segunda-feira, abril 14, 2014

leviatã

quem me avisou foi ele.
a noite pingava as horas gota por gota na minha xícara de café
e ele precisou gritar para que eu entendesse.
graças a deus o dia começar a nascer
e essa é sempre uma prova,
por mais estranho que tudo esteja,
que as coisas estão sempre preparadas para mudar.
ele gritou meu nome em ondas de tinta.
verde e violeta escuro.
eu não cheguei a entender
quando ele começou a vomitar
os contornos,
as hachuras,
as texturas.
ele disse calma e simplesmente que talvez não fosse o suficiente.

eu não chorei.
essa época eu já não chorava mais.
aguentava estoica as poucas certezas da vida.
as certezas dificeis.
eu não lembro direito o que eu fiz.
acho que gritei para ela vai a merda.
gritei pela mediocridade do seu corpo nesse mundo.
pela dança pouca merda que ela propunha naquela noite sem sal nem frio.

ele me compreendeu.
o pior é que sempre me compreendia.
no mar da total incompreensão partimos.
ainda não sei para onde.

o mar causa nausea.
apaga o fogo discreto de qualquer esperança.
ele sequer pega minha mão.
diz que pode cultivar receios.
de mim ele espera coragem de aço.
e eu tento entregar.
não sei se estamos a caça de um leviatã.

a embarcação parece ébria.
e espero.

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