sexta-feira, novembro 22, 2013

8

o tempo passa 
e de repente toda aquela água
evaporou.

pra lá de lá de novo era

tem um gosto que me persegue.
uma ideia
colada atrás da vertigem.

é dificil fixar o olho
no meio do rodopio.

a caixa do diafragma
não se acende com fósforo.
puxa o ar firme
e faz milagre.

a carne ri
quando se derrete
no curta circuito dos sentidos.

os olhos voam
só quando acreditam no impossivel.

estar aqui e saber
pesa o corpo a medida do penhasco.
saber e aqui estar
é apropriar-se da altura imponderável.

mutável

tudo o que me cola aqui me cansa. as coisas aqui são densas demais. demoram dias, meses, para se mudar algo de lugar.
demora uma vida inteira para que algo possa de fato se curar.

eu me identifico mais com as bolhas de sabão.

ines

o silêncio é uma bomba de suor. pressionando linfa maré adentro. nada como então, encher os pulmões de grito, e sair cantando às marginais dos rios e canais.






é só bobear que essas imagens tingem o céu da minha cabeça. antes de dormir quando os pensamentos tomam qualquer forma, as nuvens se transformam nesse circo itinerante. nessa cara de elefante.

é com pesar e saudade que tomo esse impulso com os pés.
de sair do lugar
sempre.
e partir/chegar/
essa musica que adoro/escuto agora
tenho vontade de ser/mandar/

é uma fantasia boa,

é um prenuncio de vida.
é uma sugestão.
uma boa sugestão.

é uma nuvem em forma
de algo lindo/em movimento.


mangarosa

Você sabe o cheiro da solidão?
Quando ele me perguntou isso ele me pareceu o cara mais sozinho do mundo. E eu fiquei com vontade de pousar minhas mãos juntas na sua cabeça, como se um passarinho pousasse ali entre nós.
Eu tive vontade de estalar seus dedos.
Sei o cheiro da minha solidão. É cheiro de horta logo depois que chove.
Ele sorriu cheio de uma ternura estranha. E me pareceu o cara menos sozinho do mundo.
E eu fiquei com vontade de pegar a minha mão na dele. De dar um beijo pequeno na parte de cima da sua orelha. De olhar fundo no olho, e depois parar.
Ali nós dois éramos duas frutas meio verdes meio maduras. Se olhando entre os açucares, cascas e cores. Ali o gosto do agora adubava algo que era o entre. O ar entre. O pomar.
É aí que tudo acontece.
No intervalo entre duas frutas existentes.

segunda-feira, novembro 18, 2013

tudo ou saudades ou aqui


é como se eu não tivesse casa.
(eu não tenho casa).

é como se eu fosse um tubérculo brotando na geladeira.
(eu sou).

sem terra, flutuando no espaço,
perseverando raiz contra a dureza aguda do ar.

é como acordar para um mundo sem mar.

também tem a vantagem que é bem mais parecido com voar.

uma desconexão profunda com tudo
que dá até uma alegria engraçada,
uma cócegas no pé.

algo como a certeza que sobrevêm nos países estrangeiros
de que tudo é uma bobagem.

o riso frouxo de quando tudo dá errado
ou certo
ou azul.

no mais são tudo ondas, ou brisas, ou flores.
pequenos momentos do tempo,
que falam do eterno
morando no presente.