segunda-feira, dezembro 06, 2010

novo

uma vez por ano uma senhora imensa se senta sobre meu corpo.
ela tira meu ar, e machuca meus ossos
quase até os romper.
ela não me fala nada. enquanto eu esmurro suas costelas distantes
ela sorri para mim explicando o mundo.
sua pele é suada e gorda, seu cabelo é imenso e sujo, sua pele é cinza, e acobreada.
de dentro de suas dobras eu grito impropérios, e busco saídas.
o som que ouço é quase o mesmo que emito, transformado pelas condições insalubres propostas por seu corpo.
sem ar, sufocada com o gosto amargo da tristeza ignorada por muito tempo, sou obrigada a encarar uma escuridão muito mais profunda.
meu corpo frágil, pálido, quebradiço, se faz de labirinto.

quando chego a sua última curva, certa de encontrar
o cerne,
encontro um espelho.
nele me recordo longinquamente.
é assustador e torna-se imprescindível voltar.
a mulher com suas tetas imensas me alimenta, e me deixa partir.
continua sorrindo impassível.

é quase irônico o modo como seu silêncio diz: talvez ano que vem voltemos a nos encontrar.

Nenhum comentário: