sexta-feira, outubro 26, 2007

casa 8

o oco sei de cor o teu encanto
ímpio,
falo da superfície escassa
hábil criatura
volúvel
primária
.
deita-me as horas do melhor sono
em forma de delírio.
cansa-me a pele,
apenas,
durante todo o dia
deixar-te a ferida aberta como solução.
borbulha em forma de nuvens isso que te foge a boca,
enche-me as panturrilhas.
sem emoção nada
cheia do que te fala
do seu não ser inteiro e sem perguntas
mas ainda tu
há tu
que me questiona.
questões longas dilatam nosso labirinto.
cai a noite, e menos ainda, ele descansa.
não há,
afoito,
luz.
frio ferro e fogo,
nossos olhos se queimam na água
inteira fome
medo
somos criaturas do medo.
de deus nos olhos,
e de outras dores.

quarta-feira, outubro 24, 2007

ato falho

se o ato
rarefeito
é silêncio
entrecortado

o grito respira
o que o ar incandesce.

poeminha de quinta (categoria)

guardei dos meus primeiros dias,
sorrisos,
para distribuir como flores,
ou pequena nota de antemão.
como um poema frouxo
na extensão da face.

deles roubaste-me os melhores,
os risos mais mansos,
a cada olhar correspondido,
com ternurna sem medo,
e estar sem decisão.

roubaste-me sim,
pois não foi de bom grado,
nem escolha de fato.
tão logo chegavas,
já estava,
minha boca tola,
a sorrir como desgraçada.

foi então que vi ser tudo de graça,
(tudo).
pois talvez não tenha entendido,
ou pior ainda,
nunca ter visto.-
-todos meus risos mais mansos,
guardados só para você.

sábado, outubro 20, 2007

quarto andar

o paladar muda,
e a fome continua

seca e surda.

parece justo,
o eco das palavras
e a falta
do excesso.

a manhã distrai os sentidos,
o erro ébrio sem perdão,
duas vezes cometido,

é a farsa
e a solidão.

terça-feira, outubro 16, 2007

haikai

opaco entender tudo do lado errado,
o mar bate no céu,
e deus está nos olhos.

segunda-feira, outubro 15, 2007

corpo rio

todo confronto de duas metades é um pouco inteiro, outro tanto despedaçado. uma metade é seca, outra nunca.

- você me dói como a umidade negra da pele que cessa de estar num rio. calor intrépido da derme contra a água da carne. os lábios frios sem medo. como tal, um abraço inesperado.

quarta-feira, outubro 10, 2007

almoço

as coisas nunca,
na vida que acaba.
mas sempre as coisas
na vida finita.

grupo de quarta

perscrutando os olhares a minutos.
o fundo da alma
é o verbo do afeto.

segunda-feira, outubro 08, 2007

diálogo

então ri e me devora,
em cada gole,
demorado para desculpar
o olhar.
não entender - eu não entendo,
pois esse vento
quem viu atrás da janela ficou.
eu te vejo e isso persiste,
é de rir de graça que eu gosto,
e eu tenho rido até chorar.

quarta-feira, outubro 03, 2007

rei de paus

cada erro acerta no reflexo que é do tempo,
impressão opaca.
tudo que é reflexão revolucionada do instante,
não há nada.
além sobra,
de um espelho dentro do outro.

as marcas na lama,
são feitas de sombra.
tudo o que é volta a ser
a palavra exata.
se juntos ardem
ainda me resta saber
o que um espelho no outro vê
se o nosso olhar é de graça.

terça-feira, outubro 02, 2007

tento

passo as tardes nos seus olhos,
alguém canta,
sem nunca mais parar.
passa o tempo e eu imagino
mergulhar fundo
em um teu perto do que tenho.
nada quer dizer tanto
quanto resta de nós-duas.
passa a vida
e eu só quero te ter sua,
para ainda assim estarmos mudas.
chega a manhã vento para te ter,
e eu te tendo, eis que estou.