domingo, junho 30, 2013

toque de queda

você tocou nas minhas costas
e eu vi
que minha coluna estava torta.
você tocou minha barriga
e eu vi
que doia.
você tocou na minha cabeça
e ela ardeu.
você tocou no meu coração
e ele tava 
inflamado.

foi na lagoa azul que eu vi a dor.
a dor tinha virado eu de tanto hábito.
mas agora não.
a coragem podia me separar,
o leito do tejo.

e eu quero curar.
agora que eu vi a dor com os olhos bem abertos,
eu quero curar.

e aja chá de camomila.

terça-feira, junho 25, 2013

hoy

ultimamente as palavras parece que deram pra rir de mim.
(escuto bem baixinho quando as deixo a sós).
eu não sei bem se é por dor delas, se por saudades.
gosto de pensar que sim.
no fundo acho que nunca me respeitaram mesmo.

fico tentando junta-las em blocos,
colar em frases,
tecer em textos.
e elas se deslocam,
desencaixam,
tombam desajeitadas no chão frio da folha imaginária.

então eu pergunto para que que servem,
e aí então elas fazem o pior,
mais horrível ainda que as risadinhas bem baixas.
elas ficam em silêncio
como quem diz "para que serve você ô babaca".
então elas se emprestam para eu me dizer
e também me saio com o mesmo engenho.
começa a chover na cidade e tudo de repente se repousa
numa tristeza antiga.

uma ideia começa a se desenhar,
sem palavras,
só imagens.
é o silêncio que veio me buscar.
quer que eu parta.

partir.
o verbo quebra o cimento insólito das palavras.

sábado, junho 22, 2013

segredo

um dia eu descobri um segredo.
um segredo tão grande
que na hora achei que fosse o maior do mundo.
a vida é cheia de descobrir segredos e também esquecer.
agora mesmo tem uns seis que me aparecem e me fogem
entre os dedos frios
embaixo do cobertor.
tá bom, eu falo.
paro de te enrolar.
o segredo é que todo mundo tem medo.

eu sei que parece que não.
tem umas pessoas que atravessam as situações,
destemidas,
com os pés firmes,
a cara inerte.
esses, não conta pra ninguém,
são os que mais tem medo.

eu agora, nesse momento,
tô morrendo de medo.
acho que faz parte.
é preciso o medo
para que se tenha coragem.

segunda-feira, junho 03, 2013

caminho

existe um caminho feito de ferro de pedra de sal e de sono.
existe um desejo de separar da memória o bom
e deixar o resto para trás.
existe o fluir do rio que passa por debaixo da estrada,
mas também existe a vontade e a escolha de continuar indo.
existe a jornada
e isso é mais importante.


confusão

a pele é o exato ponto onde me disseram que eu acabo.
onde eu começo
nunca me disseram.