sábado, novembro 01, 2014

enquanto você falava mil palavras
o amor me distraiu:
caiu uma estrela na minha sopa.

sexta-feira, outubro 31, 2014

a tristeza hoje me tirou para dançar
como quem pendura um cabide na porta
e sai para nunca mais voltar.

quinta-feira, outubro 30, 2014

mulher o que é

que mulher seja tudo:
em ventania
não existe direção.

ou não seja alguma coisa:
ar parado
não se pega com a mão.

se mulher é algo
eu sei,
mulher no mar
é contramão.

sexta-feira, outubro 24, 2014

parada

meu sangue arde parado em qualquer esquina do meu corpo
formiga grita queima
meu pé esquerdo parece um peixe morto

meu direito respira.

quarta-feira, outubro 22, 2014

quinto metatarso

O vento aconselha com suas patas de ar,
Sussurra (cem) palavras no meu ouvido
O meu osso
Me olha discretamente

Acha voar tolice.

segunda-feira, outubro 20, 2014

xerez

As vezes no silêncio me esqueço de você.
A escuridão entra por todas as frestas da sala.
Meu coração sentado na poltrona
espreme flores e bebidas fortes.

sábado, agosto 02, 2014

pássaros e outras bestas


vôo.
depois do calor súbito que dá
a ausência de vento sobre a pele
a sua carne me inunda uma tristeza.
de longe te vejo
outras alegrias
e a minha nossa alegria
virando um pássaro pequeno
e apequenando
pequenando
até virar sósonho.

domingo, junho 29, 2014

minha alma sempre voou pelo extase,
nas ondas de uma paixão dilacerante,
das alteridades dos estados,
nas praias impossíveis desse brasil.

agora está com saudades
desse vôo calmo que aprendeu,
distinguindo as alturas,
voar sem perder o pé.

terça-feira, maio 20, 2014

nascente

mentiras esculpidas no seio da saudade,
são suas idiossincrasias que vem me saudar.
do longe  fomento essa solidão repleta
com fatos delicados costurados em linha branca.

ficções e outras prosas corrompem
o fio infame da verdade
porém inflam de ar quente
o ventre tardio do querer.

e se no meio da tarde
rompe
a linha tenue
que desenhei
entre eu e você
e me entrega
embrulhados
os fatos todos inventados
em papel jornal
ai o amor desabrocha
como a água explode
de dentro da terra
sem avisar ninguém.

quarta-feira, maio 07, 2014

frieza

o gelo bem fino que se rompe se parece com vidro,
mas corta de frio e não de ponta.
o gelo que vira água
e escorre pelo seu corpo que é quente,
seu corpo que muda,
mas que é sempre mais quente que o gelo,
mesmo triste,
mesmo louco.

o gelo que dói a pele.
o gelo que emprazera o calor.
o gelo na sua bebida.
o gelo entre nós.
derretendo.
nas nossas peles quentes.
sempre mais quentes que o gelo.
mas sempre a derreter.
como se também o frio fosse infinito.
e nós duas estivessemos para sempre presas
nessa geleira escaldante, desértica, infernal.

terça-feira, abril 29, 2014

gêneros

mulher,
a delicadeza da terra se abre na chuva,
e o prazer dilacerante
de ser semeado.

mulher é coisa subversiva. é calma onde a lingua é fúria. é tufão onde o acordo é tácito.
mulher é charme indivisivel, sutileza de éolo em cabelo,
praia lunar do corpo nu.

mulher é saudades de todas mulheres.
pois mulher é coisa inapreensível.
pertence somente a si mesma.

homem é certeza calma.
é tronco de árvore
não é a água que brota do chão (mulher)
mas é as folhas que nela navega.

ser mulher é uma questão de poesia,
não de corpo.
ser -se homem é questão de alegria,
contemplação da mulher,
e de outras prosas poéticas.




segunda-feira, abril 14, 2014

leviatã

quem me avisou foi ele.
a noite pingava as horas gota por gota na minha xícara de café
e ele precisou gritar para que eu entendesse.
graças a deus o dia começar a nascer
e essa é sempre uma prova,
por mais estranho que tudo esteja,
que as coisas estão sempre preparadas para mudar.
ele gritou meu nome em ondas de tinta.
verde e violeta escuro.
eu não cheguei a entender
quando ele começou a vomitar
os contornos,
as hachuras,
as texturas.
ele disse calma e simplesmente que talvez não fosse o suficiente.

eu não chorei.
essa época eu já não chorava mais.
aguentava estoica as poucas certezas da vida.
as certezas dificeis.
eu não lembro direito o que eu fiz.
acho que gritei para ela vai a merda.
gritei pela mediocridade do seu corpo nesse mundo.
pela dança pouca merda que ela propunha naquela noite sem sal nem frio.

ele me compreendeu.
o pior é que sempre me compreendia.
no mar da total incompreensão partimos.
ainda não sei para onde.

o mar causa nausea.
apaga o fogo discreto de qualquer esperança.
ele sequer pega minha mão.
diz que pode cultivar receios.
de mim ele espera coragem de aço.
e eu tento entregar.
não sei se estamos a caça de um leviatã.

a embarcação parece ébria.
e espero.

sos

Domingo  a noite. Suspeito pra falar. Domingo é um dia que nasceu sem testa. Um dia esquisito. Que não segue as regras desse mundo besta em que tudo é dever ou prazer. Domingo não é nada disso. E a negada fica perdida. Hoje acordei meio na desilusão. Sensação de que as coisas em que acredito vão morrendo devagarinho. Brutal mesmo. Como um gato preso dentro de uma casa em que a água e a comida estão pra acabar.
Inspiro um ar cheio de uma coragem que invento, e adianta. Pouco, mas adianta.
Eu acredito na coragem. Na honestidade. Na tentativa. Eu acredito na alegria. Sem duvida. Acredito no amor. Acredito que tem um fluxo suave e gentil capaz de levar tudo e todos para um lugar bacana.
Acredito que ser verdadeiro sempre vale a pena.

Não tem valido. Pelo menos é o que me parece. Talvez seja a longo. Mas longuissímo mesmo prazo. Por que por enquanto, nada. Muitos babacas pegando o atalho. Muitas respostas a pequenas sinceridades com arrotos de mesquinharia. E eu, sei lá. Me sentindo perfeitamente sozinha aqui no meio dessa multidão. Na verdade acho que sempre me senti. Foram com poucas pessoas na minha vida que me senti em casa. Dez. Por aí.

To meio dessa descrença total fico esperando qualquer ruído, qualquer luz intermitente. Qualquer zumbido que possa denunciar hippies loucos, ets, galera do futuro. Qualquer pessoal mais bacana que possa vir aqui me resgatar.


terça-feira, abril 01, 2014

um homem com uma dor....

uma dor que existe penso que existe. porque existindo doi. e então se doi. é por que existe.
uma dor que existe não é libertação.
libertação é uma dor ir deixando de existir.
mas toda dor por ter sido dor continua existindo um pouquinho.
ou toda dor por ter fim
também é um pouco uma dor não existente.

uma dor sente-se onde?
no corpo.
principalmente.
mas também em outros lugares.
acredito em tudo a principio.

essa dor doi no timo.
mas reflete na barriga.
dá choque antes da dor doer.
e parece que meu corpo gira que nem um saca rolha.

acho que a rolha que sai é a minha vida comum
que não deixa a dor doer.
por que deixar dor doendo é coisa de gente besta meu deus.

podia sair vinho.
mas não sai.
fica saindo uma angustiazinha.
uma tristeza.
um negocinho cinza
e não sei o que fazer com ele.

a raiva eu acalmo.
não tem nada que ver.
a tristeza eu remedio.
a dor eu passo.

eu passo por ela,
mas ela não passa por mim.
se esconde.

e a cada terceira quarta feira do mês explode nas minhas mãos.

acho que todo mundo doi.
deve ser.

mas vamos deixar isso pra lá.

sábado, março 01, 2014

aprendendo

faz tempo que a musica ressoou
no fundo da minha caverna
como quem instaura grama e azulejos
de um cinza parcimonioso instalado na parede.

você que fez da minha vida um muro de grafite,
e eu,
que te dei essa concesão
para esse ato de amor,
para essa invasão.

e agora,
a cidade que escorre cinza por volta de mim,
pedindo,
mas com cuidado,
um pouco de cor.
não é o só o outro que me pinta.
sou eu que existo.

domingo, fevereiro 16, 2014

heras



da nossa vida eu não sinto falta.
mas não sei por que
ainda sinto falta
de você.

ali

sei da ausencia,
perfeitamente.
decorei esse estado
entre todos meus dentes.

anseio a presença
como uma adolescente.
como algo em mim
que quer persistir tola
e improvável.

nesses tempos de secura e maturidade,
o gosto torto do amor,
vem desamparar as certezas.

sábado, fevereiro 15, 2014

pela nudez de todas as coisas.

na hora agá viu que não existia hora agá. e aí com a tomada na mão, os três fios coloridos e aquela desesperança adestrada que só se vê nas grandes cidades.
nenhum mar vinha mordiscar seus dedos,
nenhum bicho atazanar sua pele,
nenhuma surpresa.

esse comichão suave que tomava seu coração.
não sabia se era os efeitos retardatários da droga de ontem
ou alguma espécie de saudades.

se porventura anotava um telefone num papel,
no primeiro deslize suas mãos o trituravam,
distraidamente.

ali onde gosto nenhum chegava,
uma certa ânsia por refrescos tópicos.
gim, sexo, açucar, narcisismo.

naquele lugar
praia nenhuma inventada paz.
o murmurio constante dos carros na rua
fingiam algum tipo de coêrencia.

os cartões de crédito ou débito
a nova invenção do marketing
o branco mais branco.

a estupidez proliferava,
cada vez mais parecida com o silêncio.
ninguém ouvia mais nada.

no meio do desespero era dificil sentir o desespero
no meio do desespero era dificil sentir 
no meio do desespero era dificil 
no meio do desespero 
no meio 
nu.






domingo, fevereiro 02, 2014

nilo

(egito que me pareceu uma boa palavra pra começar um texto. eu, que já me perdi, não vou me comprometer a escrever um texto. escolher palavra por palavra, ou só soltar a mão enquanto quase pensa,)

como dançar e é tão dificil dançar
e deixar uma mão avulsa talvez morena
conduzir seu corpo sem jeito.

a mão. tento a adivinhar entre minhas costelas.
de vez em quando a perco. não sinto.

(se é pra ser astrologa curandeira no meio de muito mato
ou estudar o labirinto da historia numa cidade espanhola
ou ainda voar nas vertigens do capital na cidade do capital.
vou para bahia.
lá, entre águas bem claras, companhias e algas marinhas
talvez essa mão que anda meio mole
assuma essa dança.)

o mundo é tanto,
e minha vontade tão pouca.
fica uma saudades
ocre,
viva,
no fundo da garganta.

aproximo aproximo lentamente.
como quem tateia sons no meio da mata.
aproximo sem saber de quem ou que.
na espera de que ali no além tenha o algo
que sequer eu sei precisar querer.

e quero.
e vivo.
e a vida imensa chega mansinho sobre meus pés.
ou come minha cara como uma pantera.

foda-se.
vou terminar esse texto como comecei.
num descompromisso necessário
com qualquer coisa que não seja oceano.

terça-feira, janeiro 28, 2014

lago



Depois do jantar, com o beiços engordurados, abriu o envelope. As fotos caíram escancaradas. Nada ali era óbvio. O recorte do ombro revelava antigos desenhos. A lembrança de uma nuvem que passou rápido demais. Uma pinta no nariz desdobrava todo um mapa complexo do seu corpo, constelações infinitas, estrelas sem nome. Nada ali era óbvio. Ali não havia o que da mulher sucita sua besta fera. Ali a maldade era maior. O seu cabelo caindo a direita mexia nos torrilhões do dentro de dentro. A beleza dela movia sua escuridão mais bem guardada.
Toda mulher antes de morrer deve ter sido muito boa e muito má. É importante que tenha cruzado esses caminhos. Todo homem antes de morrer tem que homenagear precisamente uma dessas mulheres.
O plano se traçou rapidamente em sua cabeça. Riu pateticamente do piano encostado num canto escuro. Riu da sua ingenuidade, riu da falta de fibra, da falta de horror que havia naquele instrumento. O som do piano era muito claro. Imaginou cartas, textos, meramente desenhou frases. Elas pareciam poucas. As palavras se tornaram opacas.
Ele então passou as mãos nas coxas. Dos joelhos em direção a barriga. Lentamente. Uma, duas. Três vezes. Ouviu o som do tecido sibilando. Sentiu o calor aflito do atrito na palma. Trocou o teso das pernas, pelo duro dos dedos.
Pegou a chave num átimo e partiu.
No número 349 ela já esperava por ele. Esperava vestida, guardando segredos. Esperava sutil, mansa. Esperava com suas pintas e os mil nomes ainda a ser dados, conquistados, devorados. Esperava como uma mulher boa, como uma mulher má, como uma mulher antes de morrer pode e deve esperar alguém.
Ele olhou profundamente para ela. Ele lançou seu olhar escuridão obscena do desejo, febre. Ele lançou seu olhar calor fluido do amor, temperatura. Ela recebeu tudo aquilo inteira. Soube se deixar abater sem cair. Ele começou a beijar ela ali mesmo. Não havia mais nada a ser feito. Essa seria sua última homenagem. Ele beijou com calma, porém voracidade. Pegou seu corpo com todas as palmas de todas as mãos, sem machucar. Ele conheceu a luminosidade estranha do plexo, o labirinto das costelas. Conheceu a calma furiosa dos cabelos. A delicadeza despudorada dos lóbulos. Se embrenhou nos dedos da mão. Fez da curva da coxa com a bunda uma esfinge. Trocou olhares com os joelhos. Percorreu a língua pela coluna, praia imensa, mar infinito. Sentiu seus dedos, seu corpo, seu eu, agora já sem nome, batendo água na areia, ritmo, chamando, chamando. Sentiu ela respondendo, terra, pulsar denso. Imagens vinham de todos os lugares da casa secundar os gritos, a lua gemia baixinho, o ar pesava suores.
Em algum momento tudo aquilo passou. A mulher viu o homem. Tocou seus ombros fortes que logo antes a amparavam. Olhou seu pau melancolicamente alegre. O seu suor na nuca. Ela olhou para aquele homem que pela primeira vez a transportara para esse antilugar em que estão ou estarão ou já estiveram, alguma vez, todas as mulheres do mundo. Ela olhou para ele e viu um menino. Ele já dormia. Imbuido de algum tipo de paz. Ela deu um beijo no seu entreolhos e fechou os seus próprios.    Enquanto dormia sonhou que era um lago. 

domingo, janeiro 26, 2014

veludo

me inundo
me inundo
me inundo
de um vazio

tudo grita
tudo grita
tudo grita
um silencio

eu olho
eu toco
existo
num aqui
estranho
e verde

silencio

as palavras que não escrevi nessa viagem me inundam.
enchem meus olhos de silêncio,
minhas mãos de quietude.

as palavras que vivi e não disse,
pensei que passariam por mim,
como o tempo passa,
assim como as coisas passam.

mas as palavras ficam.
como ficaram as pessoas,
as cores,
e os cheiros.

não em algo que lembro.
não em algo que falo.
não em algo que grito.
mas sim,
mas sempre,
no algo
que sou.