terça-feira, agosto 31, 2010

sonho


Os homens todos estavam inquietos. olhavam apreensivos para os lados. Fundo, uns nos olhos dos seguintes. O escuro de seus olhos os fazia femininos, fortes do modo de quem conhece um segredo. Eram anciões em corpos jovens, o que agravava a sensação de que algo ia mal. Um deles segurou no meu braço firmemente, deixando marcas roxas no meu punho. Seu olhar era cinza. como a praia e o céu. Ele me explicou que participaria de um mito.
A tartaruga imensa desceria esse fim de tarde da montanha: sua barriga era de fogo e seu casco de fumaça. Eu deveria ir para o mar, não tão fundo que me afogasse, não tão raso que me queimasse em sua barriga.
Deitei-me no mar como devia e, como todos, olhei para a terra. O tempo seco estalava sem trovões. Repentinamente, a enorme tartaruga começou a descer a montanha. Seu corpo ocupava toda a terra, e seu passo era avassalador. Em segundos ela cobrira a distância de meses de caminhada, e nos lambia as cabeças. Ela sorria. Nós cuidadosamente amparávamos frágeis nas mãos duas crianças, a morte e a vida. Estavamos plácidos e úmidos. Silenciosos de viver um mistério.

Um comentário:

aninha disse...

sonhei com um povo inventado. acho que esse era o mito deles para o vulcão.