elizabeth pedia para nascer dentro de mim.
o dia inteiro
(ou o mês, a semana, não me lembro bem)
ignorava esses impulsos que julgava tolos.
porque, afinal, para mim escrever sempre foi o abrir de uma torneira sob pressão.
(inútil torneira,
consolando uma represa inteira).
então eu sentia elizabeth chamando seu próprio nome,
num fundo, bem fundo, de mim.
talvez durante o banho,
ou no trânsito,
em qualquer momento em que,
julgo,
elizabeth gostaria de estar.
(em qualquer banalidade própria da poesia).
a ignorei,
a ignorava,
pois sentia essa nova tristeza
(densa úmida e branca),
abraçando-me os músculos,
apertando-me os braços,
tesa - me chamando para dançar.
confundia elizabeth com essa outra de quem falava.
e para outra não achava lugar em vida tão vaga.
mal sabendo eu, que apenas comprava-lhe tempo
para nutrir-se do meu fígado,
espalhando-se como coisa contraída.
então um dia eu ouvi algo.
não tão longinquo quanto elizabeth.
fato certo,
me tomava imóvel,
puro ato.
era o silêncio.
no coração de uma cidade eu tinha os olhos abertos
e ouvia o silêncio.
era tudo o que escutava
e tão denso
que abria os olhos para o tudo mais.
ventava nessa ausência
e o frio apertava.
decidi-me por um pouco de solidão.
tirei minhas roupas
e talvez tenha cantado
(não me lembro bem, eram meados de setembro).
e assim,
nua, fria,
conheci elizabeth.
ela veio sem nada dizer
e olhava para um invés de mim,
resto roto
(ficou com o que a chuva não levou).
tinha-me segura entre as mãos transformadas em colcha,
absorta,
chamando um nome de eu.
elizabeth me cercava com seu calor,
embora não me aquecesse,
e dessa forma fui aprendendo seu nome.
assim a conheci.
tão doce quanto o pode a chuva.
assim que conheci eliza.
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