quarta-feira, setembro 05, 2012

sobre paredes e flores

eu gostei do modo como você pendurou delicadamente o vestido no cabideiro atrás da porta (parecia que aquele era o único lugar que o seu vestido podia estar). eu gostei do jeito que você ficou com a minha chave e saiu com um corpo ressoando a volta (na verdade eu não ia precisar da chave, mas era lindo você sair podendo reentrar). eu gostei da maneira como a sua escova de dente ficou descansada no banheiro (como se essa casa fosse um pouco sua, e por isso mesmo, um pouco minha).
fazia tempo que eu não tinha casa.

ter esse gosto na boca dá vontade de:
ouvir o rumor distante de alguma avenida que não sei como é um mar que estronda qualquer espécie de paz.
pássaros notívagos cantando nas horas erradas.
me apegar as feiuras graciosas das coisas que se tem (ou te tem).
do sabor bem forte, real, do tomate escorrendo na boca, nas manchas que serão feitas, invariavelmente.

tudo vai se sujar e se limpar de novo enquanto comemos, enquanto vivemos, e o tempo passa com graça, e espero não cair nesse conto, e ter o gosto forte, e a certeza, das coisas que são minhas e podem ser divididas, como a alegria, o sexo, o manjericão.

(as ervas daninhas e outras ervas. senti nessa manhã o aroma abstrato dessas flores.)

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