segunda-feira, agosto 18, 2008

onírico

um lenço preso em uma árvore seria bom o suficiente para uma torrada com géleia,
e quem sabe uma limonada.
um lenço preso de dia,
visto a noite é o mesmo lenço,
assim como todas as coisas.

Entretanto é a noite que te perco,
entre o sono sem hora (só contra-tempo).
Agarro-me ao seu corpo,
finco as unhas nos teus sonhos que se vão,
areia pouca para minhas mãos afoitas.

Acordo.
O sol entra pela clarabóia.
Explicitamente nua,
te vejo em cima da cama.

domingo, agosto 17, 2008

rito

fárois marcam o nosso tempo essa noite.
verdes, vermelhos, proibições alternadas.
eu não respeito fárois quando a noite me toma pelos braços,
os fárois nunca me respeitaram,
apenas fitam-me irônicos.

verde, vermelho.
olho-te de esguelha,
não tenho medo nem de mim.

verde,
triste que a coragem seja da bebida.
sinto-me a marca do suor da semana a marcar-me a camisa.

verdes, vermelhos.
rés liberta do dia,
do pasto, da vida.
vingo-me de mim mesma,
de uma outra,
perversa,
que mantem-me sob custódia,
chantageando-me com minha própria cabeça entre os braços.
ri alto. luxúria entre os dentes.
é a neurose das mulheres,
um pouco histérica, ansiosa,
tem de tudo um pouco,
de toda essa massa homogênea do pior que há em ser mulher.

verdes, vermelhos,
rio dela,
com os dentes cheios,
se vermelho, é sangue.
a desafio,
sei que do de mim que a pertence sou eu
- alma e corpo.

passo rente aos abismos dessa cidade,
passo em todos os fárois errados.
verdes.. vermelhos...
querendo acordar com a cabeça na calçada.
que ciclo que quebro,
e em que ciclo que me afogo,
afagando vagos dionísios.
verdes e vermelhos.

sexta-feira, agosto 15, 2008

olhos de vidro

de repente saudades
daquela fragilidade escancarada na janela.
do medo daquele cabelo escuro,
(que pra mim eram como o seu ser mulher).
e da sua pele bem branquinha,
(como a menina, bem menina).

andávamos, iamos, nunca pra um onde.
e ela nunca deixava a janela.
olhava o sol, o vento batia nos cabelos,
viagens, noites, conversas,
sempre pra ser olhada da janela.

e de repente saudades.
não exatamente daquela figura distante,
distante do meu carinho,
mas de um olhar perdido no tempo.
olhar terno,
num paradoxo destemido
(pois tinha medo dos outros, mas não de si mesmo)
olhar terno,
perdido pelo caminho.

retrato da mediocridade enquanto estupenda

cheira forte. fundo. a voz na noite, um telefone no gancho.
entre o medo das pernas, cheira forte.
a vida, essa desconhecida.
(carência afetiva).
escovar os dentes pensando no futuro.
chá de ginseng, ebreus,
helenos, japoneses,
ébrios..
se tiver mãos, só cortadas.
flores desirrigadas
- rosas .

quinta-feira, agosto 14, 2008

liberdade

sobe as sobrancelhas. as mãos abraçadas no cerne da mesa. o olhar defendido, embora prometa entregas completas. - agora é a hora da verdade -. então se existisse tal coisa como o tarô das neuroses, angustias, perversões e traições, o abriria frente aqueles olhos malvados.
e menos que o tarô, existe a verdade. coisa pouca, coisa rala. verdadeiro arranjo arbitrário do momento. mais existe a mentira. a mentira de inventar a verdade. e esperar do momento algo para além de si mesmo.
além,
aquém,
adeus.

terapêutica

uma mão que fecha meus olhos.
uma mão que pousa a mão sobre meus olhos.
é escuro e mágoa.
lágrimas se misturam aos corregos das antigas nações.
tons subtons
tantos tons de cinza,
esquinas viradas de preto.
não bem choro,
mão dos olhos sobre o peito.
o coração cinza como as esquinas.
aperta-me sem pulso,
a dor é tirar o compasso da dor,
de viver que é o compasso da dor.

sábado, agosto 09, 2008

voyeur

dois ovos mexidos, não fritos.
uma xícara de leite quente.
então a liberdade de para a direita ou para a esquerda:
a solidão.
como esse espaço de escrever.
como a liberdade entre os parentesis.

entretanto,
tantas fechaduras a estragar o dia.

quinta-feira, agosto 07, 2008

na terra da chuva

tudo que mais me equivalia ausente no meu corpo.
como inventar um deus e um diabo
e os colocar diariamente na mesa de cabeçeira.
eu não sabia, exatamente, se era noite ou se era dia.
isso porque tudo reverberava como informação,
tudo.
o passado e o futuro.
enchendo-me aquele presente de matéria.

sei que chovia,
o céu vinha do azul e ia pro cinza
num fundo branco.
as árvores inutilmente cobriam minha cabeça,
tudo chovia
dentro e fora.

as pedras.
a lama, a terra.
o vento a chuva.
e o medo da incerteza.

e se então tudo alagasse
e se o mundo mesmo acabasse
nada mudaria,
exceto que esse grande vazio que nos faz andar,
ganharia plena vida
e viraria pânico.