quarta-feira, julho 27, 2011

deserto

se eu tenho medo 'e bom olhar para o sol.
se tenho vontade de parar
percebo que minhas pernas continuam.
se o silencio me assusta
percebo que ele 'e feito de musica.
o deserto 'e feito de noite,
se o calor 'e insuportavel
me nutro dos seus lencois escuros e frios.
o deserto se repete a cada novo horizonte,
de passos que nao podem mais parar.

quarta-feira, julho 13, 2011

hortelã

novos ares te acompanham vindos do meu hálito.
se você quiser eu posso te chamar para dançar,
batizar suco de amora com gim.

segunda-feira, julho 11, 2011

sempre o mesmo

essa [água toda não tem pra onde correr
as horas passam represas sob meu nariz
barricadas
vazamentos
gotas gotas d'água.
se anoitece eu desenho um aquário com meus dedos,
e dou um pouco de paz à esses peixes.

louca

uma quase alegria sussurra meu nome.
ouço o barulho das muletas atravessando o terraço,
se misturando na terra úmida.
conheço o som dos besouros
e das bebidas ácidas.
você bate as cinzas do cigarro e olha fundo.
vou desvia-los e acreditar
no som, no som, no som chegando.
eu vou acreditar no sussurro da alegria.
eu vou surgir
palidamente vermelha
mais raia que o dia.

domingo, julho 10, 2011

truques de facas

ponho uma mão na frente e outra atrás.
anestesio possíveis mal-estares com aspirinas.
canto, rio, até falo.
olho pro seu olhar de esguelha,
e fujo inevitável quando o ar se fere
desse nosso possível encontro.
minhas calças vivem caindo,
e faz tempo que eu tomei banho pela última vez.
estou com o rosto inchado do algo errado,
espinhas, anemias, palintomias.
embora meus dedos se movam em sua direção,
e digam em novos dias
essa noite eu sonhei com você.


tietê

eu quero viajar, quero me safar, quero dizer com todas as letras Essa Merda. Sem culpa no cartório ou peito. eu quero ir, e nunca mais voltar. eu quero ir, sem saber o que já sei. que essa cor, esse tejo, não estão nas coisas, madeixas e merdas flutuando no tietê, mas dentro. talvez tristeza, quiça algo além.

sábado, julho 09, 2011

i ching

anemia emocional.
enche a boca de farinha.
tinge cada estrela de carvão.
trás na boca a marca da fome,
e no estômago a invariável náusea.

perguntei ao velho magro o que fazer,
ele disse que era necessário que a casa caísse
para que eu pudesse me levantar.
a alma cabendo nas estreitezas
e larguras do corpo.

lar estrada

todas as coisas boas que a escuridão esconde,
que só ao tato cabe saber.
as curvas contínuas e derradeiras
dos morros na estrada.
o sol nascendo nas beiradas,
por trás dos bicos de seio
a caminho de casa.

quinta-feira, julho 07, 2011

azul bandeira

Quando você pisca esse azul bandeira para mim,
eu percebo que sou um pouco louca,
só por que sem querer você me empresta seus olhos.
Não adianta,
os dias vão seguir nessa sucessão embaralhada,
de nenhum lugar para lugar nenhum.
Enquanto você constrói palácios de cristal,
castelos de carne e osso.
Enquanto você passa com pressa me olhando de esguelha.
Eu brinco de modelar o chão, lama, areia e grama.
Nós dóis somos tão diferentes,
e nos queremos tão bem,
que às vezes eu até lembro
que vidro é feito de areia.

sábado, julho 02, 2011

simnão

às vezes sobra um sopro,
um acorde maior
com vontade de ser sustenido.

às vezes sobra um assobio,
um irrito quase calado
de um ato que não convém.

às vezes sobra um hiato,
o espaço cavado
em prosa e pressa
entre um encontro que vai
e um desencontro que vem.

cheguei em casa com as botas cheias de lama,
pensando a cada passo,
assistida pela lua.

pensei numa alegria,
ou quiçá senti.
meu coração palpitou, sem saber.

e eu pensei,
que mesmo com tanto desencontro
a emoção balbucia um encontro.

palavras bêbadas
de uma boca geminiana,
a síntese é rala:

às vezes o encontro acontece,
e pode durar um dia,
um feriado, um segundo prolongado,
um milésimo.
às vezes, tão raro,
e mesmo assim se esquece.
com a pressa do desapego da grande cidade,
um encontro e um silêncio denso criado depois dele,
dilatando nostalgias de estação.


um sorriso no meio da escuridão.