sábado, janeiro 05, 2008

preparação para um haikai

não tinha café,
não podia fumar.
decidiu estar com saudades,
por hábito,
ou ainda,
por tédio.
olhou sem muita pressa os retratos de um passado recente.
a dor de estômago pedia atenção
(as fotos não).
passava uma por uma,
como quem olha os pássaros na rua,
e não os nomeia:
de tutu, jeremias ou eleonora.

a chamavam do outro lado da rua,
até iria,
depois a solidão seria mais macia,
e mais pura.
voltaria pro seu quarto,
sentiria cada músculo,
o corpo de um adulto.
as roupas estiradas no chão
teriam algum conforto guardado.
o vento traria alguma doença,
e na pouca morte um corpo que treme,
vivo,
certamente.

saberia traçar planos rudes,
e guardar segredos covardes.

porém, tudo ruiria,
bastasse um aroma
suspenso no ar.

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