.
dentro dessa casa é escuro e é frio.
nela eu resisto.

quarta-feira, junho 03, 2009

jejum

o corpo que anda, o corpo que sabe, o corpo que bebe.
é o mesmo corpo que nada, o corpo que beija, o corpo que pede.
um corpo em silencio
é um corpo no eixo.
um corpo sem fome, um corpo sem dentes, um corpo sem nada,
só corpo, respira.