quarta-feira, outubro 30, 2013

água

aqui nessa casa nova, nesse corpo.
aqui nessas paredes brancas,
nesse teto,
nesse chão.
as novidades são ouvir o som da lona retesando contra a parede,
a poeira toda que ainda não tirei,
os sons dos outros,
e os meus.

já gosto de várias coisas.
das duas prateleirinhas que inventei,
dos quadros colocados,
dos florais.

faltam as flores.
deixei as plantas na outra casa.
falta as que mais gostei,
do gengibre que cresceu sozinho a partir de si mesmo
e virou um matão.
do manjericão floresta,
do hortelã que renasceu.
da arruda que afasta,
da salsinha que esbanja,
do morango que nunca nasceu,
da alface escondida,
do oregano fresquinho,
da espada corajosa,
do cidreira nunca tomado,
da melissa murchita,
da camomila anfitriã,
da cabolinha meio metida,
da sálvia melindrosa,
da abobrinha morrida,
do pimentão árvore-quase,
da palmeira sementeira,
da begônia que foi presente.

dessas plantas que criei, junto e separado,
da pouca alma que fui dando,
e que a lu deu também,
das gotinhas,
viradas em floresta da mais águada.
sempre que me faltam as palavras,
me falam o que há de restar,
processo, afeto, crescimento, tempo, praga, água, sede.

algo que sempre acaba, para outro algo começar.


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