quinta-feira, setembro 20, 2007

zinco

ódio por você,
ouço a música feita com a sua fome
e meu pescoço se prepara.
eu fecho os olhos e me deliro pra frente.

segunda-feira, setembro 17, 2007

lado b

hoje fez nuvens em meu peito
no escuro não ver lágrima
pra lavar a minha dor.

dor foi e não partiu
esse vazio só acaba
na próxima temporada.

domingo, setembro 16, 2007

gutural

mãos dobradas por cima das falanges,
os céus que abatem a vegetação rasteira
nele o mar bate.

eu não me importo,
só um pouco ao menos,
pra que eu possa ganhar ar (e tempo).
cada dia que passa, eu não tenho medo.

quinta-feira, setembro 13, 2007

cerco

ato 1:

em cada resto inoculto dobravam mil decibéis. ébria cissão entre o fora e o dentro, me esparramava com a boca enlameada sujando os seus tapetes. pouco me importava. era então ódio do começo ao meu fim, o deslizar secreto do que parece mais natural, os olhos passando pela sala, fixos nas garrafas vazias que serviam nosso banquete.
olhava intermitente o casal fuso nos sofás, flutuando na música altíssima e dissipada daqueles dias. era o ódio quem tornava tudo muito natural. olhava as garrafas - as garrafas são de vidro.
olhava para o casal - o amor que é de vidro.


ato 2:

então veio o sol e diluiu tudo na rubra aurora.

terça-feira, setembro 11, 2007

tédio

ali naquela sala opaca indecisão entre o tudo e o nada eu me dizia em voz alta: iria morrer cedo. por ali ninguém desconfiava com seus ternos de vidros, os bolsos cheios de segredos.
as palavras cediam, eram pedras que a horizontalidade da água vencia.
eu te pedia com os olhos por um pouco de água, meus dentes estavam cheios de sede,
logo em pouco iriam sangrar. eu gritaria,
correndo por entre os obstáculos, os derrubando com beijos,
iria Gritar: quem pode saturar os caminhos nessa febre de sal,
as gengivas irão sangrar, e ninguém vai me livrar do tédio.

por obrigação

como as palavras secas que estalam nas tortuosas veredas
da garganta
olhos sem deixas
atos sem intenções
achar-se sem dons
umbigos
carinhos - vazios
beijos por obrigação.

domingo, setembro 09, 2007

gipsy

nem todas as mulheres olham para mim.
essas jamais saberão dos segredos por trás do meu violão.
há algo levemente azul e morno,
distrai os olhos,
cessa os vícios.

domingo, setembro 02, 2007

carta pra passado

hoje eu me escondi num canto escuro da rua e desfaleci o inferno de dentro num mar de lágrimas. eu chorei até fazer daquela água suja um troço, uma imundice de mim, um acumulo de amargura. e, despida de tanta loucura, desamparo de me encontrar em mim, veio uma coisa muito forte. as lágrimas começaram a fluir cada vez mais intensas e foi porque eu lembrei de você. e lembrei de um amor por você que eu tinha engulido, que eu tinha esquecido. lembrei de um joão que já não é mais. e me deu tanta saudade. tanta saudade. e eu até te liguei nesse desespero. mas voce nao atendeu. é que eu precisava de voce naquela hora. mas só de voce. e do joão que foi e eu já não sei se é mais. que eu nunca mais vi em bar, esquina nenhuma. um joão que tinha ingenuidade, paixões, e esperanças. que gostava de drummond de peito aberto. que me dizia que nos relacionamentos ninguém perde, ninguém ganha. um joão que eu tomava com exemplo, que eu achava que nunca mais ia perder. um sei lá. um amigo. um amor.

sábado, setembro 01, 2007

estarém

estava com a boca seca para as intenções daquela manhã quente e sem dono. as árvores estavam verdes, o ceu quase sem nuvens, a luz amarelada. só rapidamente e sem muitos compromissos adentrava às visceras de um além tempo, apoiado veemente nas rodas do carro. não importavam os minutos, quanto mais o que sob ele ocorria. o sol esquentava seus dentes estragados pelo hábito. não tinha cólera, apenas no corpo a ausente sensação de um banho tomado. a oleosidade nos cabelos cheia de fábulas fanáticas. nada importava e seu estômago queimava. a música não o abandonava. as fezes não o abandonavam. a dor o abandonava. ao som de quem bem não conhecia. tens medo? perguntava juntando os cacos. tinha nos olhos outros lugares, paragens, vertentes e cachoeiras, assim era seu deus. não dormiu por esse mesmo medo, de ter um deus nos olhos, atrás da pele seca que a morte aos poucos transformava em pó manso. o cansaço comprovava a existência de algum outro-então deus, dessa vez demônio, talvez, esse, visse apenas no reflexo de seus olhos num espelho. apesar de tudo ainda não tomara banho, e o dia, apesar de tudo, estava quente.