quarta-feira, maio 29, 2013

círculo

fazer não barulho com a cabeça teleco pingos subtraiem a atenção distraída que pode inundar meu banho.
se pode existir o tudo
mas o tudo não pode ser sempre
o medo de acabar me traz o algo
que é diferente de nada
e de tudo.
algo são como as vozes inadequadas que invadem e subinvadem o teto.

nesse aniversário bom
inauguro
o entre.
os afetos delicados e importantes
plantas espessas
corajosas e de morte lenta
que preenchem o que resta
e trazem o silêncio.

se o vazio me enlouquece,
inauguro olhar o que preenche.
cactus, orquídeas e outras heras.

terça-feira, maio 28, 2013

retorno solar

eu ouço agora a distancia o pulsar de um coração do futuro,
que teima,
em viver.
eu não sei por que.
mas o barulho continua.
eu tenho raiva.
tanta que não dá
para juntar num punhadinho.

essa noite é grande e dá medo.
tanto quanto ontem.
mas ontem foi um ensaio de antes de ontem.
e você olhou nos meus olhos,
só para parar de olhar.

só para encher minha segunda feira de imagens,
que não deixam tudo no lugar.

hoje a musica implodiu a dor,
e levou
e lavrou
e se foi.
hoje a musica,
e sempre a arte.
para me salvar da materialidade da burrice.

eu hoje até sinto saudades.
então silencio.
então vazio.

eu hoje me armo com mim mesma.
me olho no espelho.
e suporto.
hoje suportar é meu mérito,
e todo mérito tem sua recompensa.

eu hoje a dor e o prazer e eu mesma e se arde eu grito mais alto e é isso.
e você que vá morar em outro lugar.


sexta-feira, maio 24, 2013

flores do mal

eu tinha um desejo secreto de você me escrevesse uma carta e dissesse tudo. mas absolutamente tudo, do importante e bem escrito que se passa aí dentro.
é que me cansa esses seus sete mil véus.
para falar a verdade,
e agora faço o oposto do que peço,
foi por isso que eu desisti.
essa fumaça obliqua azul atrás dos seus olhos
me fascinou por um tempo,
e tenho que admitir que ainda fascina
quando me pego te olhando distraida.
isso quando não são os seios,
que andam tão lindos.
aqui me distraio de novo,
sou mesmo um passarinho,
gosto disso,
por que mente o urso e outros animais mais rudes que me habitam.
mas então eu desisti.
dentro do meu pulmão eu disse não,
e abri a mão,
assustada.
por que  eu nunca consegui chegar do outro lado dos seus olhos.
se é que se chega alguma vez.
muitas vez eu achei que tinha chego.
mas quando você está você acredita que nunca mais vai sair,
e quando você vê,
é dia,
e você está em algum lugar,
e esse lugar é um pouco triste sempre.
acho que agora é uma das poucas vezes que não quero me esconder atrás dos olhos de alguém.
quero descobrir o gosto do meu olhar.
sentir.
dói várias vezes.
por que é muito solitário,
e eu gosto de dividir.
mas o bom é bom demais,
só não conta pra ninguém.
sabe. você.
e agora nesse exato momento em que você lê e sabe quem é
é como se eu usasse o texto essa ferramenta louca para atravessar o tempo e o espaço.
sim, você. estou falando com você e olhando nos seus olhos.
por um lado eu queria saber mais. algo ainda me encanta,
e essa vontade de descobrir um pouco mais.
mas não. não será.
e também é bom.
então no mais denso do plágio de salinger te ofereço esse buque
de parentesis (((((())))))).
e o silêncio.
te ofereço esse silêncio enorme.
esse silêncio infinito.
esse silÊncio que quase canta.
para que nós possamos dividir algo.

domingo, maio 19, 2013

vata cafa pita

se eu fosse um lobo,
você me chamaria para dançar?
mas eu não sou,
sou um passarinho
que não para em nenhum lugar.

se eu fosse um gato
você fugiria ou iria na minha direção?
mas eu não sou
eu sou um urso
e fico parado acreditando.

se eu fosse um refrão
você chamaria meu nome?
chamaria,
mas eu não tenho melodia
sou um acorde orfão de escala.

os dias são criaturinhas minusculas
que escalam essa pedra infinita
chamada tempo.

é necessário respirar.
respirar é viajar sem sair do lugar.


velocidade 0''

ali no meio da multidão tantos rostos passando
rápido
demais.
a vida imensa demais 
para se pegar nas mãos.
infima demais
para se levar a sério.
os rostos passam zunindo
não discrimino caras.
velocidade 0''
só vejo traços.
nenhum afeto 
e tanta gente.
a lua atrás das nuvens
chama.
o cantor canta 
para mim.
olho para cima
e o céu é tão grande.
me sinto minha,
viva,
em pé,
cravada no instante,
cara capturada por um tempo que passa,
mas demora.



sábado, maio 18, 2013

como desfazer um nó. aula I

ali, olhando a corda se espalhando, e se constringindo.
ali, onde você puxa ela aperta, no meio do tudo.
você não pode ficar ali. simplesmente não pode.
você tem que sentir a dor absoluta de ficar ali.
no meio dos nós.
o desespero completo
de não conseguir fazer nada.
então você pede ajuda,
ou nem isso,
e sai dali.
de fora você consegue enxergar
por onde o fio vem
por onde o fio vai.
só de fora você consegue ver
onde amansar
onde apertar.
e doi cada toque na corda,
tudo bem.
uma hora você já desenrolou metade
e só a esperança de um dia desenrolar o resto
já é uma alegriazinha no meio da dor.
não vai ser nem mais fácil,
nem mais difícil que isso.

sexta-feira, maio 17, 2013

3 dias

falar e sentir e fazer
e esse vício um pouco estranho
um pouco burro
de querer ir pra frente.
tentar 
e de repente
encontrar-se sem pele
nua 
sangrando
em plena avenida europa.
foi ali
que me vi sem pele.
foi ali
que a dor doeu aguda
e o corpo todo tremeu
e tudo se encheu 
de um sangue invisivel
que acho que se chama dor.
a dor se apossou da cabeça,
se espalhou pelas veias,
destemperou a barriga,
anuviou a vista,
fez tremer
dos pés as cabeças.
dor aguda como essa
não via
há tempos.
e no entanto
alguém disse
tenta sobreviver três dias
e depois me conta.
fui eu quem disse.
e isso fez o tempo voltar a passar.

quarta-feira, maio 15, 2013

o tempo

o tempo mente pra mim.
ele diz que passa.
quando eu questiono ele me aponta no espelho.
olha.
ele toca nos meus músculos,
na minha pele.
ele toca na minha dor,
e pergunta,
reconhece?
ele diz que passa.
e eu olhando esse corpo agreste teimo em acreditar que não.
ele mente.
sei que mente.
se fosse verdade eu já não estaria mais nessa sala.
em pé nessa sala.
só eu, o tapete, os vasos, a luz. só isso.
a dor enorme.
só isso.
se o tempo passasse eu teria deixado essa sala.
se o tempo passasse eu estaria na rua.
na alegria da rua.
no sol da rua.
no leve da rua.
mas aonde quer que eu vá eu continuo nessa sala.

quarta-feira, maio 08, 2013

touro

a avenida 
passa ao largo
do corpo da cidade
que ri
estridente
do transito 
tolo.

os carros correm não se sabe para onde.
os ônibus atravessam as pontes
com raiva.

embaixo do viaduto tem um bar.
o corpo chacoalha papos.
o copo balança.

dentro desse mistério que se chama quadra,
escondido na luz baixa,
na poeira,
na queixa, no verso, no tédio e no estupor
existe o afeto.

o tempo é outro.
lá fora a vida zune,
aqui ela rumina.




segunda-feira, maio 06, 2013

partir

a lingua que o corpo fala eu sei pouco.
não é a lingua corrente,
usada nos países quentes,
para pedir uma média e um pão.
não.

a lingua do corpo não é a mesma que filósofos vãos
usam para tentar alcançar o mundo caolho.
a lingua do corpo só o corpo fala,
só o corpo entende.

hoje meu corpo aprendeu uma palavra nova.
hoje o corpo sentiu tudo agora.
hoje o corpo soltou pequenos rios
e sentiu epiderme pequenos terremotos.
hoje o corpo disse tanto e ouviu,
tanto que precisava entender e ser.

hoje o corpo sentiu e foi,
para poder dizer a palavra nova.
disse adeus no fim de tudo,
e foi.
foi assim que o corpo partiu.

no todo só se chega distraído

tudo correr como ter uma pá na mão, um remo,
e ir. como se o chão fosse rio. e é.
mas não assim.
como se andar e ordenar os pés,
para a frente,
e descobrir o lado errado,
e descobrir
que não há lado.
como ir, sempre firme,
irresoluta,
como acreditar em algo,
sem acreditar em tudo.