segunda-feira, novembro 28, 2011

estática

pra mim parecia ótimo olhar seu corpo todo desenhado em tatuagens.
você me explicava passando os dedos por cada uma.
contando as histórias, as memórias.
eu devia ter imaginado, mas não imaginei.
você levantou rapidamente e disse
você é má.
você levantou e o enxame de abelhas chegou a piscina.
eu percebi que não podia mais sair.
eu devia ter sabido, mas não soube.
do fundo da piscina eu olhava as abelhas me esperando na superfície.

terça-feira, novembro 22, 2011

simples

eu queria ser mais macio.
guardar em casa as minhas flechas,
correr só com as palavras soltas.

eu queria ser mais cuidado.
lançar chamas só pela música
e som só que te acaricie.

quero destilar, meu amor,
o nosso ódio, a nossa raiva,
e ficar só com a graça.

meu bem, nos dar bem,
é bom e é cachaça.
nos dar bem, meu bem,
é de graça.

domingo, novembro 20, 2011

cor

meu braço esquerdo tá formigando.
eu não sei bem a que figura de linguagem isso se presta.
hoje a sua maquiagem melancólica,
uma escada circular de sonhos antigos,
o cansaço
e a desgramada persistência.
ali,
onde a hipocrisia.
E você falou palavras tão belas.
por não acreditar em nada falou de não acreditar.
eu vim pra casa sozinha
e meu braço esquerdo tá formigando.
eu espero que esse mau sinal
não seja mal.

quarta-feira, novembro 16, 2011

galho

por favor,
não pense que eu fui longe demais.
não fique com vergonha,
nem raiva, nem nada.

é que eu descobri que o que mais gosto de você é sua força.
essa sensação de estar nos seus braços e sentir que eu posso quebrar como um galho.
eu sei que sou forte também,
e grande,
e difícil de matar.
mas eu acho que você poderia,
e é por isso que eu te amo.

madru

madrugadas que me dão vontade de voar.
de abrir meu sorriso geminiano muitas vezes guardado da verocidade das coisas
e esmagar o tédio,
esse gigante anão,
na alma da minha palma.
beber um vinho e viajar
planar, no ar.
ser, pensar,
delícia.
e na cara,
uma placa:
aqui.
vida.

quinta-feira, novembro 10, 2011

primeira verdade

gosto de ver as horas passando
escorrendo lentas pelas paredes
tingindo com seu rastro pegajoso
a meditação silenciosa do desabrochar das flores.

segunda-feira, novembro 07, 2011

depois

eu não quero te ver.
é simples, e me enche de angústia.
por que, novamente, não bastará querer,
tenho quase certeza.
e você vai me enveredar nesse cheiro imenso,
e eu vou andar todo esse caminho mais uma vez.

não adianta querer.
não adianta sequer mudar de nome,
apagar o rastro da minha pele com pedra pome.
não basta inventar um novo cheiro.
não basta sequer dizer não.

quando menos perceber estarei nas suas mãos,
e de novo, e novamente, e mais uma vez,
depois da escuridão terei muito pouco de mim
para fingir saber.
o por que, mais uma vez, novamente, de novo,
branca, úmida, pálida,
da noite a flor enfim entregue.

antes

no princípio era assim.
ou ao menos eu acho que era assim.
o silêncio que às vezes faz na madrugada
me lembra daquelas manhãs.
o tempo sem governo
e o barulho improvável das plantas crescendo.
lembro das folhas de chá
e lembro do sol batendo.
eu lembro quando você olhava para minha pele
e via o degradê incessante do calor e da sombra.
faz tanto tempo.
que agora eu quase que só lembro do silêncio.
era outra vida,
essa que você me ensinava,
da paz nas folhas, gestos e copos d'água.
agora estou sozinha e tenho que me lembrar,
embora quase sempre somente me reste,
o insuportavelmente alto
silêncio da sua voz.