sábado, agosto 14, 2010

a toureira

A sala era enorme. E tudo inverso. Quase vazio todo o espaço
povoado, preenchido, saturado, transbordado de ausência.
O único som vinha do aparelho improvisado,
lá fora só a noite gritava o silêncio.
O flamenco fazia o corpo todo dela se encrispar,
se desfazer em volutas, enleios.
Os olhos cravados em mim,
desenhando labirintos.
Ela endureceu as costas
e eu me senti em perigo.
Ela se aproximou olhando no duro dos olhos
e falou
você sabe como o toureiro domina o touro?
Eu balbuciei a minha ignorância,
como homem e como mulher.
Então ela desfez a rigidez das costelas
em movimentos delicados,
com as mãos, os quadris,
os olhos, cabelos.
Algo naquilo era conhecido.
correspondia
àquilo que eu, incauta
pensava ser dança.
Dessa vez, entretanto,
a mulher não queria prender entre os dedos
o possível touro.
mas sim matar a besta,
para poder enfim
deitar com o homem.

2 comentários:

Anônimo disse...

q mulher é essa?? Deus do céu, deve ser demais! ela te dominou? conta o resto! : ...

Ana Roman disse...

a mãe do chico.
ela dança flamenco.

mas não me dominou não.
só falou essa frase no ar explicando sobre as raízes da dança e eu achei que dava texto.