quarta-feira, abril 26, 2006

soneto da terça feira

terça feira é movida por desejos,
o anseio de um dia de sol.
vai se perdendo no inato e sem mérito
do céu azul

as crianças, distraídas,
se perdendo por todos os lugares.
passa um senhor de chapéu,
o outro fica no bar.

o dia passa sem sustos,
os cheiros e as teorias,
e os rabos de saia.

de qualquer maneira arrumam-se todos,
seja atrás do chapéu,
ou da cachaça.

o ministério da saúde adverte:

escrever é muito perigoso,
acaba-se registrando coisas que sequer aconteceram.

domingo, abril 23, 2006

neurose, como se lírico

se eu fumasse
se eu cheirasse
se eu beijasse
se junto de mim tivesse outro

vazio, sujo e calado

e a noite, imensa.

alguém que do meu lado entendesse
que todas essas sensações que não tem nome,
só falam coisas pelo silêncio.

se alguém chorasse - as minhas lagrimas entupidas
se alguém gritasse - meus palavrões suprimidos
(se alguém dançasse - a valsa vienense)

os cigarros fumados com o cheiro da bebida barata a música o escuro a estética o surdo o surto se pra mim esse carinho fosse o transe uma transa que a guitarra fazendo carinho o escuro ia me ninar me pegar no colo a sujeira, ia ser uma quase morte.
a morte, essa noite sem carinho, ia me consolar.
essa dor, já não fica mais no peito, minha dor, meu vazio, reflete nas poças d'gua, reflete na distancia das pessoas que eu não conheço.

já não seriamos solitários neuróticos vazios filosóficos, não seriamos nada, a dor seria dos outros, eles, ao longe veriam, dois espectros,

ia ser o lirismo.

sexta-feira, abril 21, 2006

in the cold cold night'

me deu uma vontade louca de rimar,
fazer uns sonetos parnasianos,
construir uns desenhos geométricos.
essas coisas com fórmula,
tão vivenciadas,
que são até postulados.

rimar é fácil, e propício,
eu gosto do som que faz,
que faz, me sentir completa.

entretanto bilac é um merda,
e o ritmo... ah, o ritmo!
o que abate, e transtorna, e constrói,
os eu'líricos..
é meio que alheio a construções,
tá antes no orgasmo da dor.
dor e sexo, dor e sexo.
a arte é o orgasmo da dor.

quinta-feira, abril 20, 2006

(hipocondria pouca é bobagem)

tô com uma escavação no pulmão esquerdo

- e eu nem sei dançar tango

ninguém chora não há tristeza

o branquelo que era artista, assinando caixas de fósforos, mesmo que a moça que abria o show, essa aí, me fez chorar. que voz era aquela, dela dava vontade de ficar perto, não dava medo não, não tinha nada não. beber um uísque, fumando os cigarros que não fumava, ninguém é realmente mau as cinco da manhã. voz rouca, doente, seexy. e a dona louca, demente, seeexy.
não importa, só não quero que o tempo me apague. dizia-me ela, e encantava.
como já disse, não era quase nada não, era pleno. era um dia bonito. ali sentada, com o uísque.

segunda-feira, abril 17, 2006

o passado

mariana-maria

hj é outro dia
hj é mais um dia
e agt morre e nasce e nasce e morre.

maria-mariana

faz uma semana,
mas não faz chuva,
o que faz e há de fazer?

o tempo, esse pobre coitado,
deixa o vinho amargo.
o alcool sagrado,
não é doce nem é santo,
pq senão vinagre é casto.

não sei se é sono ou sobriedade,
se insonia ou se saudade,
o instante é o que se soma,
o que eu sei é o seu nome,

maria-mariana.

sexta-feira, abril 14, 2006

que mistério tem clarice?

corro, fingindo que ando,
e quando fujo, andando que finjo,
acabo por ligar pra qualquer um,
pra ir tomar um café.

do outro lado da mesa,
menina ou menino,
humano tal qual,
tanto papo que é melhor lotear.

o café acaba - e o papo.
sigo fingindo que finjo,
faz falta alguma coisa.

entre as orelhas e o estômago,
até na caixa toráxica,
falta um pedaço.

continuo vazia.

quinta-feira, abril 13, 2006

mais solitário que um paulistano

tem que começar de algum lugar. bom, acordei. entrei no banho - hoje em dia tomar banho de manhã escutando música é uma das melhores partes do meu dia - vesti uma roupa socialmente aceitável. terapia - cem reais por cinquenta minutos que realmente não valem a pena, se você se esquecer que é a futura profissão, e portanto, obrigatório - aula de psicanálise - freud, papinho, papão - faculdade, gente boba, gente burra, gente legal, e até inteligente - fenomenologia - sinuca e cerveja. a laura é uma menina da minha classe, ela é boba e inteligente, gostei dela. depois cerveja com a vic. foi assim: tocando cazuza e dorrs, anoitecendo, a leve embriaguez da cerveja, e do outro lado da mesa aquela menina absolutamente linda (e louca). tava encantada por mim, mas isso não me fez me sentir mais leve ou feliz - quiçá mais vazia.
aula bebâda do adriano, e papo depois: não tenho mais saco pra toda essa gente, quero me lançar de cabeça no hedonismo e na medíocridade. eu sou medíocre e não tenho caráter. e esses caras... que que eu faço?
vila - as vezes eu vou pra lá, as vezes eu encontro uma menina, que tá ficando com o meu homem. ela é linda, e....... bom, acho que é basicamente isso. encantadora.
depois sinuca láaaa longe.
sabe. a parte que eu mais gosto é quando eu vou dormir.

segunda-feira, abril 10, 2006

somos caramujos, levamos nas costas a metafísica

uma vez eu ouvi: não se sabe se tem alma a matemática das flores...
foi demais pra mim.
sentei em um banco,
sentei e ouvi,
sentei e olhei,
até cheirar eu cheirei.
tava tentando ver além do que pensava ver,
e cheirar,
e ouvir.
pela primeira vez,
não o sentido real das coisas,
mas o sentido mais sentido:
o sem sentido.

como se fosse lógico

há aqueles que vivem como falar numa concha do mar:
dizem lá suas coisas, nas volutas sinceras, mas nada nunca responde.

continua interminável o tal barulho do mar.

há outros que vivem como falar num eco:
dizem coisas, muitas delas,

porém seu êxtase reside apenas no si mesmo dos outros.

as pedras, por outro lado, não me parecem ter agonia alguma. da mesma forma como é deveras difícil acreditar que o laranja não se contraia em uns espasmos quando agente olha pro outro lado.
pra mim o é,
e essa é a razão do existir.

domingo, abril 09, 2006

hoje teve uma coisa linda

hoje teve uma coisa linda.
esqueci tudo por um instante,
prestei atenção no som do mundo.
algumas camadas sobrepostas:
o piano do vizinho, crianças, um barulho maquinal,
prestei muita atenção, me permiti,
e percebi um barulho constante e baixo,
da cidade,
a cidade viva.

meu reino por um mapa de passárgada

tem um paradoxo aí no meio, que me poe em dúvida.
maquiavel que nunca mais sai da minha cabeça,
sexo sem graça.
"o cara já tá buzinando lá embaixo, fazendo papel de palhaço, cheio de boas promessas, menina mimada"
humano humano humano,
não amo.
amargura engole pra não vomitar.
agente tem tanto medo,
tanto medo,
por isso que agente pode ser controlado.
perder o medo..

sábado, abril 08, 2006

old brown shoes

me sinto tão vazia

semiótica

não vejo nexo no léxico,
o sexo
não tem sintaxe.

terça-feira, abril 04, 2006

i'm gonna leave you with the backlash blues

caminhando do lado do rio bonito, tava a loirinha. eu vi ela e quis alcançar com a mão. não, não dá. entendi o que é se encantar. eu me encantei por um personagem, uma paisagem, uma música. eu sonhei com cecile de france, celine de paris.
acordei e ainda tocava nina simone.

o tempo

passa.
todo tempo.

segunda-feira, abril 03, 2006

pra cozinhar em fogo brando

me deixa
que eu tenho tanto carinho guardado na manga
um beijo esquecido no carro
uma palavra e meia ,
um casaco, ou mesmo uma mordida.

deixa os meus olhos
que eles querem ver,
mesmo aquilo que não tá lá,
deixa ele descobrir sua beleza,
e o fantástico em cima da mesa.

quero achar poesia atrás da porta,
(com cuidado pro vento não levar),
que o meu jeito,
é o meu jeito.
quase explode,
quase dói,
todo tesão.

domingo, abril 02, 2006

i can't get no

as próximas sempre com menos medo,
com menos prazer.
as próximas pra desaprender,
banalizar, desconcertar.
amar com inocência?...
não quero mais ser anjo caído.
aplacar o fel embaixo da lingua,
os movimentos convulsionados e corrosivos,
e cada vez aumenta o horizonte,
dos olhos até a satisfação.

sábado, abril 01, 2006

dança de roda

eu te amo.
eu te como.
eu te lambo.
eu te esqueço.

ou o que é muito pior

mesmo que ainda não tenha descobrido nada desse meu mundo presente
possível,
ainda resta o tão grande resto.
no fim da noite parece tão idiota,
e o passado tão previsível,

ainda tem o mundo inteiro pra ser descoberto,
destrambelhado.
devagar