domingo, dezembro 23, 2012

nena

nena,
te busco no meio da noite.
ouço distantes os rumores de luas e rios,
e sinto o seu dispersar de tristezas.

nena,
te busco
embora pouco.
meu calor desajeitado.
amorerrante.

nena,
me sinta.
agora é necessário.

deixa a dor vazar por todos os poros,
vire essa coisa
essa imensidão.

e depois me volte vazia.

nena,
conheço de cor sua cara de choro,
e não os outros.

te acalanto e te canto,
nessa madrugada coberta da solidão dos outros,
e da minha.


quinta-feira, dezembro 20, 2012

amor

no escuro, de olhos abertos como dois gatos. pensando em tanta coisa. e talvez em mim.
é assim que te imagino e me dá uma vontade trovadora de cantar-te, de narrar o nosso amor, de gritar possíveis alegrias escondidas.
e o silêncio estarrecedor de ultimamente enfim me cala.
não há clima para tanto. não há.
e o nosso silêncio como formigas que sobem nas costas sem picar.
o nosso silêncio cheio de palavras.
o nosso silêncio
se ver, e se gostar,
mas sem alcançar a morte,
sem chocar os pés entre abismos.
o seu rosto entre os meus dedos,
perdido nas minhas palmas.
doce o seu rosto.
bonito.
ele me olha e me atravessa,
e algo dói como um deus sem piedade.
eu te olho
e ontem via os verdes que imagino ver.
hoje não sei o que vejo.

talvez o vazio do presente.
será que o nosso afeto cresceu-se em apego e se desmanchou no ar.
será dentes de leão.
ou algo.
será algo.
terremotos insuspeitos das plantas dos pés até a altura dos olhos.
um gilete a estilhaçar em pedaços cabelos e peles.

será algo
como uma mão vacilante no meio da noite.
como um beijo que lembra.
recorda de outros beijos.

como chorar.
como tocar sem encontrar,
e por fim algo.
algo como a esperança.
a esperança do amor de continuar amando.

segunda-feira, dezembro 17, 2012

ainda hoje

você que se me cuspiu de ti.


e sua mão vacilante procura a minha no meio da noite. fraqueza contrastada com a violência daquela frase que explodiu na sua boca.
uma frase para mudar tudo.
tudo para mudar.

ou para nada
ou para outro lugar.

terça-feira, dezembro 04, 2012

besteiras

as vezes ardem besteiras,
esses serzinhos ignóbeis e laranjas que teimamos em apertar com as mãos.
sentimos o calor improvável dos seus pelos ensebados e mudos,
sentimos os seus olhos, pedindo, pedindo por mais mesquinharia.
e apertamos o corpinho até os olhos pularem das órbitas.
então sai um líquido quente e culpado
que queima as mãos sem que se possa ver.
é o líquido da idiotice.

quarta-feira, novembro 21, 2012

vinil

já estar com a boca cheirando à violência delicada do gin.

e não perceber o suor na nuca,
as palavras embaçadas.
não perceber seu cabelo cheirando a cigarro
bagunçado na cara.
as cidades vão desabrochar
com esse hálito feroz.
os lugares que sua mão vai tocar.
e depois eu vou lembrar.
como um disco que gira infinitamente
sem girar.

terça-feira, novembro 20, 2012

cazuza

caralho, ouvindo essa musica desse jeito e andando por essa calçada assim. essa calçada fodida, feia. essa noite de quarta, esse escasso. suas pernas quase gordas comprimidas na meia calça comprimida na saia bem pequena. anda por essas poças, por esses desperdícios. nada encanta a princípio. tudo se encanta num olho que demora.

coincidentes

cede as mãos, mas deixa as pernas. deixa elas respirarem, como a palavra que não sossega na minha boca. a palavra imperativa do agora. nenhuma outra.
o álcool aos poucos corroi os copos de vidro.
isso é o que dizem para acalma-la.
dizem sustentando novas toalhas de linho, úmidas, contra sua testa.
seu pai deve ter uma fábrica de toalhas.
o seu suor parece tingir a pele, mas é mentira.
o cheiro ocre se apruma no ar. esperto. vem direto a mim quando chego, quando a noite chega em mim.
é difícil reconhecer o rosto do prazer nesse parece rosto, nesse rosto que coincide em tantas coisas, menos no aspecto, menos na cor, menos no que provoca em mim. esse novo rosto coincidente usa minha mão para novas coisas. ela se esquece nesse momento do calor guardado em movimento. do espalhar do calor. minha mão, nesse momento, transformada, minha coincidente mão, sustenta toalhas úmidas no colo da sua face.
as suas coincidentes pernas apoiadas nas suas coxas. o meu desejo coincidente escapa entre os dedos. escapa em suor. escapa em loucura.
ao ver suas coincidentes coxas abertadas uma contra a outra.

domingo, outubro 28, 2012

tudo

foi assim. exatamente assim. a tarde derramada em cima da mesa enquanto não viamos, a noite se espalhando como leite, absorvida pelo poroso do tecido, discreta, cheia de estrelas nulas escondidas, mas ainda ali. foi exatamente assim. nós entramos no carro e nos olhamos. nós fomos para o cinema. nós compramos ingresso e nos olhamos. no meio do filme nós nos olhamos, denso, e o rosto revelou algo novo. foi exatamente assim. no seu rosto não existia nada. existia a luz trêmula da tela brincando na sua pele. existia um som distante falando de outros universos. e o seu olho me olhava em silêncio. e ali, exatamente assim, o seu rosto como era. um silêncio de rosto, a revelar todas as possíveis palavras.

terça-feira, outubro 16, 2012

behring

As duas pedras que prendem entre as pernas a imensidão do mar.
Te sinto como um estreito,
magnitude mineral a incendiar os olhos caso o pescoço insista em bascular para cima.
Ri de mim.
O vento desgasta a pedra, a leva em areia, ínfima.
O mar entra mar, sai mar, mas lá,
nem rio.
É um delicioso diminuir-se,
sentir as costelas cedendo
à pressão deliciosa das coxas.
Como duas pedras que prendem entre as pernas a imensidão do mar.

segunda-feira, outubro 08, 2012

matemática patética

a matemática dos bichos. o presente. a matemática dos espelhos. o presente. a matemática das flores. o presente. a matemática do som. o presente. a matemática da fome. o presente. a matemática das cores. o presente. a matemática do sentir. o presente.

ahora

Não quero a figura entregue, a frase inteira. Quero o retalho da tarde. O olho. Quero as imagens que só nós temos. Dedos que desaparecem, uma face exata, abrupta, um desenho redesenhado em pelo, o cansaço mudo, o motivo alto. Quero o gosto das coisas, saliva, palato. A sensação do desfalecer do corpo, uma coxa que cede, um olho que fecha. Quero a sombra do carinho - sua mão que continua na minha nuca, saudade.

poseidon

Ele vinha bater nos meus pés. Parecia uma criança insistindo por atenção. O que incomodava de gelo e areia entre os dedos, os olhos compensavam no fim da tarde.
Sempre tive um pouco de medo do mar. Justo. Antigo e enorme. O mar é como se a mitologia existisse. E não dá para ver o que há no fundo. Se as mãos enormes de Iemanjá, seus cabelos verdes de tanto mar. Tampinhas de cerveja, cacos de vidro, restos de animais.
Às vezes sinto que ele vem me buscar, com sua mão imensa. Melhor - me recolher.
E obedeço um pouco muda. Me embriago, embrenho, me implico. Me misturo profundamente a essas partes de água e sódio. Mistifico a água. Ela me aguarda, me carrega para o mesmo lugar.

terça-feira, setembro 11, 2012

Coleridge

As flores são como as ideias.
As flores duram pouco.
As ideias também.
As ideias falam de coisas eternas.
As flores também.

sexta-feira, setembro 07, 2012

valete

trancafiada do lado de fora dessa angustia, não me é permitido sentir o que já sinto, o que presinto.
sinto as oscilações como a mão pode sentir a resposta discreta da pele, o suor, o espasmo. E deixo de sentir como muitas vezes o fiz, mal entendendo a umidade.
tange-me nos lugares que a certeza não toca. a planta do pé. a clavícula tensa. os ombros tesos. todos aguardam algo. uma resposta quiçá, um movimento da lua, um toque aguardente.
de repente tudo se desmonta num sopro banal, e vejo entre os pés tristes cartas que já não significam nada.
podem se montar de novo. podem se ligar em significados intensos, construir castelos. mas a possibilidade inexata de que possam novamente se quedar em sopro me dá a súbita vontade de testar outros jogos. temo pelo efêmero estardalhar das cartas. pelo ruir sincero daquilo que se constrói as pressas, e com pouco cuidado.

quarta-feira, setembro 05, 2012

sobre paredes e flores

eu gostei do modo como você pendurou delicadamente o vestido no cabideiro atrás da porta (parecia que aquele era o único lugar que o seu vestido podia estar). eu gostei do jeito que você ficou com a minha chave e saiu com um corpo ressoando a volta (na verdade eu não ia precisar da chave, mas era lindo você sair podendo reentrar). eu gostei da maneira como a sua escova de dente ficou descansada no banheiro (como se essa casa fosse um pouco sua, e por isso mesmo, um pouco minha).
fazia tempo que eu não tinha casa.

ter esse gosto na boca dá vontade de:
ouvir o rumor distante de alguma avenida que não sei como é um mar que estronda qualquer espécie de paz.
pássaros notívagos cantando nas horas erradas.
me apegar as feiuras graciosas das coisas que se tem (ou te tem).
do sabor bem forte, real, do tomate escorrendo na boca, nas manchas que serão feitas, invariavelmente.

tudo vai se sujar e se limpar de novo enquanto comemos, enquanto vivemos, e o tempo passa com graça, e espero não cair nesse conto, e ter o gosto forte, e a certeza, das coisas que são minhas e podem ser divididas, como a alegria, o sexo, o manjericão.

(as ervas daninhas e outras ervas. senti nessa manhã o aroma abstrato dessas flores.)

segunda-feira, setembro 03, 2012

(vendo janela da alma)

assim como uma criança sonha reinos dentro de gravetos, o filme precisa dar espaço para que possamos nos sonhar dentro dele. "os filmes de hoje em dia são totalmente fechados, enclausurados..." - wim wenders
e dai eu fiquei pensando, nos gostos das coisas que  a gente guarda na nuca.

quarta-feira, agosto 29, 2012

sangria

ali eu te olhava de dentro. o mundo aquário me guardando da ferocidade do ar. era muito difícil viver. muito difícil sair desse cheiro de carne rubra que existe no lado de dentro das coisas. no entanto eu te via. e tremi quando vi suas coxas. elas se mexiam com delicadeza. a loucura zunindo no meu ouvido. todo esse lado de dentro chovia. os minutos escorriam pelo quarto, esguios, espertos. sua mão contornou minha dor. chegou no cerne. nos olhamos bruto, embora tudo parecesse tão pouco real.
fui embora e o sangue escorreu por esse caminho criado por nós. sua mão ainda estava lá. disse adeus atenta. o vazio agora é carne limpa, latente. pronta para ser carne novamente.

sexta-feira, agosto 24, 2012

liberdade

prensado entre o ar espessado do meio dia e os cheiros fortes dos outros que sou obrigado a sentir.
a solidão grita delícias. os onibus passam e é bom não ir para lugar algum. é bom ser aquele que olha. que deixa que tudo passe diante dos olhos. há algo de subversivo e necessário para a ordem de todas as coisas.

quinta-feira, agosto 23, 2012

como quem salta no ar como água





corre melhor ir para onde saberá o dia escancarado sobre meus dedos que percorrem as vértebras indecisas da praia estirada, da vida discreta e no entanto, tão explicita no seu silêncio. fuma por que o ar denso inspira. bebe por que baco põe a mão pesada na cabeça em prece. vive por que ele canta e tudo continua dançando. continua embriagada desse silêncio que eu vou junto.

terça-feira, agosto 21, 2012

lago



Depois do jantar, com o beiços engordurados, abriu o envelope. As fotos caíram escancaradas. Nada ali era óbvio. O recorte do ombro revelava antigos desenhos. A lembrança de uma nuvem que passou rápido demais. Uma pinta no nariz desdobrava todo um mapa complexo do seu corpo, constelações infinitas, estrelas sem brilho, estrelas sem nome. Nada ali era óbvio. Ali não havia o que da mulher sucita sua besta fera. Ali a maldade era maior. A beleza discreta e sincera do seu cabelo caindo a direita mexia nos torrilhões do dentro de dentro. A beleza dela movia sua escuridão mais bem guardada.
Toda mulher antes de morrer deve ter sido muito boa e muito má. É importante que tenha cruzado esses caminhos. Todo homem antes de morrer tem que homenagear precisamente uma dessas mulheres.
O plano se traçou rapidamente em sua cabeça. Riu pateticamente do piano encostado num canto escuro. Riu da sua ingenuidade, riu da falta de fibra, da falta de horror que havia naquele instrumento. O som do piano era muito claro. Imaginou cartas, textos, meramente desenhou frases. Elas pareciam poucas. As palavras se tornaram opacas.
Ele então passou as mãos nas coxas. Dos joelhos em direção a barriga. Lentamente. Uma, duas. Três vezes. Ouviu o som do tecido sibilando. Sentiu o calor aflito do atrito na palma. Trocou o teso das pernas, pelo duro dos dedos.
Pegou a chave num átimo e partiu.
No número 349 ela já esperava por ele. Esperava vestida, guardando segredos. Esperava sutil, mansa. Esperava com suas pintas e os mil nomes ainda a ser dados, conquistados, devorados. Esperava como uma mulher boa, como uma mulher má, como uma mulher antes de morrer pode e deve esperar alguém.
Ele olhou profundamente para ela. Ele lançou seu olhar escuridão obscena do desejo, febre. Ele lançou seu olhar calor fluido do amor, temperatura. Ela recebeu tudo aquilo inteira. Soube se deixar abater sem cair. Ele começou a beijar ela ali mesmo. Não havia mais nada a ser feito. Essa seria sua última homenagem. Ele beijou com calma, porém voracidade. Pegou seu corpo com todas as palmas de todas as mãos, sem machucar. Ele conheceu a luminosidade estranha do plexo, o labirinto das costelas. Conheceu a calma furiosa dos cabelos. A delicadeza despudorada dos lóbulos. Se embrenhou nos dedos da mão. Fez da curva da coxa com a bunda uma esfinge. Trocou olhares com os joelhos. Percorreu a língua pela coluna, praia imensa, mar infinito. Sentiu seus dedos, seu corpo, seu eu, agora já sem nome, batendo água na areia, ritmo, chamando, chamando. Sentiu ela respondendo, terra, pulsar denso. Imagens vinham de todos os lugares da casa secundar os gritos, a lua gemia baixinho, o ar pesava suores.
Em algum momento tudo aquilo passou. A mulher viu o homem. Tocou seus ombros fortes que logo antes a amparavam. Olhou seu órgão melancolicamente alegre. O seu suor na nuca. Ela olhou para aquele homem que pela primeira vez a transportara para esse antilugar em que estão ou estarão ou já estiveram, alguma vez, todas as mulheres do mundo. Ela olhou para ele e viu um menino. Ele já dormia. Imbuido de algum tipo de paz. Ela deu um beijo no seu entreolhos e fechou os seus próprios.    Enquanto dormia sonhou que era um lago. O menino e o homem inauguravam nela o milagre de ser um lago. A sabedoria de ser um lago. O silêncio de ser um lago. 

quinta-feira, agosto 16, 2012

menti pra você


Quantas bobagens tentei te dizer entre o soluço ébrio e a hora do sono. Quantas palavras errantes te acertaram mesmo assim, em silêncio? Nos vapores do sonho tenta segurar minhas costelas, não há apoio, não há maçaneta que abra essa porta do peito. E no entanto você abre. E no entanto você se esconde. Entre as jabuticabeiras da minha infância raiando um dia infinito. Seu vestido verde e suas coxas cor de mar. Minto verdades para te agradar. Você sorri. Acho que não fala português. Tem medo, tanto medo. Não. Agora você só tem alegria. A libidinosa alegria das crianças, levanta os vestidos, prepara os corpos sempre para as surpresas do cheiro e do sal. Foges. Por que foges ratinha? (Quem é que incutiu essa imensa ternura em ratinha? foi Cortázar). O dia tarda. O café da espera. Te espero. Fiz um relógio desse ócio: A cada novo café, a xícara marca um círculo de borra na mesa. Agora São cinco. Cinco olhos negros que me olham. Que me esperam te esperar. Você chegará sem previsão. 7 olhos negros. Ou 19. O café me acende e me escurece enquanto você. Rindo. Que riso tenebroso. Ecoa nos porões da minha mente.

quinta-feira, agosto 02, 2012

bali hai

se lembra quando a gente vinha na minha casa fumar bali hai e ouvir led zeppelin?
a gente ficava tonto na luz baixa. eu não me lembro como você ia embora. eu não lembro aonde era minha cama. eu só lembro da luz. da janela aberta. de nós dois tontos. vivendo numa velocidade altíssima, e lenta. vagarosos momentos.

segunda-feira, julho 30, 2012

alhambra


eu desenhei o seu nome.

o seu nome era um pássaro.

eu desenhei e ele saiu voando.

sexta-feira, julho 27, 2012

tempo

apoie a xícara de chá preto no mármore e espera a tintura difícil da erva invadir os veios da pedra.
todos os dias. espera. deixa o tempo em seu verbo - passar. olha o olho escuro e pálido que te encara da ponta da mesa. olha no fundo dessas olheiras cada vez mais densas. uma hora esse olho negro vai te olhar e você vai sentir algo. vai abrir os botões da blusa e com as mãos sem hesitar tirar o peixe vivo que brota de dentro das costelas.

olha para o olho mais uma vez.
ele ainda te resguarda. olha e tenta entender: a ternura insuspeita de um olho que ri.

terça-feira, julho 24, 2012

obatalá

então ban.
em cima das suas certezas.
e aquele laço luminoso e quente de todos os sentidos atribuídos
se desfazem sem esforço.
então ban.
e dá até raiva.

uma tristeza descansa calma
nem sei onde.
e de repente me vejo novamente
tentando atribuir sentidos.

pensando nos caminhos.
que eles talvez sejam maiores que só o que me toca as mãos.
e que daí talvez dê para compreender
uma loucura assim.

mas não dá para compreender nada.
prefiro me apegar a falta de sentido de todas as coisas
que me deixa ter raiva dessa e outras tragédias.

segunda-feira, julho 23, 2012

agora

se lembra daquela chuva? tinha até granizo, embora não fosse inverno. e parecia que ia quebrar os todos vidros. o vento batia nas molduras frágeis das janelas, a água escorrria para dentro de casa, invadindo silenciosamente, apodrecendo tudo de forma invulgar e vagarosa. se lembra dos trovões? iluminavam o seu rosto insuspeito na escuridão, lampejos de desconsolo. as suas mãos frias. tateando, tentando compreender a violência da chuva que invadia todos os passos. o eco do mar no fundo. brigando. a terra acabando, chacoalhando, reagindo. a terra tinha raiva de você, se lembra? te deixou no escuro, úmida, fria. você nem chorava mais. mesmo quando tudo acabou, sobrou só a umidade infinita do charco. você olhou e achou que aquela merda nunca ia secar.

agora é inverno. não tem o calor modorrento das tardes que tanto fizeram que secaram a água. agora é inverno e o sol toca sem queimar. acarinha leve sua pele. agora é inverno e tudo bem não lembrar da chuva e do sol. agora é inverno e você pode sentar aqui do meu lado e ficar nesse sol morno. fica. descobre o toque delicado desse calor inverso. a luz bonita descendo pela poeira. ouve o mar. ele tá rugindo. agora, e para você. não existe nada além de agora. e agora estamos nesse sol manso. e agora o mar bate. e agora nos olhamos. e agora não precisamos entender. e agora basta estar aqui, e agora.

sexta-feira, julho 20, 2012

braz

cava vorazmente com os dentes presos num pano. aprisiona entre os dedos, ou está aprisionado. entre a areia e a infinita função. desmama com raiva os grãos melancólicos de terra. transforma-os em areia. da sua barba braz nascem os fios delicados de água salgada densa. chuva, quiçá lágrima. cava há tanto tempo. sua unha manchada de ocre se mistura com o sabor ácido da terra. suas rugas recolhem as gotas de chuva, as organiza para que percorram a lateral do seu rosto. cava profundamente. e quando se esgota sente o tempo passando, inefável sob seus pés, como um vagão de metrô, que passa, passa, sempre vazio. talvez seja por amor que suas mãos penetrem eternamente na terra. talvez um eros ancestral. tão velho que é puro esquecimento, pura sabedoria. cava sem saber por que, sem saber por quem. cava como uma criança que insiste castelos de areia. cava sem duvidar do mar. da ferocidade do mar. da sinceridade do mar. sua devoção é patética. suas mãos estão sujas. todos riem. riem dele. ele já não se lembra. não sabe dizer não.não sabe duvidar. ele já não se lembra. ele recorda apenas. todos riem dele. ele chora. e nem sabe por que, por quem.

domingo, julho 08, 2012

eu quero te falar de antes. Antes as paredes tinham os papéis de parede em ordem e ela nao tinha do que reclamar. Eu nunca gostei dos padroes que estampavam aquela casa. Eu lembro da flor de liz bege. Eu lembro dos losangos laranjas se repetindo, se repetindo, se repetindo, extrapolando as paredes. Por dentro tudo estava mais ou menos roto. Colocando a orelha delicadamente podia-se ouvir as gotas passando incessantes, apodrecendo tudo que alcançava no caminho. Nao sei quem decidiu que a água deveria ser tomada como algo benigno. Ela talvez. Ela gostava muito de tomar banhos. No mínimo 3. Ainda nao descobri o que tanto ela queria limpar. Sei que sua pele ficava seca, e quando ela me procurava com as pontas dos dedos ásperos eu me dobrava com angústia.
e Agora. eu vejo o chao, mártir unico da nossa relacao. eu nao consigo enxergar mais nenhuma marca. o fogo comeu tudo. levou embora toda aquela água insalubre. Agora eu estou de pé aqui. E duvido. Duvido com os pés juntos de que qualquer daquelas coisas aconteceram nesse espaço imaginário em cima desse chao. Eu duvido. Nada no mundo secunda essa hipótese. E a memória, afinal, difere muito pouco da imagincao.

sábado, julho 07, 2012

bresson


as vezes as sombras
as curvas, as pessoas.
as vezes tudo parece já ser.


o sol as vezes se encaixa
entre a árvore ali e a outra
sobre o boné do velho que já passa.

as vezes a beleza súbita
configurada num instante
para quase ninguém ver.

sexta-feira, julho 06, 2012

terceira margem do rio

ali onde o vento faz a curva.

sente-se em todos os lugares.
ao mesmo tempo em todos os tempos.
ali
embrenhados cúmplices,
voando no meio do turbilhao,
tudo acontece sem fato.

ali,
todo momento morde,
tudo volta,
o amor rechaça os elementos duros da parede,
perdura,
na madeira, no veludo,
e na pele macia.

nao sei por que ali,
tudo.
mas nos seguramos com os olhos atentos e as maos próximas
encarinhando o instante completo.

domingo, julho 01, 2012

todas as coisas

salto da minha pegada ínfima.
vejo o rastro formado
areia ou neve
nao menosprezo.

abro a boca larga
os dedos se abrem em pleno voo
braços abertos surpreendidos.

tiro uma mordida da lua
sinto o gosto de todas as coisas.
o tempo mais presente é todos os tempos.
o lugar mais universal é aqui,
se esquecendo de mim.

tanto

hoje tanta coisa.
a retina chama outras imagens por cima das que já tem.
hoje tantos lugares
transparentes em cima dos que eu estava.
o deserto caminhando nas pedras secas do vale. as luzes amarelas chamando carnavais de prédios bem antigos. praças, vistas, sensaçoes teimosas agarradas nos cabelos da nuca.

hoje tanto.
e a noite queda-me uma sensaçao de nao estar em lugar algum. a chuva fina rala meus passos na calçada constante. caminho em algum sempre. chego. e entao envelheci. nao me lembro mais por que caminhava. o tempo presente nao se recorda de nada. as costelas estao cansadas, os pés se tocam com frio. a noite é absoluta. senhora. encobre-me e diz que é tarde. que durma. poe as maos grossas em cima dos meus cabelos e diz que ainda é cedo, que esqueça. a noite passa, brinca no meu colo. me lembro de um tempo ontem, de um tempo talvez amanha. ele se torna agora, e durmo mais tranquila. alegria agasalhando a velhice que por ventura apareça.

sexta-feira, junho 29, 2012

guantanamera

sinto falta do meu violao. do toque da minha propria mao.
delicada e austera, nas cordas sujas e familiares.
gosto do som azul do lá,
do vermelho sol
da escala amarela fá fá sustenido.
o meu violao se adequa na minha barriga, nos meus peitos, nos meus braços,
e as vezes no meu queixo,
apoiado estranho pensando, ou as vezes nem pensando.
converso com ele, nunca percebi.
tímido, moreno lindo.
esquentando o ar a volta.
eu nao tive porquinho da india nao,
tive violao.

domingo, junho 24, 2012

saco cheio

(as palavras ditas na cabeça se encaixam sem concretez, cal das coisas reais.)
a dor de garganta não passa. por mais que a cachaça passe pelas amidalas, massageando, expulsando os bichos mais fracos, trazendo alegria. chega à garganta também a palavra. infelizmente a canção a faz desbotar. eu vi a voz sumindo de excesso. embora cantar seja compactuar com algo do tão bom. se cachaça e canção não funcionam, o que funcionará? pensamento e tempo? doenças são sempre esfinges, se não desvender a amidala cai. estou com vontade de arrancá-las com meus próprios dedos. beber substancialmente. apertar um torniquete só para fazer charme (na garganta?). enfiar as mãos fundo, e arrancar com ira. filmando. vai ser a bruxa de blair nacional.

sexta-feira, junho 22, 2012

francisca

O lugar fora reformado para se tornar menos estreito, para que a mulher, rainha do mar, pudesse passar ilesa por entre as fileiras de poltronas antigas. Os corredores ainda eram cerrados, dentes afilados de peixes violentos. O ar amarelo e pesado, preenchido de poeira, velas e objetos de antiquário, parecia flutuar verde, vermelhoveludo e ligeiramente dourado sob as cabeças. A musica que viria inundaria os porões de dentro. Até os ouvidos começarem a pingar de gosto.

quinta-feira, junho 21, 2012

metá

na consistência do toque,
insistente em minhas coxas.
o beijo aflito
escuro.
a mordida sussurrada
entre tantos sons alcólicos.
algo ultrapassa a cordilheira das coisas vivas,
ou o gemido, ou movimento.
Ou ainda nada disso.

é o prazer.
água de dentro
chamando maré
por seus dedos como lua.

quarta-feira, junho 13, 2012

pasmo

foi bom passear. foi importante. enquanto as pessoas contavam números que nunca acabavam, eu passeei. quando chegou a hora de se esconder, eu passeei. quando o errado era claro, eu errei de propósito. quando me chamaram, eu continuei lá. em busca de algo impalpável ("amar é o elo entre o azul e o amarelo" L.). minha memória é pouca, e não armazenei tanto passeio. não na consciência pelo menos. mas é isso que resulto. desses passos sem esmos resultam meus espasmos. 

ancanã

sua solidão batendo como um mar nos meus joelhos aquele dia que você parou o bar para chorar sentada no chão apoiada no que eu podia te dar, tão pouco. a sua cabeça tem o mesmo cheiro de sempre, e não seria discreto dizer que o resto também. suas lágrimas tem um sabor estranho, um salgado contaminado. suas mãos sempre tóxicas, seus dedos compridos, tortos. você me ofusca, perambula minhas certezas sem ferir. você grita, tenta atingir. você segue, e eu sigo, retas paralelas.

terça-feira, junho 12, 2012

humor

   O chão agasalhava-se em um tapete alérgico, as paredes geladas em branco,  úteis. No corredor tudo seguia seta, as portas entreabertas, os convites, o chão longilíneo, a falta de carinho. Te encontrei flutuando inconveniente entre a porta. Você ria insanidades sempre, balançava o corpo, as ancas suaves, os peitos, ria fechando os olhos, abrindo a boca. Nada importava frente aquele barulho alto e bom que saia do seu corpo todo. Quase sempre era assim, impossível de imaginar profundidades, calamidades, algo mais noturno que o humor, a derreter  todas as coisas. 
   O seu pé cruzava a soleira, os seus olhos perdidos entre esquerdas e direitas, e ali, qualquer pessoa poderia passar. Se você risse o momento ruiria. Olhei para suas coxas com medo de que o rumor pudesse começar por ali, tentei pressentir no seu rosto qualquer nota desse carnaval, olhei os seus cabelos escondendo qualquer coisa, talvez a nuca, e lancei no espaço oco do corredor algo.
   Deveria ir, e não voltar. Deveria ir para longe do meu corpo encontrar o seu, qualquer parte que fosse. Entraria como um veneno, irradiando-se lento dos dedos até a parte detrás da cabeça, até o pulmão, até o peito. Deveria partir desraigado, até virar uma cor delicada e constante, que persistisse sutil para além da sua risada radioativa.

quinta-feira, junho 07, 2012

kotama bouabane

lambe nas mãos o resto do cheiro. os dedos parecem quentes, ainda que mal afeitos à palma do rosto. enfia a língua por entre as falanges, remove para dentro de si o gosto de peixes vivos. os cigarros guardados nas gavetas, anêmicos. as torradas de três dias atrás ainda esperam algo. a areia nos pés lembra que tudo já foi melhor. falta na garganta o calor difícil da cachaça, as mãos entre os cabelos, no macio fino da nuca. a mão a arrumar a gola, incorporar a postura. falta o encaixe perfeito da nuca com o ombro. faltam as plantas maciças, muito vivas. a completude avessa a estar inteiro. poesias escritas com gelo, esperando que você possa ler antes que se apaguem em água.

quarta-feira, junho 06, 2012

haikai

sempre que decido te tirar da minha vida
você estende as mãos vazias de flores,
e eu vejo as cores.

terça-feira, junho 05, 2012

escorpião

acenda um vinho na garganta,
garanta.

lambe o suor dos meus dedos,
demore.

dê mordidas nas costelas,
provoque
a carne súbita do tejo,
escorrendo desamparado
por entre as nossas pernas.

sábado, junho 02, 2012

minas

passavam na minha janela aqueles montes verdes, derradeiros, os últimos e os primeiros, a noite a nascer por trás das curvas, a revelar mulheres imensas, morenas, densas, misteriosas mulheres.

em algum lugar

em algum lugar a tarde cai derretida por cima dos bancos de madeira que suportam até as chuvas. a grama respira alto o silêncio. as vozes esquentam. a comida posta na mesa, pela primeira vez. o olho por trás de algo que brilha. e o sono, lento, manso. gato a descansar na almofada azul.

quarta-feira, maio 30, 2012

desabafo generalizado sem literatura

eu conheço alguns homens legais,
alguns homens que não precisam se sentir machos,
os comedores, os fortões, os inquebráveis.
alguns poucos,
a maioria muito amigo.
mas aí pelo mundo,
a gente vai passeando,
e vai vendo cada cara fraco, tosco.
acho que as mulheres tiveram que fazer uma puta revolução
e os homens ficaram para trás,
confortáveis,
recebendo sanduiche da mamãe.
e daí a gente continua passeando pelo mundo
e conhece umas mulheres tão legais
e que nunca sequer viveram um caso bacana,
respeitoso, profundo, humano.
sorte a minha por um lado,
por outro,
azar dessas mulheres, tantas, mas tantas,
sem sexo bom, sem afeto que se banque, 
sem esse toque humano tão bom tão bom.

domingo, maio 27, 2012

martelo

Pegou um punhado de sal misturado com areia molhada, sentiu na língua o calor modorrento, esfregou o monte na pele pele, se desfazendo aos poucos. A pele morena, curtida, ficando mais forte, mais fraca, mais linda, com esse bruto contato. Passou a língua na pedra redonda e lisa do lado da arrebentação. Deixou o sol arder os olhos com uma resistência cã. Sentiu os cheiros dos cozidos que mulheres faziam protegidas na sombra molhada. Era todo agressivas sensações. Mordia o sal de todas as coisas. E sorria, sorria.

domingo, maio 20, 2012

gin

eu queria ter esse seu cheiro de  fumaça
no lugar exato onde se sente
entre a nuca, pescoço, ombros,
no ouvido sussurrar silêncios.

quinta-feira, maio 17, 2012

asco

eu tenho nojo da respiração de algumas pessoas.
eu tenho nojo delas comendo,
com ânsia,
os olhos esbugalhados,
as narinas infladas.
nojo dos sons guturais.
nojo do animal sincero e grotesco que vive dentro delas.
acho vulgar,
tenho vontade de gritar.
eu tenho nojo do jeito que elas não conseguem não respirar forte
denunciando a besta que são.

quarta-feira, maio 16, 2012

tzu

no começo era por educação.
por um senso estético do convívio social que eu deslizava pelas palavras.
esse animal peludo e úmido, escorrendo pela minha garganta, se confundindo entre os meus dedos,
se escondendo nos cabelos finos da nuca.
eu não queria fazer isso. mas eu precisei. para fazer eles felizes.
eu lembro como você se encaixou suave no osso difícil da omoplata quando não soube que mais uma vez eu havia corroído nossas bordas.
foi para tentar te alcançar nessa simplicidade que eu me inventei castanha, com olhos de jabuticaba.
o bicho me encarinhava com seus calos plásticos.
passava as falanges nos meus lábios quando era para silenciar,
soprava indecências constantes nos meus ouvidos.
eu passei a levá-lo para todos os lados.
escondido nas cavernas do meu corpo e do meu pensamento.
agora que o afasto com os dedos você há de entender e perdoar,
a ternura castanha, peluda e úmida
de toda mentira.

segunda-feira, maio 14, 2012

re

Eu acordei, 
porque todo dia eu acordava.
Disse bom dia, 
e mais nada.

Voltei para casa, 
nunca fui eu mesma.
Fui dormir, 
esqueci a dor acesa.

domingo, maio 13, 2012

alcatéia

no meio do olho do lobo que sou
a fome carnívora,
cravando os dentes
nas réstias de madeira.

no meio do olho do lobo que sou
vivo.
adorando presas
que não prendem.

domingo, maio 06, 2012

areia

Eu esperei que chamassem os meninos, enquanto o tempo passava por entre as pedras difíceis. Eu esperei alinhando os copos. Eu esperei alimentando-a pelos tubos que saiam da garganta. Eu esperei nomeando os cachorros que latiam sem parar onde não podiam ser vistos. Eu esperei separando com o labor delicado do agricultor os timbres de cada latido súbito que invadia a casa. Eu esperei observando o movimento contínuo e determinado da hera por sob o cal. Eu esperei em cada fundo de garrafa alcançado, e a cada copo. Eu esperei esquecendo o que eram nomes, o que eram números, e chamando a ela de catorze (infinita). Eu esperei sentindo fome, esquecendo o que era a fome, por dias, jogados no quarto como as folhas em branco e as folhas escritas. Eu esperei como o céu tocando o rosto dela e fazendo cores inesperadas e vulgares. Eu esperei que chamassem, mesmo que não acreditasse mais que houvessem vozes para o fazer. Eu esperei, sem acreditar que os meninos viriam. Eu esperei, sabendo que eles já eram velhos, gastos e puídos. Os meninos. Eu esperei por muito tempo já sem esperar. E quando terminei, vi a casa pronta. Cada grão no seu lugar. Nesse instante deitado no próprio tempo, pude partir, como quem sabe de cor as listras de um tigre.

leopardo

Sentou-se apressado no lugar de sempre. Sua nuca doia, tinha dores na bacia. O homem trouxe os dois copos opacos e a ampola. Engoliu suave o gosto do vento comprimido entre as janelas. Esperou o vôo.
Algo entre as costelas ficara preso, sentia. Sabia. Que dentro instantes, se a situação não se revertesse, ele se ausentaria da cadeira, do veludo suave e bem vermelho, da tranquilidade do piso de taco. Sentiu o gosto nauseado de talco nas virilhas. Repetiu as palavras costumeiras. O homem tocou suave os seus ombros, com os dedos em pinça. Ele sabia o que estava acontecendo. Ele abriu os olhos do outro. Os olhos iam saltando em verde. Amolecendo com a umidade e quentura espontânea da língua que invadia, serena. Aos poucos iam saltando pequenos veios, pintas, tintas-pele. Aos poucos  os seus olhos profundamente verdes, e o seu corpo leitoso, denso, bruto. Seu corpo de leopardo.

terça-feira, maio 01, 2012

fogueira das vaidades

parecia uma ideia fazer uma fogueira numa praça. estava frio e dificilmente o fogo no meio dos corpos das garrafas das vontades pareceria poder aquecer. a escada. a luz distanteperto flutuando as sombras de todos nós no semiúmido da grama. a menina pensada vagamente estava na praia, e ligava intermitente, bobagens como drinks, amigos, quiçá estrelas.
como se desenrolam preguiçosos os intuitos, a noite seguiu. o frio se aglomerando perto do nosso calor. cachaças bastando, violão, um pouco de aparência, bem pouco de amor. 
eu te vi ali. fui sentar do seu lado, ou você do meu. de longe nos olhávamos bruto. você era a menina louca, ninfomaníaca, marciana, amparada por coxas fortes prestes a abrir. eu era do violão, falante, eloquente, experiente, reluzindo pelos olhos virados. quando você sentou do meu lado nós não falamos nada. acho que já sabíamos que éramos uma fraude.
eu fui embora falando falando besteiras. você ficou extirada sobre os braços de um menino meninez.
na outra noite você me infiltrava com o olhar denso. eu ria ria falava. tocava, bebia. aquele dia com uma aura neblina. dias assim. de confiar em tudo. sentei do seu lado e aí a menina louca encontrou a eloquente da malandragem. e então a sua mulher delicada delicada encontrou a minha mulher delicada delicada.
acho que eu nunca mais consegui fingir pra mim mesma. quiçá você também não.

segunda-feira, abril 30, 2012

A

a mão estica os músculos sutis alcançando
o que o estômago não pode mais suportar.
a mão contínua em cima da toalha cor de ocre.
o vinho se move abrupto dentro da taça
e os olhos riem em uma órbita impassível.

os olhos sabem da mentira,
e principalmente do desespero,
da mão
que não consegue ficar no lugar.

ao primeiro gole
a garganta desagradece
e o estômago recorda antigas mágoas.

as mãos se movem
deslimitadas
tingindo os dentes de púrpura
e a barriga de fome e sica.

os olhos já nem ligam
riem
riem envaidecidos
e ministram infinitas promessas.

trêmula,
a mão alcança o colo,
tenta o descanso,
descaso.

os olhos temem a fraude.
tentam te examinar
enquanto você também me olha.

os olhos
tentam substituir com brilho,
com o movimentar incessante das mãos
e das palavras,
a ausência sólida e abrupta
do olho,
e de outras taças.

sábado, abril 28, 2012

casa 12

a água me cobre os fios. nada me afoga, 
no território do dodecaedro eu sou peixe. respiro vacilantemente bem, esperando que os seres de outras naturezas possam me acompanhar. esse vidro riscado do lado de dentro da sombra brilha as luzes das frestas por onde podem sair para os olhos, onde digo coisas que aparentemente fazem sentido. 
carrego sem mantos um mar no peito, um ar na língua. 
sou, sem espanto, essa cachaça aguada, 
aprendendo a línguagem desses bichos estranhos e homens.

quarta-feira, abril 25, 2012

terra

a poesia lança a palavra
em potência tão extrema,
que quase podemos ouvir o seu silêncio.

domingo, abril 22, 2012

bobagem


e eu querendo rir,
rir imenso.

abrir um vinho que há de restar
na boa vontade
de fazer coisas outras.

vento

Eu lembro quando você olhava para mim com olhos famintos.
Sempre assim. Eu fingia que era essa outra pessoa que na verdade sou. Andava olhando fundo nos seus olhos, e mudava repentinamente de direção. Você era uma menina. Ou era assim que eu te imaginava. Para conseguir ser a mulher, ou o homem, que tudo entenderia. Você era pequena, e talvez achasse cachaça da minha loucura. Eu nunca realmente achei que era louca, embora, depois, quando você se tornou uma mulher,  tenha me dito tantas vezes, insistentemente.
Talvez você tenha achado isso por ser a menina que eu sempre suspeitei em você.
Ou Talvez eu seja a louca que você sempre imaginou de mim.

De longe bate o vento, te vejo entre dedos, longe longe,
tudo mudou,
eu a menina, você a louca.

terça-feira, abril 17, 2012

netuno

Volto às palavras um pouco,
para esse universo úmido e quente.
Volto como quem pede desculpas,
com as mãos embotadas de imagens,
de temperos e suores.
Volto como quem diz que daqui nunca saiu,
nunca deixou esse quarto escuro e acolhedor
uma certa melancolia.
Volto como quem vive
olhando o mundo da janela,
fotografias em movimento.
Volto para a água
como quem da água veio.
Submergindo no mar de netuno
como quem não tem medo,
como quem já não é homem ou mulher,
como já não ter mais desejo
só vontade.

noite

janela aberta
deixa o ar entrar
deixa a noite entrar
ronronando negra negra deitada no meu colo,
dengosa, porém indócil.


segunda-feira, abril 16, 2012

'

amor,
a mando,
mando,
uma resposta,
uma pergunta,
uma viagem,
de raspão.
no chão,
que arde e coça,
não pergunte,
só me ame,
amor,
não reclame,
deixa eu deixo,
passar a mão.

sábado, abril 14, 2012

K

as luzes fracas
ninguém suspeita
produzem mais calor.

maça

o que se encanta
é a possibilidade de ser ingênua.

Pura bem pura.
Como no começo ou da vida
ou no fim.

num beijo alcançar esse extremo
sem preconceito
como as crianças,
com imensidão,
como os velhinhos.

cachoeira

é estranho sentir o meu pé flutuando entre
a estranha água que agora invade
todo meu corpo e aguarda
a hora do movimento.

antes, na terra e no vento.
eu sentia cada vértebra entregue
a calma sabedoria de estar em pé.

tenho medo de cair
e temo esse contato.

mas em verdade flutuo,
como quem cansa de pensar
olhando tudo de uma certa distância.

há de ter mergulho
profundo
sem medo de respirar.


sexta-feira, abril 13, 2012

pintassilgo

Se eu fosse escolher qualquer coisa eu escolheria a cor azul.
Pra Essa falésia, esse luxo, esse abismo.

desejo mais sincero
chegar ao coração das coisas.
e não mentir.

eu quero sentir,
deitada deliciosamente sobre todos os momentos.
sentir a dor na hora da dor
e o prazer na hora do prazer.

eu quero sentir saudades menos na hora de ir embora
e mais
olhando os passarinhos comendo laranja.

lembrando da sua cara de passarinho.

eu quero o mais denso da fenomenologia.
o silêncio por tras das palavras.
a escuridão atras da retina.
a alma escondida nos seus dedos compridos.

sexta-feira, abril 06, 2012

estação consolação

e quando você não quer admitir que tem saudades,
saudades já,
logo depois que a pessoa deixou o vagão de metro
e te deixou lá, quase nua, boba, vagando sozinha rumo a estação vila madalena.
e tem algo que grita, talvez o braço, talvez o pelo,
que o mundo inteiro tá indo na direção errada.


é difícil admitir sentir.
sair dessa cara de fácil segurança,
e partir pros canyons partidos em parte por você mesma.

difícil as vezes mesmo sorrir,
sorrir bonito,
sorrir só dentes,
sorrir te convencer que se a vida é bonita
pode ser que seja ainda mais
aqui dentro.

acho que o difícil de sorrir não é te convencer não.
acho que é por isso que te acho tão bonita.
é que você se convence
facilmente
nem precisa sorrir.

é difícil sorrir por que vai ver que eu acredito.

terça-feira, março 27, 2012

para uma querida amiga

tem algo que não se aquieta.
esse bicho silencioso. sem gosto.
esse ácido sulfúrico,
esse nojo.
no fundo da garganta,

no fundo do osso.

espero passar a dor mais densa,
in-censo.

espero,
imenso
o mar brotar
do pântano.

quarta-feira, março 21, 2012

açucar candi

Eu lembro de você como a doença mais doce.

domingo, março 11, 2012

Holga

A imagem repetia, repetia em versos, cores estranhas, textura. Imagem repetida de um som. Som repetido de um pensamento. Pensamento emocional. Sensação.
Assim, no fundo da sua cabeça, era perceptível o abismo. E era muito pouco.
Ralo o temperamento, o pó era fino. Arestas macias confirmadas, testes hetorogeneos,
nada como antes. Persistia o nó abismal das feridas abertas.
A imagem repetia, repetia em versos, cores estranhas, textura. Imagem repetida de um som. Som repetido de um pensamento. Pensamento emocional. Sensação.

segunda-feira, março 05, 2012

velvet

é proibido, ou muito difícil, encarar esse rosto. deixar a voz soar, pelas paredes, em cada degrau, na fruta de cada cacho, no sol derrubado pelo chão. os cristais podem quebrar, e eu não sei consertar.
quando a voz chega não há mais nada que se possa fazer. atinge o botão, atinge a direita extrema, atinge o local quente e extremamente escuro. uma vez lá não há nada que se possa fazer. a não ser esperar. algo. amanhã. depois de amanhã. esperar que a voz volte. esperar algo da voz. esperar que o som acabe, e voltar mais uma vez a repudiada paz.

quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Melina

O pé tocava o chão liso, extremamente liso, num compasso desnorteado pelo cabide de levar soro, a ser carregado como um amigo desconfortável, uma péssima lembrança. As portas se repetiam em cores ritmadas, trincos abertos, intimidades escancaradas. Eu vi a gorda de verde comendo a bolachinha doce que dão aos doentes. Eu vi a fisioterapeuta utilizando a alegria como murodesilusão. E os seus passos, se confundindo com o chão verde esmeralda liso e fácil de limpar.

Você andava para algum lugar que infundisse a coragem nos seus orgãos.

O número da sua porta era 510. Apenas mais um número, azul, largo, vasto, destrancado. E era preciso caminhar, com as meias apertadas até acima dos joelhos, o soro encoleirado, a certeza de ir para nenhum lugar.

No fim do corredor havia um vitral. Os pedaços de vidro tentavam restituir duas mãos unidas em prece, os amarelos escuros ou mais claros ocultando a cidade muito mais cínica por trás. As unhas da mão cristã pareciam roídas.

Acho que você não reparou nas unhas. Estava preocupado em continuar. Infinitamente. A medida que caminhávamos nesse passo hesitante os enfermeiros e suas mesas móveis abriam caminho, e se eu soltasse frases como se for desmaiar avisa, sorriam, comovidos com a ternura difícil dos hospitais.

Quando chegamos novamente ao fim do corredor, você, corajoso como o homem que lembrava ser fora daqueles corredores circulares, decidiu trespassar a porta grande e mais larga. Como se fosse possível crer que não iria desmaiar, necessitando da ajuda do(s) enfermeiro(s) mais próximos para não abrir os pontos recém feitos.

Domínio repleto, você atravessou as portas com segurança, apesar do vacilante balanço das puídas rodinhas do cabideiro de soro.

Embora as portas fossem azuis, os quartos nus entrevistos eram diferentes. As camas eram menores. O ar parecia um pouco menos rarefeito. E ninguém passava no corredor. Andávamos juntos, lentos, embebidos naquele novo ar branco e puro. Andamos até o final, e voltamos pelo mesmo caminho.

Algumas portas tinham fechaduras diferentes, similares desigualdades, miragens dentro de um mesmo labirinto. E então, algo realmente diferente enquanto você reclamava da pulsão no braço. O quadro. Moldura tridimensional pendurada numa porta azul, quase igual. Era um quadro com objetos em miniaturas, como um quarto, como quadro do quarto do Van Gogh. Viam-se livros ordenados numa estante, brinquedos sob um baú, uma cama, bonita, pequena, feita de madeira. Em cima de uma cadeira de palhinha havia uma boneca meio caída, e no meio do quarto de miniatura, fantasticamente flutuando, um nome - Melina.

Minha mão sofreu do espasmo súbito da curiosidade. Contive-a antes do constrangimento e do erro. Minha mão não abriria aquela porta, muito embora ela certamente estivesse destrancada. O medo a trancava. Comia por dentro a hipótese de que Melina só tivesse aquela pequena miniatura como recordação de como é ter quarto quente, seu. Esse era o ar adstringente.

Pior, muito pior, era imaginar que ela estivesse lá há tempo suficiente para ter um quarto pessoal e íntimo, um quarto com seus afetos infantis. Um quarto, por exemplo, com um quadro emoldurado em miniatura em que seu nome flutuasse, flutuasse sobre todas as coisas.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

luvas

rapidamente,
você olha meus dedos e desenha esboços.
constrói com tecidos sulcados, brochuras e brocados
as luvas que imagina.

já te adianto que minhas mãos são menos,
ou mais,
da imagem até linda que me faz.

bobagem essa.
deixa minhas mãos livres,
a pele da palma sabe a outras peles.
é firme o tato do contacto,
requer ausência de plano e de pano.

para alcançar o cerne violento
da delicadez.
nua, a mão requer que seja.
para tornar crua
a tez.


quinta-feira, fevereiro 09, 2012

golpe de vento

não sei bem por qual porta você entrou, se foi na hora daquele calor insuportável das 5 da tarde, que eu abri bem as janelas e você estava lá, escancaradamente lá, precisa como um golpe de vento.
eu nem percebi como e você estava no sofá me olhando com olhos grandes, sem falar nada, sem pedir nada, graças. mas sua mão era tão quente. e eu tive que te contar do meu dia, e você falou do seu, e eu senti um sabor de alecrim passear na corrente de ar.
no começo tava tão bonito, você ali, me esperando do trabalho, com seu sorriso sem sorrir, que eu não queria nada mais. aí eu fui inventar de cozinhar para você, e fazer círculos concêntricos nos nós das suas costas, e ficar vendo aquela covinha ali, aquele lugar que os dentes se separavam mais um pouco, o cheiro que ficava no travesseiro quando você acordava, e inusitado como um golpe de vento eu vi que eu queria mais.
e você também queria. e desse cheiro estranho e forte de duas pessoas que convivem com certo grau de amor, foram brotando flores, foram brotando luzes baixas, jazz'es bem compostos numa quinta feira a noite. e de repente viver foi como colocar canela no molho de tomate. e foram brotando alegrias, escondidas no canto da sala, e tava tudo tão amarelo leve que até as formigas apareceram para ver o que tava acontecendo. e foram brotando sorrisos, e foram brotando cidades. e inesperado como um golpe de vento a gente saiu voando pela janela.
até hoje, enquanto flutuamos distantes nas galáxias, olhando os pontinhos minúsculos eternas estrelas, eu me pergunto, como é que foi que você entrou na minha casa.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

bicho

corta uma cebola.
arde, mas vale a pena. sempre.
e uma cebola inteira, sabor forte, sem moleza.
alho também.
nada desse papo chines de separar os intuitos,
aqui é como a vida,
cebola e alho.
já começa a cheirar,
tá sentindo?
quando eu corto alho esfrego bem os dedos
e eles ficam cheirando a flor,
hibisco para não poder mentir.
refoga no oléo,
que usar azeite é que nem declamar poema na hora errada (quase todas),
satura e dá quase um amargor.
oléo que é como a vida.
gorduroso, necessário.
agora é a parte difícil.
presta atenção que eu não vou repetir.
conjunção difícil de firmeza e ternura,
despeje os pedaços de alcatra na panela,
em temperatura alta
deixe que os dois lados se afetem pelo calor.
na carne não existem partes,
existe todo.
você acha que cachaça é mulher ou homem?
eu acho que é mulher.
alecrim é homem.
sal.
é os dois. juntos.
shoyu,
água é avó.
farinha
é combustível.
mexe bem, cheira. dá tempo. relaxa.
deixa o bicho entrar.
deixa.
abre os braços, as pernas,
espera sem esperar.
uma hora vai tar lá,
e não foi você que fez.


segunda-feira, fevereiro 06, 2012

domingo

toda noite profundamente noite profusamente escura.
o céu chama distante, o mar respira,
aqui o ar falta.
seca a carne,
embora viva.
haja licor para expurgar os pequenos vermes das ideias.
as histórias bonitas chegam em roda,
o calor aquece a frente,
a verdade esfria as costas.
tão difícil andar de pés descalços nessa cidade,
a areia é limpa,
o asfalto sujo.
máscara máscara - caveira.
muita gente estupida
mas muita alegria.

domingo, janeiro 29, 2012

marilene

"O pênis, tão logo cortado com o aço
atirado do continente no undoso mar,
aí muito boiou na planície, ao redor branca espuma da imortal carne ejaculava-se, dela
uma virgem criou-se. [...] Ela. Afrodite."

Hesíodo - A teogonia


Se a espuma do mar é a porra de um velho (deus sim, mas velho) o que serão as perólas? Será o ponto exato, o epicentro do prazer radial, o cintilante Carnaval? Da ostra não comem-se as sólidas bordas e a pérola.

O grego, antes de tudo um homem, antes de tudo um bruto, escolheu a espuma do mar como hoje se escolhem os filmes. A espuma do mar úmida Marilyn Monroe, criada da porra de um deus decadente, obsessivo, tarado. Filha transversa do Céu que não parava um minuto de comer a Terra. Urano Zé Celso, com um pouco menos de caráter.

Quando Marilene me chama para jantar, vejo profunda sua melancolia, girando lentamente na taça de Negrone. Quando me ofereço para amparar suas coxas com a destreza de um garçon, ela lança seu sorriso piedoso e neutraliza-me com seus lábios de madre-pérola. A ostra me imobiliza. Eu e minhas maneiras parasitas. Nada prospera na deliciosa contenção da ostra. E quando, bandeirante aguardente, enfim arrisco sua casca, muitas vezes perco-me no devaneio da pérola, esquecendo a carne mole e translúcida. Eu gosto das pérolas, por que elas trazem cores aos olhos. Entre as tetas formidáveis de Marilene as preteri.

Se a pérola é a corda luminosa lançada para nos afogar no encanto incautelável da luxuria, a carne rude da ostra é cruamente a coisa em si. Ofuscada pela pérola, toda ostra espera ser comida com pouco ou muito limão.


terça-feira, janeiro 24, 2012

bromélia

Ela era do tipo que lia três páginas por noite. Incisivamente. Assertivamente. A dislexia regressiva, patologia comum que consiste na repetição de uma linha a cada três, se dispersava ante seu profundo esforço meditativo. Esforço que durava exatamente três páginas.
Quando a última palavra era deglutida, ela deitava-se na cama rodando em libertinagens higiênicas, ligando os nódulos do teto às magníficas constelações dos livros. Pairando entre os cheiros, segurando as torrentes nos dedos, era difícil cair no sono (armadilha). Ao invés disso, tinha o anti-sono, primitiva aventura amparada pela luz amarela do quarto, e por essa torrente estática, o anti-pensamento.
Perscrutava entre os cílios a matéria distante dos sonhos, o difícil barro dos livros, o éter esparso das outras dimensões. Difuso e concentrado, o ponto em que se conjugavam todas as coisas. Depois da primeira curva, somente quando não pudesse mais fixar o tempo, lhe eram então permitidas essas visões, o deslumbre de um tempo sem tempo. Era assim, somente quando acometida da loucura de ver todas as coisas, que o sono a recolhia. Todos os dias havia de viver como Prometeu. Não recordar era o preço pago para voltar, sem que o aleph a fulminasse como o primeiro ser frente ao primeiro sol.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

afinidade

quando você fala,
meus harmônicos ressoam.

sábado, janeiro 21, 2012

a camille claudel





eu também já fui lobo.
amanhecendo sobre os moldes de gesso destruídos pela fobia.
eu também já entrei nos vaus para roubar barro verde.
já me embrenhei nos vaõs da barba,
no comprimento da barba,
no cheiro da barba.
eu também já enlouqueci.
perdi o chão do olhar,
pelo desgosto, desilusão,
uma ancestral sensação desamor.
eu também já fui mulher,
e soube ter a coragem de trabalhar com barro.

o selvagem belo,
a coragem à dentadas,
e o incontrolável medo.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

a camisa colorida que cobria

os dedos sujaram-se em dúvida
no pó ralo que sobrou em cima da mesa.

nas espáduas o sopro de talco,
a baforada quente, o som, o pré, o pan.

das mornas noites músculos elásticos escalando as paredes da ocasião,
em manhãs a sombra clara no olfato.

a poeira seca dos livros abandonados,
lidos em alturas indecifráveis no jardim da casa.

do tempo fina a areia,
prova concreta,
em cima do tampo da mesa.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

fora SOPA/PIPA

mal entendidoS PROTESTS THE PROTECT IP ACT

Many websites are blacked out today to protest proposed U.S. legislation that threatens internet freedom: the Stop Internet Piracy Act (SOPA) and the Protect IP Act (PIPA). From personal blogs to giants like WordPress and Wikipedia, sites all over the web — including this one — are asking you tohelp stop this dangerous legislation from being passed. Please watch the video below to learn how this legislation will affect internet freedom, then scroll down to take action.

LEARN MORE

TAKE ACTION:
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