terça-feira, julho 31, 2007

antonico

tudo é tão longe
por mais que a gente tente atingir com as palavras, afia-las como dardos, elas perdem a força nesse ar cético

peitos com coletes de chumbo
e cera nos ouvidos

vereda

é que nesse instante indeciso entre o passado e o futuro (como o ar que a corda do equilibrista divide em dois) não pedem nada de mim. mas olham bem nos meus olhos e me fazem o pior. olham-me com esses olhos calmos e não pedem nada, não mandam nada. nada que eu não queira. no silêncio assim rompido não posso dizer não, não há não, não há palavra que se mantenha no silêncio desse instante que te digo.

sexta-feira, julho 27, 2007

vênus, meu amor

libação sem vinho é palavra
e quem ouviu falar
os sons que nunca se calaram,
no ar.
o silêncio da onda é um segredo só pra quem puder ouvir.
vêm no meu ouvido e diz o segredo do mundo,
bem baixinho, como quem não quer chorar mais.

polenta

talvez na ordem das palavras eu possa encontrar algum consolo pra minha própria desordem.
um desenho, um risco. algo que agrade, como um cheiro perdido no ar.
um cheiro de comida da vó que ninguém sabe donde veio.
uma frase inédita, sincera, e anônima

terça-feira, julho 24, 2007

lunáticos

a irmã saiu do quarto descabelada, os olhos fora das órbitas, recém saída daqueles famosos surtos que a acometiam intermitentes ao sonhos:
- eu sou maluca?
- acho que não.. mamãe disse que maluca é quem mora na lua.

medula

engolindo aqui uma porção do vinho ruim que minha mãe me deixou de herança. se você visse minha cara ia ser a cara de quem mastiga pétalas e mais pétalas de flores, embora sem expressão alguma. é uma fome convulsa que te deixa amarelo. faz salutar essa tua ironia. pra mamãe o melhor é deixar de presente uma frase bonita, ou duas, junto com a bandeja do café da manhã. aí ela sorriria forte e o dia ia nascer bonito, com um sol lá em cima acreditando em tudo. coisas de barulho de pedrinhas de sabão escorrendo no rio. coisas de saudades de ninguém porque eu não acredito mais em pessoas, ou de insônia dormindo porque esses segundos também são oníricos. tem alguns momentos, poucos, que não precisam ser salvos por essa doçura amarga do vinho. cintilam, percebe. e doí então cada vértebra.

domingo, julho 22, 2007

horus

não, não existo.
deixa eu te dizer uma coisa,
isso tudo aqui não é real.
eu sou uma alucinação individual,
mas podia ser pior,
imagina só se fosse uma alucinação coletiva.

praia

O mar é bom,
o mar inunda.
Te tocar em cada poro,
em cada fundo,
se fosse útero.
Inunda e mata,
se bastar,
o ar te falta.
O mar à noite,
mas não tão só.
Abraço n'água,
esse todo mar.

quinta-feira, julho 19, 2007

tre

há esse acorde que se perde pelo ar, como quem passa por uma sala vazia e suspeita outra presença oculta. como o calor de um abraço que não se cumpre, é a promessa da morte que logo se dá.

terça-feira, julho 17, 2007

ou é por quilo?

1. sinto o cheiro
a. abate o corpo a falta de coragem
b. finjo que disso não sei
2. olho-a bem, franzo o cenho, e me entrego
a. sobe a boca resquícios constantes Ácidos
b. ponho para dentro sem nem saber
3. depois de umas 5 ou 6 me embriago
a. diluída num clown patético

meio amargo

no ímpeto agudo de todos os poetas,
ainda
tempo vento e morte - persistem,
pois dizem que o mundo é justo.
matéria de veia que incha e inflama,
sangue que erra num constante passar,
se fosse andar com os pés dessas dores
- bolhas, espaços perdidos,
entre isso e aquilo.
tenho certeza de que tenho certeza de que tens a certeza
E ainda somos tão pouco.
ralar o coração na falta de ter coração.
pensar nas coisas mais estúpidas por excesso de tempo,
ou de medo.
vivo (ponto final).
essa seria a palavra que eu escolheria.