quinta-feira, fevereiro 09, 2012

golpe de vento

não sei bem por qual porta você entrou, se foi na hora daquele calor insuportável das 5 da tarde, que eu abri bem as janelas e você estava lá, escancaradamente lá, precisa como um golpe de vento.
eu nem percebi como e você estava no sofá me olhando com olhos grandes, sem falar nada, sem pedir nada, graças. mas sua mão era tão quente. e eu tive que te contar do meu dia, e você falou do seu, e eu senti um sabor de alecrim passear na corrente de ar.
no começo tava tão bonito, você ali, me esperando do trabalho, com seu sorriso sem sorrir, que eu não queria nada mais. aí eu fui inventar de cozinhar para você, e fazer círculos concêntricos nos nós das suas costas, e ficar vendo aquela covinha ali, aquele lugar que os dentes se separavam mais um pouco, o cheiro que ficava no travesseiro quando você acordava, e inusitado como um golpe de vento eu vi que eu queria mais.
e você também queria. e desse cheiro estranho e forte de duas pessoas que convivem com certo grau de amor, foram brotando flores, foram brotando luzes baixas, jazz'es bem compostos numa quinta feira a noite. e de repente viver foi como colocar canela no molho de tomate. e foram brotando alegrias, escondidas no canto da sala, e tava tudo tão amarelo leve que até as formigas apareceram para ver o que tava acontecendo. e foram brotando sorrisos, e foram brotando cidades. e inesperado como um golpe de vento a gente saiu voando pela janela.
até hoje, enquanto flutuamos distantes nas galáxias, olhando os pontinhos minúsculos eternas estrelas, eu me pergunto, como é que foi que você entrou na minha casa.

Nenhum comentário: