quarta-feira, fevereiro 17, 2010

dentes

ela olhou o cigarro mumificado em cinzas no cinzeiro.
novamente havia se perdido em quandos, se-s e porques.
em ondas concêntricas o mundo começava a se organizar a partir do ponto exato,
mediano do cigarro apagado.
como comemorasse o aparecimento súbito da realidade latente,
acendeu outro cigarro,
e o fumou com a boca tesa de ódio.
queria beber, mas seu estômago envelhecera mais do que o documento de identidade.
queria ouvir jazz, mas o som incomodava seu ouvido neurótico para o banal.
queria fumar cigarros, mas sua garganta se fechava.
então ela se contentava em escrever textos,
tendo com eles como único parentesco os lábios tesos,
e os dentes.

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