sexta-feira, maio 29, 2009

nós

pegou na minha mão de modo desajeitado. deixei-a tesa, quis essa frieza. desistiu dessa pouca hipocrisia e pegou meu rosto, já com as mãos molhadas. aqueles olhos, aquela pele marcada. a realidade de um corpo presente. ela ali, e eu lá. éramos uma soma que não se concretizava. agora eu tinha suas mãos nas minhas, agora eu olhava o seu rosto que também me olhava. nosso olhar se encontrava apenas longe, e fugia. tinha um som das matas esse nosso encontro, e um silêncio denso. era cheio de escuridão aquele tempo, aquele minuto de adensamento entre dois corpos que existem. meu desejo de ver essa realidade se transformando em presente não bastava, eu era esse um que a olhava. e ela calada também me guardava. esperávamos nesse silêncio mútuo o instante em que nos revelaríamos, que talvez uma matéria bruta - alma - inflasse essa pele de um encontro, direcionando a tudo sentido. esperávamos. em vão éramos essa foto. esse retrato de uma mesma solidão.

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