sexta-feira, maio 30, 2008

punho

o corpo não é corpo,
porque oco,
não guarda no eco,
lembrança.

no entanto o punho,
persistente signo do contrário,
quando encosta no vidro frio,
causa abafo.

terça-feira, maio 27, 2008

quem te ensinou a nadar

pois tens as mãos descalças.
o mês olha a lua,
e a mulher.
o dia olha o sol,
e antes de dormir,
as estrelas.
a música,
olha a vida,
o ritmo,
o tempo,
a melodia,
o olhar.

e antes de dormir,
as estrelas.

chover

o que dentro de mim chora.
o que dentro de mim ri.
pelo mesmo motivo que chove lá fora,
o que dentro de mim chora.

domingo, maio 25, 2008

gingas

Pessoa,
esse é o teu nome sem rosto.

Vestido Rodado,
essa é a tua pele.

Sorriso, Cheiro de Flor, Piso de Madeira.

- quer dançar comigo?

incomunicantes

olhos fechados.
pedras,
rostos,
lagos,
nada se move.

obscurecidas pálpebras,
espelhos,
de não ser carne nem éter,
ser noite,
indeterminada e difusa.

fecho os olhos
nada distingue.

para dentro:
Infinita.
(caos/origem)

para fora:
Terra esparsa.
(mansa/cru
determinada).

segunda-feira, maio 12, 2008

porosidade

essa manhã morta de escuro,
olha-se com os braços cruzados.

em cima do muro, manhã,
é daí que se vê,

suas cores pálidas.

essa luz que te toma ao largo,
enche meus olhos de horror,
breu luminoso
de atos sem voltas,

e palavras vazias.

é sem querer encarar-te os olhos que me entrego,
pois és absoluta manhã.
toma-me o tempo
toma-me o espaço,
invadindo-me em cada poro.

manhã, nasce
enquanto te olho.

sábado, maio 10, 2008

terra estrangeira - cinco minutos na vida de alguém.

as mãos andam tão frias, atrás das roupas bem escuras, anunciando o outono. não tem segredo que se abra para essa manhã, eu te olho, e sem energias para dizer as palavras que não importariam. você, por outro lado, sequer me olha. tem euforia nos dentes e quer achar algum raio de sol que te contamine. lateja vazio dentro, sequer chama dor, vira liberdade.
o dia está acabado, o mês, talvez a vida. eu canto acompanhada do silêncio, e não existe nem passado nem futuro. existe minha voz. e o silêncio dentro e fora dela.

quarta-feira, maio 07, 2008

com os olhos bem abertos

E repentinamente
eis-me com os olhos bem abertos
no meio de um contra-tempo.
os braços querem encontrar os limites dos dedos,
o cenho, franzido, sério,
diz de um tempo em que as coisas eram aceitadas dessa forma:
sem muitas perguntas.
o vento quer levar meu cabelo embora,
mas não leva,
pois resisto a tudo,
a todas as intempéries que de certa forma mereço,
com os mesmos olhos bem abertos.
Porém, não há matéria que minha mão resguarde,
todos os segundos me atravessam como o vento,
sinto-os por entre meus dedos,
como rarefeita areia,
e logo os esqueço.
como única lembrança uma ordem,
vinda não sei de onde,
sabe-se lá de quem,
de resistir inerte,
perante o vento e o tempo,
com os olhos bem abertos,
enquanto você não vem.