segunda-feira, março 25, 2013

metá metá

andando pela superfície das coisas.
a piscina está vazia,
o azulejo branco puido,
uma janela
dá para o nada.

andando sem se sujar.
escuto aquela voz que chama ao longe.
vento vento.
corro.
corro.

é lá que a musica toca.
no meio do meio do meio
de tudo.

é lá
na estrada.
e meu coração toca
de novo
aquela canção.

sexta-feira, março 22, 2013

mão

minha mão sempre foi pequena e branquinha.
embora meus braços vestissem
blusas grandes
e pequenas
e rosas com listras coloridas
e brancas.
embora meus braços tocassem o comanche do videogame,
e a bola,
e o lápis,
e a mãe,
e o lanche,
e o filme,
e o livro,
e o menino,
e a menina.
embora minha mão tentasse alcançar a musica (e nunca tenha conseguido),
meus dedos sempre foram pequenos e brancos,
quase gordos,
quase infantis.
minha mão sempre se pareceu com a minha mão,
embora tantas fases tenham imprimido,
frases do nirvana nas minhas paredes,
e árvores,
e tinta branca,
e quadros alheios,
e de repente uma chave de uma casa
que não é essa que sempre foi minha.
a mesma mão que já esqueceu e já lembrou,
e já tocou tudo e tantos,
e já tocou, e já destocou.
a mesma mão,
pequena
e branquinha.
persiste.

segunda-feira, março 18, 2013

amor

não consigo prestar muita atenção. as imagens vão se sobrepondo. os cheiros. ando sentindo muito. e o alcool ainda. neblinando tudo. mas não deixa de ser bom. as imagens que passam e se recortam. em si, as vezes, não me dizem nada. mas as vezes são, e nem percebo, e me distraio, a vida em si. hoje quando procurávamos apartamento, será que eu sempre vou lembrar? será que lembrar é sinonimo de importante? ou será que não significará nada, e amanhã já esqueci. hoje chovendo, entre a alegria e a gripe, será que eu vou lembrar? eu você no centro? será que sexta o dia inteiro com ele. o dia inteiro. entre risadas e compreensões e um tanto de trabalho? entre linhas escritas, imagens e sonhos, sonhos ainda persistem. quando esquecerei? até quando? e já já me esqueço, e passa como um vento. passará no peito? passará nessa outra dimensão, estranha e proibida, onde tudo continua acontecendo, infinitamente? será que afeto acaba? acho que não. acho que continua. continua. continua. quando eu era pequena eu achava que a gente morria quando a gente amava demais. você vivia vivia vivia acumulando amor. e quando entrava a gota derradeira, você morria. é mentira. eu ainda acredito um pouco nisso. nesses últimos dias o amor recortado em imagens sobrepostas e ébrias. o amor. acho que é isso que eles chamam de viver. deve ser.

quinta-feira, março 14, 2013

nós 3 melhor em frances

a barba dele,
lembro.
e dos meus dedos o cheiro,
ainda fumava.
o gosto dela.

e os nossos dedos nos copos,
nas cordas, nos corpos.
tocavam.

em nós tudo era forte
e tímido.

para nós tudo era nítido.

o tempo que passou
hipótese
para afastar as saudades.

quinta-feira, março 07, 2013

muito estranho

psicopatas amam.
gordos amam.
vacas amam.


muito estranho.

tempo

naquela cidade em que o menino morava.
essa cidade dentro da cidade, como ele,
que olhava.
no centro do espelho,
no meio do buraco
que a traça havia roido
num livro.

ele olhava para mim,
mas não me via.
e eu sinto falta
da ausência sincera
que o seu olhar
tocava sobre a minha pele,
branca demais.

luz baixa,
e móveis antigos.
sensações de um ontem antigo,
e a dor de uma cidade
cinemascope.

as coisas passam
como num filme
alugado sem pretensões
numa quinta a noite.

a flor do meu quarto
não tem cheiro.
mas não precisa de amor.

o olhar no espelho espera.
aguarda.
enquanto isso o vento sai de uma janela
para entrar por outra.