terça-feira, setembro 11, 2012

Coleridge

As flores são como as ideias.
As flores duram pouco.
As ideias também.
As ideias falam de coisas eternas.
As flores também.

sexta-feira, setembro 07, 2012

valete

trancafiada do lado de fora dessa angustia, não me é permitido sentir o que já sinto, o que presinto.
sinto as oscilações como a mão pode sentir a resposta discreta da pele, o suor, o espasmo. E deixo de sentir como muitas vezes o fiz, mal entendendo a umidade.
tange-me nos lugares que a certeza não toca. a planta do pé. a clavícula tensa. os ombros tesos. todos aguardam algo. uma resposta quiçá, um movimento da lua, um toque aguardente.
de repente tudo se desmonta num sopro banal, e vejo entre os pés tristes cartas que já não significam nada.
podem se montar de novo. podem se ligar em significados intensos, construir castelos. mas a possibilidade inexata de que possam novamente se quedar em sopro me dá a súbita vontade de testar outros jogos. temo pelo efêmero estardalhar das cartas. pelo ruir sincero daquilo que se constrói as pressas, e com pouco cuidado.

quarta-feira, setembro 05, 2012

sobre paredes e flores

eu gostei do modo como você pendurou delicadamente o vestido no cabideiro atrás da porta (parecia que aquele era o único lugar que o seu vestido podia estar). eu gostei do jeito que você ficou com a minha chave e saiu com um corpo ressoando a volta (na verdade eu não ia precisar da chave, mas era lindo você sair podendo reentrar). eu gostei da maneira como a sua escova de dente ficou descansada no banheiro (como se essa casa fosse um pouco sua, e por isso mesmo, um pouco minha).
fazia tempo que eu não tinha casa.

ter esse gosto na boca dá vontade de:
ouvir o rumor distante de alguma avenida que não sei como é um mar que estronda qualquer espécie de paz.
pássaros notívagos cantando nas horas erradas.
me apegar as feiuras graciosas das coisas que se tem (ou te tem).
do sabor bem forte, real, do tomate escorrendo na boca, nas manchas que serão feitas, invariavelmente.

tudo vai se sujar e se limpar de novo enquanto comemos, enquanto vivemos, e o tempo passa com graça, e espero não cair nesse conto, e ter o gosto forte, e a certeza, das coisas que são minhas e podem ser divididas, como a alegria, o sexo, o manjericão.

(as ervas daninhas e outras ervas. senti nessa manhã o aroma abstrato dessas flores.)

segunda-feira, setembro 03, 2012

(vendo janela da alma)

assim como uma criança sonha reinos dentro de gravetos, o filme precisa dar espaço para que possamos nos sonhar dentro dele. "os filmes de hoje em dia são totalmente fechados, enclausurados..." - wim wenders
e dai eu fiquei pensando, nos gostos das coisas que  a gente guarda na nuca.