sempre tão pouco real.
sempre esse gosto incessante,
esse cheiro de carniça,
esse sopro da mentira,
essa presença no canto da cômoda,
no canto do quarto.
sempre tão pouco real,
e eu tentando enxergar
com o fundo da minha cabeça
(intuição)
e o tudo nublado,
com um bafo seco e úmido
de lágrimas muito velhas.
sempre magnético,
e a loucura deliciosa e perigosa
de cair num poço muito escuro.
o prazer improvável do corpo resvalando no mofo,
das unhas tentando se ater ao barro
como se fosse chão duro e estável.
sempre tão duro,
sempre tão distante,
sempre auscultar um coração que pulsava em algum lugar
mas sempre em lugar nenhum.
jogar-se de cabeça na falésia
e sentir a secura, o degredo, o cheiro árido das carcaças.
sempre sentir e nunca saber.
sempre ir e nunca parar.
e agora desafogar
desse estágio primário de insensatez.
olhar essa falésia,
e tantas outras.
olhar minhas mãos teimosas cheias de cacos.
o meu olho viciado em perigo.
e olhar o prado.
e um dia ainda querer o prado.
e não se importar com nada
e seguir.
como quem tem mãos e olhos e boca e cabeça e sentir e pressentir.
seguir como quem ao sair do nevoeiro disperso se olha e se reconhece.
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