segunda-feira, março 23, 2015

soslaio

eu sei que ela olhou para aquela pedra parada no meio de tudo - montanha mata medo - e pensou no meu rosto. por que estavamos naquela fase em que qualquer superficie é matéria projetiva bastante, e não basta trocar calores afetos umidades languidas.
queremos mais, marcas de quase sangue na pele, um sapato emprestado, olhar de lado, beijo no soslaio da boca.

sexta-feira, março 20, 2015

encosta

a encosta anoitecia pelas beiradas.
o vento salgado crispava o resto 
de sol,
acossando a sul.

o barulho umido de mata atlantica,
os jaburus, besouros inofensivos, 
peixes, filhotes de peixes.

o lusco fusco é o quando
se o tempo para.
ou liberta
ou prende.
nas matizes do bem azul
ao rosa laranja e escuridão.

esperei o dia todo no sol.
a pele curtida.
atritada no vão das pedrinhas de areia,
pontilhão de quenturas emancipadas.
a pele a noite vibra
calores passados.

ela veio somente no parar do tempo.
trazia uma pequena canoa nas costas
vagarosa e vasta.

quando chegou ao meu lado 
depositou a embarcação na beira mar
e sorriu
como que dizendo - é sua.

a canoa era toda beirada
e o fundo era o próprio mar.
não seria capaz de levar a lugar algum.

olhei para seus olhos de novo.
sua calma mordiscava a pontinha dos meus dedos.

era de outra travessia 
ela dizia.

então demoramos ali,
esperando o inimaginável 
que poderia nos demover
do durar
que ela cavou para nós.