sábado, janeiro 19, 2008

uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

"acima de todas as coisas. não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. temos disfarçado com falso amor nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. falar no que realmente importa é considerado uma gafe. não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. não temos sidos puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelos menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. temos chamado de fraqueza a nossa candura. temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. e a tudo isso consideramos a vitória de cada dia."

clarice.

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