terça-feira, setembro 24, 2013

j.

te procuro ao largo da minha própria vida
que me olha distante
de cima do mini bar.
junto com um camelo e um buda e dois gatos e um porco e duas pedras e uma lamparina e incensos.
minha vida calada, nua. mulher gato. passeando pela cidade num domingo a tarde.

j.
te sinto tanta falta.
por que sinto que com você consegueriamos tatear a expansão do som em luz.

j.
te gosto tanto.
e no entanto tão logo você chega
tudo estanca
num ar violento correndo entre duas janelas fechadas.

quero ir para marte contigo
sentir o gosto de perigo
e peixe cru.
sentir o oposto do mar
e a distância côsmica
do viver
em vida.

quarta-feira, setembro 18, 2013

las kening

era manhã, 
de agasalho e vontade de continuar sonhando, 
quando eu o vi pela primeira vez ali. 
estavam todos agasalhados. pálidos. esforçados de ir discutir ideias, quando na cama se prometiam histórias infinitas. 
acho que ninguém sabia. exceto eu e ele. 
não sei como ele acabou ali. acho que já sabia da minha presença, devia saber. 
não pareceu surpreso. como eu, quando o beijei na têmpora e continuei os cumprimentos tremendo por dentro. 
me sentei 
e inventei no ar entrando e saindo algum tipo de calma.
olhava para ele em intervalos regulares. 
o vira na vida poucas vezes. e no entanto ele tinha um encanto, 
um medo. tinha um jeito de mitologia. 
vi seus cabelos rareando. 
sua mão forte.
seu agasalho azul
que depois tantas vezes repetiu.

sei que ele também me olhava.
nunca ao mesmo tempo,
nosso olhar nunca se encontrava
num suspense 
que poderia ser confundido com a secura do ódio.

eu não o odiava.
ele nunca fez nada de mal para mim.
eu tinha esse fascínio infantil,
de querer entender os seus loiros mistérios.
sua presença,
seu cheiro,
sua capacidade de amor.

comecei a ajeitar meu cabelo,
de um jeito bonito.
queria cantar esse estranho dueto.
fechei meu casaco,
me servi de café.
fui sendo,
dando a chance também de ser completo mistério,
essa inexplicável conjunção de atos e magnetismos.

virei meus olhos rápidos.
nossos olhos se encontraram.
nenhum de nós era de virar os olhos
e sustentamos alguns segundos.
.
não foi preciso dizer nada.
ali,
já nos dissemos tudo.

uma voz alta nos tirou do instante.
alguém terminava um poema de borges: 


FINAL DEL AÑO

Ni el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de que a despecho de que somos
las gotas del río de Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil.

terça-feira, setembro 17, 2013

susto

Na madrugada o mais silêncio da calma e a violência mais perversa convivem. Os dois se açoitam, se encaixam. Um suspeita no outro uma eminência grave. Nada além de um latido distante de um cachorro. E se um homem aparecer ele pode ser mais forte do que eu.
Na madrugada não se pode ser a menina do apartamento 11 que gritará e a dona Edi sabe mais ou menos quem, e os moços da sky que insistem em parar na minha vaga. 3 da manhã e não importa meu nome.
Mas é também nesse silêncio que mais posso ser.
Ser esse profundo que sou e que já não tem nome.
Às vezes me assusto com o não nome que tenho.
Quando olho as coisas ao redor
e não me identifico com elas.
Eu sempre quis alguém que soubesse que no meio da noite eu sempre perco apenas um pé de meia.
Nunca dois, nunca nenhum.
Acho que não me importo mais com isso.
De ser conhecida pelos outros,
nessas sutilezas que eu achava eloquentes.
Agora eu quero me conhecer no meu silêncio,
no meu susto.