terça-feira, abril 29, 2014

gêneros

mulher,
a delicadeza da terra se abre na chuva,
e o prazer dilacerante
de ser semeado.

mulher é coisa subversiva. é calma onde a lingua é fúria. é tufão onde o acordo é tácito.
mulher é charme indivisivel, sutileza de éolo em cabelo,
praia lunar do corpo nu.

mulher é saudades de todas mulheres.
pois mulher é coisa inapreensível.
pertence somente a si mesma.

homem é certeza calma.
é tronco de árvore
não é a água que brota do chão (mulher)
mas é as folhas que nela navega.

ser mulher é uma questão de poesia,
não de corpo.
ser -se homem é questão de alegria,
contemplação da mulher,
e de outras prosas poéticas.




segunda-feira, abril 14, 2014

leviatã

quem me avisou foi ele.
a noite pingava as horas gota por gota na minha xícara de café
e ele precisou gritar para que eu entendesse.
graças a deus o dia começar a nascer
e essa é sempre uma prova,
por mais estranho que tudo esteja,
que as coisas estão sempre preparadas para mudar.
ele gritou meu nome em ondas de tinta.
verde e violeta escuro.
eu não cheguei a entender
quando ele começou a vomitar
os contornos,
as hachuras,
as texturas.
ele disse calma e simplesmente que talvez não fosse o suficiente.

eu não chorei.
essa época eu já não chorava mais.
aguentava estoica as poucas certezas da vida.
as certezas dificeis.
eu não lembro direito o que eu fiz.
acho que gritei para ela vai a merda.
gritei pela mediocridade do seu corpo nesse mundo.
pela dança pouca merda que ela propunha naquela noite sem sal nem frio.

ele me compreendeu.
o pior é que sempre me compreendia.
no mar da total incompreensão partimos.
ainda não sei para onde.

o mar causa nausea.
apaga o fogo discreto de qualquer esperança.
ele sequer pega minha mão.
diz que pode cultivar receios.
de mim ele espera coragem de aço.
e eu tento entregar.
não sei se estamos a caça de um leviatã.

a embarcação parece ébria.
e espero.

sos

Domingo  a noite. Suspeito pra falar. Domingo é um dia que nasceu sem testa. Um dia esquisito. Que não segue as regras desse mundo besta em que tudo é dever ou prazer. Domingo não é nada disso. E a negada fica perdida. Hoje acordei meio na desilusão. Sensação de que as coisas em que acredito vão morrendo devagarinho. Brutal mesmo. Como um gato preso dentro de uma casa em que a água e a comida estão pra acabar.
Inspiro um ar cheio de uma coragem que invento, e adianta. Pouco, mas adianta.
Eu acredito na coragem. Na honestidade. Na tentativa. Eu acredito na alegria. Sem duvida. Acredito no amor. Acredito que tem um fluxo suave e gentil capaz de levar tudo e todos para um lugar bacana.
Acredito que ser verdadeiro sempre vale a pena.

Não tem valido. Pelo menos é o que me parece. Talvez seja a longo. Mas longuissímo mesmo prazo. Por que por enquanto, nada. Muitos babacas pegando o atalho. Muitas respostas a pequenas sinceridades com arrotos de mesquinharia. E eu, sei lá. Me sentindo perfeitamente sozinha aqui no meio dessa multidão. Na verdade acho que sempre me senti. Foram com poucas pessoas na minha vida que me senti em casa. Dez. Por aí.

To meio dessa descrença total fico esperando qualquer ruído, qualquer luz intermitente. Qualquer zumbido que possa denunciar hippies loucos, ets, galera do futuro. Qualquer pessoal mais bacana que possa vir aqui me resgatar.


terça-feira, abril 01, 2014

um homem com uma dor....

uma dor que existe penso que existe. porque existindo doi. e então se doi. é por que existe.
uma dor que existe não é libertação.
libertação é uma dor ir deixando de existir.
mas toda dor por ter sido dor continua existindo um pouquinho.
ou toda dor por ter fim
também é um pouco uma dor não existente.

uma dor sente-se onde?
no corpo.
principalmente.
mas também em outros lugares.
acredito em tudo a principio.

essa dor doi no timo.
mas reflete na barriga.
dá choque antes da dor doer.
e parece que meu corpo gira que nem um saca rolha.

acho que a rolha que sai é a minha vida comum
que não deixa a dor doer.
por que deixar dor doendo é coisa de gente besta meu deus.

podia sair vinho.
mas não sai.
fica saindo uma angustiazinha.
uma tristeza.
um negocinho cinza
e não sei o que fazer com ele.

a raiva eu acalmo.
não tem nada que ver.
a tristeza eu remedio.
a dor eu passo.

eu passo por ela,
mas ela não passa por mim.
se esconde.

e a cada terceira quarta feira do mês explode nas minhas mãos.

acho que todo mundo doi.
deve ser.

mas vamos deixar isso pra lá.