sexta-feira, julho 21, 2006

ilusões

é de se esperar que o agora seja pleno.
foi um crime premeditado,
e já não sou réu primário.

equações são assim,
perfeitas e dedutíveis,
é só por um pouco de vinho.

depois olhe para o lado,
e vai passar a vida,
e mais uma vez você não percebeu,
confundiu como um tolo,
as entrelinhas com o contexto.

veloso

ele estava sentado manso a meu lado, dizendo as maiores baboseiras, mas com pura poesia. viajou na minha blusa, disse parecer miró, falou das coisas mundanas e de seus planos, de suas viagens, de suas dores. o dia passou quieto, e eu chorei sozinha e perdida na esquina. ele chegou mais uma vez manso, ajoelhou-se do meu lado, pegou nas minhas mãos, e olhou nos meus olhos embriagados de calor. falou suas coisas calmas, e citou agora as minhas dores, serviu-se de cerveja, e eu o amei assim.
entre um gole e outro, vendo atráves da lágrima e do gosto, nos livros que dizia e nos países que visitara. amei-o enfim, por um dia, e bastara.

quinta-feira, julho 20, 2006

de(fin)itivo

(gosto de verbos sucedidos a palavras fortes,
.do som que faz o som da luz.)

-dentro de alguns anos não lembrarei de você-
foi o que disse.
mas não se sinta culpada.
pode ser só o meu vício.

disse e saí andando, sob os olhos as conhecidas negruras. uma espécie de graxa que ataca como sinusite, te faz ver o mundo com dor. contei os passos, 627 deles. e então pinga morte desolação. e uma mesa quebrada.

restou-me o gorfo, e a bronca do tfp. o mundo e suas paredes de aço.
meus dentes estão amarelos, tenho olheiras na pele pálida.
nada é real por aqui. não sinto as coisas reais. só as metafísicas.
um sufoco.

(comida macrobiótica, índia, injetar penicilina, ter filhos quiçá.)

e ele disse para os esquecer.
ingênuo.

quinta-feira, julho 13, 2006

tarja preta

você fuma seus cigarros convulsionadamente durante o dia,
declama neruda, discute rimbaud,
e me parece tão pouco.

antes eu tava encantada,
e queria dizer das coisas que via,
e escrever, pensar mil coisas.

mas foi apodrecendo,
de dentro pra fora,
uma coisa meio idiota,
acabei só vendo hipocrisia e miséria do lado de dentro das coisas.

e as coisas encantadoras,
que me faziam sorrir de graça,
essas perdi no meio do caminho.

panis et circenses

o espetáculo começou tão logo saí do elevador. os poros invadidos por aquela música clássica altíssima. era estonteante, tanto, que pra decifrar esses sinais demorei um certo tempo, "um vizinho ensaiando violino", cheguei a pensar no segundo que passou. é claro que seria constante a hiperbole, dois passos adiante a porta semi aberta num convite nu - já abria um sorriso de orelha à orelha. como um estrangeiro acima do peso passava pelas roupas jogadas ao chão, e os violinos a me martelar os passos, as roupas e os maltratos. um lustre de mil peças de cristais, estatelado em cima da mesa. entro na cozinha. seios. é tudo o que vejo. seios. e então o resto do panorama vai se acostumando, rostos, vejo seios, digo, rostos. três na mesa. o primeiro é o famoso intelectualóide, com sua fala mansa, e os milhares de livros lidos (e as milhares de freakies comidas). o outro é um viado, lindo como o primeiro, o cabelo preto cintilando na luz da tarde, o meio dedo que falta, e logo abaixo o graaande anel dourado cafetão dos anos 70. e finalmente a dona dos seios, linda também (que originalidade hein), a axila mal feita, e o colar de pérolas. -persisto nessa pobre descrição estilo neo eça de queiroz, por isso, minhas desculpas.- sobre a mesa ovas laranjas de peixe, e café. emblemático. é uma maravilha.

quarta-feira, julho 12, 2006

eu-lírico, cidadão do mundo

meditação, heroína,
meu nirvana encarnado não se encontra tão longe.

me lembro da meninice, um velho careca magro e funcionário público,
atrás de uns livros que chamavam "para gostar de ler".
pra mim, no máximo, ele preenchia formulários,
mas aquele homem, meu deus, dizia coisas tão belas, e tão próprias.

quando o leio percebo, toda santa vez, que quem escreve não é o careca velho, não tem nariz, nem sequer boca (por mais que as vezes afirme o contrário).
sabe, escrever é a transcendência absoluta.

domingo, julho 09, 2006

hipocrisia

- e aí, o que você tá fazendo da vida?
- psicologia.. letras.. cinema... tanto faz..
(não aguento mais essa pergunta)
- é?..
- é...
(cara de brava pro cara ir embora)
- então... mas tanto faz?
- tanto faz..
(você ainda não entendeu, narigudo?)
- e porque?
- porque eu amo o gênero humano

turquesa não é verde

- foi assim que eu aprendi a comprar absinto de qualidade.-



textos correlatos: http://marromaocontrario.blogspot.com/2006/07/turquesa-no-verde_09.html

http://2serelepes.blogspot.com/2006_07_01_2serelepes_archive.html

obs: no ultimo link é o ultimo texto, e sim, eu sou uma merda com truques tecnológicos.

sexta-feira, julho 07, 2006

as palavras

aparentemente são de fácil manejo, com sentido instruído por dicionário.
se somadas, além de símbolos, são imagens. às vezes formam poemas de namorados, (e então é difícil entender a relação entre o contraste no papel, e uma vertente de lágrimas), tratados de direito, ou receitas de cozinha. são, antes de tudo, isso: o breu no absoluto do vazio.

peculiar

alguns poemas saiem numa mijada.

quinta-feira, julho 06, 2006

blasê

as mãos que eu não pus na sua coxa,
pois não te chamei pra dançar.
o meio beijo que eu não te dei,
mesmo não faltando gim.

meio vazio, meio cheio,
prefiro meu dia assim.

te gosto só pra mim,
não é pra você não.
no ar do pulmão,
pro sangue,
escarrado na noite fria.

sangue escuro, fogo fátuo,
não é amor, não é carinho,
antes de tudo,
é ócio demais.

terça-feira, julho 04, 2006

blocos de lego

quando eu era pequena, era bailarina sem saber.
flutuava no piso aqui de casa.

era flautista auto-didata,
espalhando melodia sem dizer nada.

antes de tudo girava,
através dos nomes, e das datas,
respirando liberdade,
meu carinho costumava ser de graça.

segunda-feira, julho 03, 2006

nelsinho da cor do verão

entre a barbicha e o all-star,
meio intelectuais-meio de esquerda,
a juventude trans-viada.

põe o menino na cadeira do cinema,
escuta uma salsa francesa.

logo se acotovela nas filas da falocracia,
coloca um laço na cabeça, e sai dançando na augusta.
enche a cara de mortadela, e vai velar os mortos na consolação.

tá apaixonado, mas só sente tesão,
com um salsichão.

assim que é bom,
assim é cool,
com o cu na mão.