domingo, dezembro 13, 2009

oi

Eu não queria chegar em casa tão cedo. Estava com um gosto de amarelo na boca, de madeira antes de queimar. Não queria ter de ouvir os outros, fingir energia para concordar com suas besteiras. Ser natural ali cansava muito.
Então a primeira premissa: ser antinatural.
Cheguei em casa com um sorriso campeão no rosto,
quem me visse poderia vir a pensar que eu era a filha preferida de alguém, que era vice campeã brasileira de natação, e que estudava direito com mérito e prata.
Apliquei abundantemente a generosidade e a simpatia no terreno familiar, friccionando com os nós dos dedos para a matéria entrar mais profundamente.
Eles relaxaram e riram,
olharam para o meu rosto orgulhosos
e pediram pra eu passar o arroz.
Eu passei o arroz
e descansei numa poltrona vermelha despedaçada,
olhando atráves das retinas o filme de um família hipócrita.
Eles discorriam sobre diversos assuntos,
e a desconhecida da natação versava com eles:
arquitetura, viagens, temperaturas, ciência natural.
Ela ali atuava nos terrenos perigosos da maldade,
rimando o mau com o louco.
Eu via t.v. apenas.
Eu, uma sala infinita de pretura, a poltrona, uma mesinha com um peixe chamado Jacques, e um tapete que eu peguei emprestado com a minha vó.
Depois subi as escadas e me encontrei.
A água encheu o aquário e Jacques morreu afogado.
Ele era um peixe das idéias e não suportava água.

2 comentários:

Lígia disse...

aneths, seu cerebro funciona umas mil vezes mais rápido que meu. e com tanta sutileza. e com gostos bizarros na boca. saudade de vc pequena.

Murillo Teixeira disse...

eu queria fazer um comentário mas