naquela noite indecente
em que você baixou o pano
e inventou na musica
o azul, no gim
a solidão
e na solidão
a ausência completa de mim.
naquela noite indedente,
longa noite,
você inventou a morte
no lampejo de carinho
aceso
mesmo nas noites sem lua.
tantas coisas que você inventou,
e eu continuei cantando a musica,
como um samba enredo
que inventa para si mesmo
que o carnaval não acaba.
tantas coisas que inventou, que inventei, que inventamos.
e no final sobrou quase nada,
esse ar que vem da janela,
esse pó, essa cinza,
melhores num poema,
do que numa raiva.
quarta-feira, fevereiro 27, 2013
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
cores
como explicar
a companhia que aquelas flores
esquecidas no carnaval
me fazem? são como as cores
que também ecoam
na música
que você esqueceu em mim.
a companhia que aquelas flores
esquecidas no carnaval
me fazem? são como as cores
que também ecoam
na música
que você esqueceu em mim.
terça-feira, fevereiro 19, 2013
janelas
toda vez a primeira cerveja do dia.
perfeita.
servida entre outras,
entreolhando
como a dizer,
eu não sou tão boa quanto pareço.
tem algo na pinta da menina que canta.
são clichês.
a pinta, a menina. que canta.
e no entanto,
encanta.
constante entre os homens e as mulheres,
portas para a alma entrever,
quer dizer,
no máximo janelas.
perfeita.
servida entre outras,
entreolhando
como a dizer,
eu não sou tão boa quanto pareço.
tem algo na pinta da menina que canta.
são clichês.
a pinta, a menina. que canta.
e no entanto,
encanta.
constante entre os homens e as mulheres,
portas para a alma entrever,
quer dizer,
no máximo janelas.
domingo, fevereiro 17, 2013
falésia infalível
sempre tão pouco real.
sempre esse gosto incessante,
esse cheiro de carniça,
esse sopro da mentira,
essa presença no canto da cômoda,
no canto do quarto.
sempre tão pouco real,
e eu tentando enxergar
com o fundo da minha cabeça
(intuição)
e o tudo nublado,
com um bafo seco e úmido
de lágrimas muito velhas.
sempre magnético,
e a loucura deliciosa e perigosa
de cair num poço muito escuro.
o prazer improvável do corpo resvalando no mofo,
das unhas tentando se ater ao barro
como se fosse chão duro e estável.
sempre tão duro,
sempre tão distante,
sempre auscultar um coração que pulsava em algum lugar
mas sempre em lugar nenhum.
jogar-se de cabeça na falésia
e sentir a secura, o degredo, o cheiro árido das carcaças.
sempre sentir e nunca saber.
sempre ir e nunca parar.
e agora desafogar
desse estágio primário de insensatez.
olhar essa falésia,
e tantas outras.
olhar minhas mãos teimosas cheias de cacos.
o meu olho viciado em perigo.
e olhar o prado.
e um dia ainda querer o prado.
e não se importar com nada
e seguir.
como quem tem mãos e olhos e boca e cabeça e sentir e pressentir.
seguir como quem ao sair do nevoeiro disperso se olha e se reconhece.
sempre esse gosto incessante,
esse cheiro de carniça,
esse sopro da mentira,
essa presença no canto da cômoda,
no canto do quarto.
sempre tão pouco real,
e eu tentando enxergar
com o fundo da minha cabeça
(intuição)
e o tudo nublado,
com um bafo seco e úmido
de lágrimas muito velhas.
sempre magnético,
e a loucura deliciosa e perigosa
de cair num poço muito escuro.
o prazer improvável do corpo resvalando no mofo,
das unhas tentando se ater ao barro
como se fosse chão duro e estável.
sempre tão duro,
sempre tão distante,
sempre auscultar um coração que pulsava em algum lugar
mas sempre em lugar nenhum.
jogar-se de cabeça na falésia
e sentir a secura, o degredo, o cheiro árido das carcaças.
sempre sentir e nunca saber.
sempre ir e nunca parar.
e agora desafogar
desse estágio primário de insensatez.
olhar essa falésia,
e tantas outras.
olhar minhas mãos teimosas cheias de cacos.
o meu olho viciado em perigo.
e olhar o prado.
e um dia ainda querer o prado.
e não se importar com nada
e seguir.
como quem tem mãos e olhos e boca e cabeça e sentir e pressentir.
seguir como quem ao sair do nevoeiro disperso se olha e se reconhece.
como quem ou o que
como fazer um café ficar pronto sem pensar no pó, no calor, sem saber.
um café se fazer, pronto.
viver assim ali
e aqui,
como quem
ou melhor
o que.
como algo entre o
tudo
e o nada,
que caminha,
com gosto de erva.
o sol que nasce me sussurra bem baixinho,
do extraordinário possível de todos os dias,
e a onda que me leva,
eu não posso me apegar.
agora faz sol e sinto minha pele quente,
sinto minha pele branca já antecipando,
sinto alegria imensa e até incômoda.
agora chove e quero correr na chuva.
agora gripe e fico em casa pensando.
agora é noite
e aquilo ou outro.
sem se apegar na onda
posso estar mais firme.
posso olha-la nos olhos
e desafiar,
vamos juntas passar?
e se esquecer, e ser, e se dissolver no mar
a que tudo volta sem nome e sem forma.
um café se fazer, pronto.
viver assim ali
e aqui,
como quem
ou melhor
o que.
como algo entre o
tudo
e o nada,
que caminha,
com gosto de erva.
o sol que nasce me sussurra bem baixinho,
do extraordinário possível de todos os dias,
e a onda que me leva,
eu não posso me apegar.
agora faz sol e sinto minha pele quente,
sinto minha pele branca já antecipando,
sinto alegria imensa e até incômoda.
agora chove e quero correr na chuva.
agora gripe e fico em casa pensando.
agora é noite
e aquilo ou outro.
sem se apegar na onda
posso estar mais firme.
posso olha-la nos olhos
e desafiar,
vamos juntas passar?
e se esquecer, e ser, e se dissolver no mar
a que tudo volta sem nome e sem forma.
quinta-feira, fevereiro 07, 2013
travessia
eu não sei se sou o rio
(turvo pela própria violência,
primeiro e último, silêncio e som),
ou se o barco que o atravessa
(tenta atravessar).
eu não sei se sou o homem
que não vejo no lombo do barco,
ou a mulher
que teimo não enxergar no lombo do homem.
(ou ainda o leão no ventre de tudo).
acho que sou a travessia.
o ser que surge no tornar-se(r).
(turvo pela própria violência,
primeiro e último, silêncio e som),
ou se o barco que o atravessa
(tenta atravessar).
eu não sei se sou o homem
que não vejo no lombo do barco,
ou a mulher
que teimo não enxergar no lombo do homem.
(ou ainda o leão no ventre de tudo).
acho que sou a travessia.
o ser que surge no tornar-se(r).
terça-feira, fevereiro 05, 2013
leão
acho que virei um leão.
sinto o peso da minha mão agora, o desajeito. é mais difícil escrever, segurar frutas, segurar pinças.
o meu cabelo assume os rugidos que não dou,
intimida.
no mais é tudo doçura de leão,
que passa manso pela cidade.
em noites como essa sou um leão-amoreira.
crescem galhos pelo corpo
e as frutinhas vermelhas ou roxas ou muito azuis se desprendem das suas pontas.
quando vem pegar as amoras eu as vezes finjo que não gosto,
mas gosto muito.
então fico lá parado,
com essa nuvem de pessoas a povoar meus galhos,
com cara de sério as vezes, até bravo,
mas muitos sorrisos grandes,
até enormes com esses dentes, essa boca.
e só é assim por que de repente tudo se encaixa
num momento própicio,
num espaço adequado.
só assim nascem as amoras,
no mais é tudo doçura de leão.
sinto o peso da minha mão agora, o desajeito. é mais difícil escrever, segurar frutas, segurar pinças.
o meu cabelo assume os rugidos que não dou,
intimida.
no mais é tudo doçura de leão,
que passa manso pela cidade.
em noites como essa sou um leão-amoreira.
crescem galhos pelo corpo
e as frutinhas vermelhas ou roxas ou muito azuis se desprendem das suas pontas.
quando vem pegar as amoras eu as vezes finjo que não gosto,
mas gosto muito.
então fico lá parado,
com essa nuvem de pessoas a povoar meus galhos,
com cara de sério as vezes, até bravo,
mas muitos sorrisos grandes,
até enormes com esses dentes, essa boca.
e só é assim por que de repente tudo se encaixa
num momento própicio,
num espaço adequado.
só assim nascem as amoras,
no mais é tudo doçura de leão.
sexta-feira, fevereiro 01, 2013
praça camões
nas escadas da praça camões
a energia parece se organizar melhor.
me sinto num ponto preciso.
na linha do bonde mil pombas palomas
juntas e separadas
como os tantos jovens que dividem a escada comigo.
eles conversam
ou escrevem como eu.
na minha frente o sol se põe entre os casarões maiores,
ofuscando as pessoas que lotam os cafés da calçada.
a minha esquerda o rio se recorta
numa ladeira circular de sobradinhos coloridos.
me sinto precisamente exata onde estou,
não poderia estar em nenhum outro lugar,
em nenhum outro tempo,
nem milímetro nem segundo.
o sol abaixa, se esconde atrás das casas, depois dos morros, depois da terra.
e tudo vai voltar ao normal,
vai voltar a mover-se,
sem parecer tão exato, preciso, propício.
tudo vai dançar mais uma vez,
aparentando improviso,
num desenho bem mais antigo.
a energia parece se organizar melhor.
me sinto num ponto preciso.
na linha do bonde mil pombas palomas
juntas e separadas
como os tantos jovens que dividem a escada comigo.
eles conversam
ou escrevem como eu.
na minha frente o sol se põe entre os casarões maiores,
ofuscando as pessoas que lotam os cafés da calçada.
a minha esquerda o rio se recorta
numa ladeira circular de sobradinhos coloridos.
me sinto precisamente exata onde estou,
não poderia estar em nenhum outro lugar,
em nenhum outro tempo,
nem milímetro nem segundo.
o sol abaixa, se esconde atrás das casas, depois dos morros, depois da terra.
e tudo vai voltar ao normal,
vai voltar a mover-se,
sem parecer tão exato, preciso, propício.
tudo vai dançar mais uma vez,
aparentando improviso,
num desenho bem mais antigo.
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