sexta-feira, setembro 29, 2006

peter pan

acordei mais fraca que eu, as escadas subi, e me perdi no caminho. procurei qualquer carinho que houvesse, consolo pra solidão. minutos de criança afogueada, procurando ombros pra secar as lágrimas.

escorpião

as vezes eu invento a dor pra não sentir a dor. e sinto - é assim que posso me esconder atrás do meu silêncio.
o meu silêncio é uma terra fantástica, eu invento a solidão num copo de uísque, e não tenho medo das minhas criaturas incríveis. silêncio faz sentido. olho mudo pra fora, é como se o mundo não existisse dentro de mim.

quinta-feira, setembro 28, 2006

samba

dia quente de domingo,
vestido de organdi amarelo,
banhada e asseada,
na sua varanda.

o rapaz vem todo lindo,
tocava violoncelo,
margarida na lapela,
esqueçe o dia, e anda.

os dois seguem seu samba,
calado e receoso,
enquanto ele pensa, ela canta.

mas de noite quando dormem os pombos,
ela sonha com eles e ele sonha acordado,
com muito cuidado pra não acordar os vizinhos.

quarta-feira, setembro 27, 2006

ímpar

nada é igual
singular soma mais um
só assim
natural.
ainda
prefiro a vida de par
em par.

sugestão

erros todos
equívocos azedos
se marcam
sem hora marcada.

segunda-feira, setembro 25, 2006

erosão

resigno aos acordos unilaterais,
apesar de tudo cedo aos ímpetos.
acordo cedo,
as primeiras luzes da manhã
são certas.
agarro sua mão com toda a força
e dor que tive,
(luz inevitável).
desenho a parede com resquícios,
os medos,
e além do nada que me resta,
a rejeição, profunda e branca.

sábado, setembro 23, 2006

infância'

sempre tive medo daqueles caras que gostavam de sexo drogas e rock'n roll,
tão cabeludos e safados,
infernos de bitucas de cigarro,
putas loiras, cintas ligas, e guitarras.
não tive outro jeito de lidar com a coisa,
senão gostar também.

sexta-feira, setembro 22, 2006

leãozinho

a chamei de super-homem (quiçá nem conhecia nietzsche),
respondeu-me que eu era - superficial.

escancarado

foi por medo de parar o coração que nada fiz,
digo que o erro é ingênuo.
o tango,
e os casais,
eram a vida
em homenagem.

control freak

achei num buraco fundo o meu não amor,
que assim pude te amar pela primeira vez.

segunda-feira, setembro 18, 2006

um beijinho e um tapa

"sempre me surpreendo quando te leio, eu acho que você escreve bastante bem, coisas inteligentes e profundas. não entendo depois quando te vejo na rua, olhando pro nada, por mais tempo que o esperado.."

circular teu infinito

fantástico como vai me matando aos poucos,
pequenos avisos,
surpresas de raspão.
inverso ao carinho,
ao desejo, ao calor.

tudo pra desvirtuar o sentimento,
de baldes de idealizações
pra uma poçinha de nojo.

domingo, setembro 17, 2006

do mar

ela é tão linda, que eu às vezes até digo pra ela entre o gole no café e os instantes em que não tiro os olhos na hora de ir embora se eu não abraça-la forte morro um pouco.

quinta-feira, setembro 14, 2006

mata-me de rir

foi descobrindo sozinha as pernas e perdas a noite que me emocionei.

sintomático

não é a melancolia que faz mal,
se ela decidisse simplesmente ser estaria tudo bem.
mas há ainda a esperança de que ela passe,
e então é insuportável.

é algo ligeiramente puro, ainda,
que impede o niilismo completo.
esperar ansiosamente algo que nem nome tem,
sequer forma.
queria saber o nada como um todo,
pois se não todos os dias serão fugas.

brio

seria absurdo se permitir o abandono e a mediocridade nessa vida em que nascer do sol na varanda é tentar quebrar a superfície com uma colher assim como vejo passarinhos acordando desconexos com os prédios porque fecho os olhos e tenho vida em mim tenho vontade de putrefazer-me o dia nessa esperança que me corroi.

terça-feira, setembro 12, 2006

flashback

é mais fácil romper a camada superficial da noite em alta velocidade.
é mentalizar o momento em que devolvia os filmes de fellini logo atrás da trançinha por baixo da lã azul claro.
(o jeito cândido como fingia não percebe-la, por vergonha ou pudor).
aquelas janelas perigosas do segunda andar, em que da mesma maneira ria e desviava o olhar, sabendo no fundo, mesmo assim, de tudo.
- costurando túneis, acabou só, e pálida.
como a flor em sua mão, esquecida há horas.

domingo, setembro 10, 2006

carne de sol

queria sair à tona
o ócio virar procura
queria leva-las todas
as palavras à loucura.
se soubesse sabe-las a samba
soma de carne com mulata
viraria só batuque.
se do nada fizesse susto
quem sabe depois de uma cachaça
não houvesse mais
nem tino nem dor
e nem sarro.

encostado na cadeira velho e maltratado
o tal sorriso demente.

tosse

quando o acupulturista apertou meus pulsos
e disse
são os pulmões e o fígado
estava tudo muito claro.
ainda bem que
(eles ensinam lá na escola)
é tudo psicológico.

sábado, setembro 09, 2006

bertioga

em cima da mesa uma noite densa que era dia, fazia do caminho sob o som seco, caminho reto de lama e sangue, fumando cigarros acesos ao acaso, próprio. lua inteira, quase sol, coisas sempre acontecem - nunca visíveis. Agora me debruço no marulhar, assim como o verde, pensar no joyce, no vinho, e pouco importar. difícil as amarras do pensamento, somos isto, e isto quer mais saber apenas do que sabe. concedo-me aos vícios, endureço meus mamilos, e da verdade não sei nada. os passos nunca cessam, mas os olhos tem aptidão para os angulos - só para que possam saber dos erros, as perdas entre os passos. ainda estar aqui é fato. Mãe, você acha que eu sou superficial? ela achava que não, eu também achava que não, mas quiçá.. quiçá... Dentro de mim sinto algo, farei da tarde algo imenso, terei compaixão, amassada nos cigarros e no vinho roubado. e escutarei elis regina.

réquiem

das coisas que lembro algumas tem a luz do sol,
ele, magro, mais os cigarros.
eu, ao seu lado,
mais as cervejas.

uma manhã nua,
acordando no espelho,
e ele acordando meu pescoço,
nós dois um quadro nu.

feitos de desesperos e dores,
percebidas tarde demais,
de perdas e ganhos.

vai cada um pra um canto,
desfalecendo num canto,
cheios de desilusão.

sexta-feira, setembro 08, 2006

desencontro

- tudo bem? - passara o dia preocupada, com a voz fria do outro lado do amontoado de fios. a menina olhou pros lados, numa resposta calada.
- o que que há? - queria olhar nos seus olhos.
- vai ver não é nada.- e andou para o outro lado.

no resto da noite não parecia tão triste, levemente só talvez, e não olhei em seus olhos sequer uma vez.
talvez suas atitudes patéticas a afastaram tanto assim, talvez suas mãos e seus olhos cedentos nada adiantariam vez alguma, talvez todo o carinho tenha se desvanecido assim, não mais que de repente.

meu

quarta feira de cinzas acordou com o dia entrando pelas vértebras. sutiã perdido, carteira perdida, e algo mais. olhou para o espelho despenteada, nua. apreciava esses momentos da manhã que a luz batia em suas curvas. uma mulher tem sempre suas dores. passou a mão por sua brancura, segurou os seios no ar, num deles com tinta indelével havia escrito no dia anterior - idiota - cada vez mais idiota.
entrou no banho e os pingos a batucaram o chão, essas horas são como tambores africanos, tum, tum, hipnóticos. azulejos brancos, a luz da manhã. - sabe, todo mundo sempre acha uma porrada de gente idiota, mas quase ninguém se acha idiota, menos quando tá com depressão. cadê esses caras então? vai ver sou eu, seguindo a teoria das probabilidades é bem possível. - mas não, sabia que não era idiota, dessa vez não com toda a certeza, mas 3/4 dela garantida. foi imbecil, isso é claro, mas nada definitivo.

quinta-feira, setembro 07, 2006

só companhia

contar os andares através do pequeno buraco do elevador o acalmava - não gostava de lugares fechados. em 52 segundos ansiosos pisou o chão seguro já esquecido de tudo o que era até ali, (afinal das contas não era caramujo nem nada). alcançou a rua com seu passo firme, o vento mexendo seu cabelo, tentando leva-lo de volta pra casa, os carros tentando cindir seu caminho - os homens e as mulheres do caminho.
tinha algum tipo de liberdade barata em andar só por essas ruas conhecidas, algo de fantástico na anonimidade de um olhar de soslaio pras bundas nas bancas de jornal. assim construía seus personagens, limpando maças na lapela, acendendo cigarros operários na contramão. de banderas almodovariano à orfão parisiense num quarteirão.
saiu dos seus sonhos como quem acorda, ao ver ao longe o vislumbre da menina. ainda contava os segundos para que ela o reconheçesse, os instantes em que ela ainda era ela mesma.

liberdade das coisas

calculo pro todo um denominador,
dentro de cada coisa,
ao passo das transcendências possíveis,
há a liberdade (de si).
para a dor, há a cura,
(branco, preto, e cinza)
pro vazio, a loucura.
se trata da liberdade das coisas,
todas elas tem a sua,
(é só olhar fundo o bastante).
todo instante tem em si,
o completo em potencial.

segunda-feira, setembro 04, 2006

quase

lá vou me embora outra vez,
exagerar a esquizofrenia pra fingir a desilusão.
o vento cortanto a cara fica mais fácil chorar,
e meu corpo que repugna tanto álcool,
que morre de sede,
e por dentro se contrai,
achando que amargura é pecado.

domingo, setembro 03, 2006

minduim

cinquenta e seis passos de felicidade,
atravessando o supermercado,
amigo antigo, de barba e responsabilidade.
não nos conheçemos,
nem as esquinas traçadas nos últimos tempos,
mesmo que saibamos beber umas cervejas em silêncio.

cheio de chaves balançando nos bolsos,
junto com as moedas.
as idéias nem tantas,
mas pra isso ninguém mais tem tempo.

nostalgia de chá da tarde,
em plena madrugada.

claustro

nada supera o entorpecimento de um werther pós moderno.

delimitado

tô fingindo que isso é calda de chocolate,
só porque eu não consigo sublimar de outras maneiras.

sexta-feira, setembro 01, 2006

de noite na cama

era noite ou a luz que entrava se filtrava em mim, me alimentava de ar, deitada e só, acordada te via. trazia a tona todos os absurdos usados pra justificar a vaidade rota. roubando seus segredos guardados tão seguros, aliás, não era outra coisa que fazia durante o resto do dia. passava-os roubando segredos transparecidos nos rodapés. assim, construía teu perfil, do nariz, o cabelo.. pensava em quiçá tacar um beijo, aninhar nos braços.. acabava no frio te observando, a poesia é martirizante mesmo. acho que é porque o mundo gira muito rápido, que tudo muda assim. d'eu te ver e me ver tão maior. e mesmo assim não consiguir estancar o meu carinho escorrendo em vasos dilatados sob pressão. nos ouvidos e poros, esse carinho infinito.