domingo, janeiro 29, 2012

marilene

"O pênis, tão logo cortado com o aço
atirado do continente no undoso mar,
aí muito boiou na planície, ao redor branca espuma da imortal carne ejaculava-se, dela
uma virgem criou-se. [...] Ela. Afrodite."

Hesíodo - A teogonia


Se a espuma do mar é a porra de um velho (deus sim, mas velho) o que serão as perólas? Será o ponto exato, o epicentro do prazer radial, o cintilante Carnaval? Da ostra não comem-se as sólidas bordas e a pérola.

O grego, antes de tudo um homem, antes de tudo um bruto, escolheu a espuma do mar como hoje se escolhem os filmes. A espuma do mar úmida Marilyn Monroe, criada da porra de um deus decadente, obsessivo, tarado. Filha transversa do Céu que não parava um minuto de comer a Terra. Urano Zé Celso, com um pouco menos de caráter.

Quando Marilene me chama para jantar, vejo profunda sua melancolia, girando lentamente na taça de Negrone. Quando me ofereço para amparar suas coxas com a destreza de um garçon, ela lança seu sorriso piedoso e neutraliza-me com seus lábios de madre-pérola. A ostra me imobiliza. Eu e minhas maneiras parasitas. Nada prospera na deliciosa contenção da ostra. E quando, bandeirante aguardente, enfim arrisco sua casca, muitas vezes perco-me no devaneio da pérola, esquecendo a carne mole e translúcida. Eu gosto das pérolas, por que elas trazem cores aos olhos. Entre as tetas formidáveis de Marilene as preteri.

Se a pérola é a corda luminosa lançada para nos afogar no encanto incautelável da luxuria, a carne rude da ostra é cruamente a coisa em si. Ofuscada pela pérola, toda ostra espera ser comida com pouco ou muito limão.


2 comentários:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=vlUBdxn0_-A&feature=related

Fernando Carneiro disse...

Welcome back! Saudades do seu universo transbordante.