quinta-feira, março 25, 2010

inha

Eu sinto ainda as vozes na minha nuca.
E no canto dos olhos vejo a luz barata,
levemente amarela,
refletida no tampo das mesas de plástico.

Não escuto o que elas falam.
Algo que não compreendo,
outras línguas,
outros tempos.
Algo que não me diz respeito.

Com as tintas da ebriedade
desenho um sorriso na minha própria boca.
As pessoas riem pra mim,
talvez achem graça do rosto sem forças,
e da tinta sem malícia.
Talvez acreditem.
(Ou talvez também tenham se desenhado alegrias).

Alguém na mesa me conhece.
Eu sei.
Mas ela está em outras paisagens.
O olhar, mesmo que tente se encontrar,
encontra quinas, miragens, curvas.
Nunca passagens.

No olhar de outra pressinto a doçura inevitável do mar.
Isso eu também sei.
Mas ela cita nomes, e músicas, e gostos,
e o mar se atrofia no seu rosto.

Há ainda mais uma.
Intermitente nos dias.
Energia que confunde,
protege.
Expande e introverte.
Ela tem olhos que fogem,
olhos de tristeza.

Por meio da palavra,
mistério do significado,
lançamos uma corda.
O seu olhar triste puxou por um lado,
por outro o meu.

Nos olhamos denso enfim,
na noite díficil da dança das máscaras,
nos comunicamos em sílaba e gesto.
E eu pude sorrir sem tinta.

Um comentário:

Anônimo disse...

sincero e reslista.