domingo, fevereiro 21, 2010

momento

alta noite indo aos trancos,
degrais galgados a saltos de barata,
sangue frio e pouco aptidão.
essa nossa noite torta,
bege nas paredes,
escura nas intenções.
ia saltar vôo, presentia,
você pediu abraço,
eu murmurei num presságio mal-vindo:
acabou.
o seu rosto então marcado pela luz filtrada da rede,
olhar que diz o que a boca não tem coragem.

a mesa estava cheia,
rostos conhecidos e calor,
como uma cidade pequena,
casa pequena e igreja.
diva mal compreendida ela ria,
ria para mim às vezes.
nos olhavamos com o carinho que sempre tivemos.
ela se foi,
abraço de deixar uns pedacinhos de afeto marcados na blusa,
o novo gosto do gesto.

fazia tanto tempo,
nem tentar sucitar no peito o mesmo movimento,
olhar o cabelo recém cortado,
como eu gosto, assim como ela.
nada, nem lembrança,
nem esse esperar denso dos amores que não são feitos para o encontro.

de longe eu podia inventar a música que quisesse para o seu riso,
então era belo.
então ela se movia e o ar se movia com ela.
então era jazz,
ciranda, frevo.
coisa de dança, música, desejo.
sentada a mesa ela falava,
existia,
desmanchava com os dedos feios o entrelaçar arrogante do platônico encantamento.

a noite de tão alta quedou-se em dia.
eu lembrei como as memórias que vem do nada
e só por um momento.
do nosso riso, gosto, vida.
lembrei da primeira festa,
da primeira vez.
da dor de repentinamente escolher,
não porque fosse possível,
mas porque as escolhas de amor já nascem feitas.

como ontem escolher agora,
estar inteira e densa,
pra além do mundo,
com você.

4 comentários:

Anônimo disse...

degraus

Ana Roman disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Roman disse...

chata

Anônimo disse...

adoro essa poesia! continue. estou ficando viciada no seu blog.