segunda-feira, agosto 27, 2007

hai kai

não tinha medo das palavras,
diluia-se no impensável
enquanto o chá ficava morno.

páginas

aos passos pesados, lembranças do futuro,
reinventava como um menino,
as pombas cansadas nos tetos de zinco,
a chuva que jamais faria.
uma por uma, como um menino,
todas as manhãs perdidas.

segunda-feira, agosto 20, 2007

rio

Não dura um segundo a fome de minuto, é que te peço sem medo algum pelo pressuposto do que virá. Te rogo, assim fica mais pleno, tenho a consciência do que jamais será. Pede que te molhe o tempo, pede que te melhore a imagem. Não peça - faça, se lambuze no desfaçelamento intrépido da vida.
Fez com as palavras um muro intransponível, subindo cada dia mais um nível, fez do ódio argamassa dos seus riscos. Peça-me que fale tudo que já sendo, e mesmo assim quando te olho, te rogo, te perco. Faz-me todos os seres que dentro de mim se contradizem, impossível a comunhão de dois, te digo, quando começa o outro o um acaba. E então poderia te enganar nessa ladainha até o final dos tempos, a anonimidade perversa das palavras, vês, o limite frágil entre a mentira e a verdade. Antes o erro, depois o fruto. Depois do fim, segredos que a curva aguarda, faz-se sólido o teu Acaso.

quinta-feira, agosto 16, 2007

turbilhão da vida

passam os seus olhos mudos pela rua,
passam nus, mas não vêem nada.
atrás das cadeiras de vime,
perto de onde os sorrisos não mais tocam,
eu não te guardo.
teus olhos
estão cegos de dentro para fora.

minha boca está seca nesses seus olhos,
eu te peço, te rogo, alguma palavra.
sempre fomos tão mudos,
mesmo quando eloquentes,
a ordem das palavras nunca mudou a ordem do silêncio.

escuta
os olhares que passam na rua.
o teu sorriso não aguarda,
nem sequer teus braços prendem.

quarta-feira, agosto 08, 2007

história

sento-me à secretária - perante os ruídos silenciosos da tarde - examino as mãos turvas de idéias e as páginas sobre elas, pálidas. a responsabilidade aguda de inscrever em tamanha solidão preenche-me as têmporas sob a forma do temor. Maldita arte da inversão, futuro em branco tornando-se passado-página, história passada em futuro- o fruto.

vagabundo

o vislumbre desfaz-se em miragem,
quando sob ele pouso meus olhos.
Perco para os pés a gravidade,
para os braços
as mãos umas vez unidas.