Ela finge. sua boca aberta expele generalidades como uma vela que consome o pavio. seus olhos mudos, inertes. através deles vejo a intensa atividade cerebral. Ali, à minha procura. revive cores e cheiros. procura jogando no chão do quarto todos os pápeis inúteis das gavetas, cada festa um cômodo esbranquecido, entre contatos tão efêmeros como esses e bebidas dos gostos mais variados.
sua boca fruta à mostra, aberta, depois de ter caído voluntariamente no chão. sua boca mamão, quanta bobagem caroços esparramados. extiro-me na relva ainda úmida e quase divirto-me preguiça de seu esforço vão. sei que vale a pena que se lembre de pedro, no outono, com seu cachecol vermelho quase vinho. que se lembre de marcinha, de suas tatuagens e quantas besteiras. do dia em que no concerto era quase carnaval e para ela era silencioso como uma manhã cinza de chás cidreira, vitrola e alguma espécie de paz.
Embora ela não olhe no olho de nenhuma dessas salas-casas ela olha para mim Embora ela não olhe para eu. da cozinha gritam alto seu nome. ela ainda nada diz e eu ainda quase nada sei. exceto que ela pensa que me engana e parte satisfeita. Também estou satisfeita. não importa-me que não saiba um nome que sequer é meu. me importa que me empreste seus olhos mudos e suas maquinações, para que eu também possa falar besteiras, bobagens e outras poesias.
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