quinta-feira, março 24, 2011

estória

Era tudo mentira. Eu te disse e você sorriu molinha como se já soubesse, como se soubesse todas as vezes que eu menti pra você e passasse as mãos na minha cabeça querida-menina-maluca. Finalmente, eu pensei. Alguém que entendesse, que nas veredas tortas das histórias que eu inventava, não havia traição, não havia a vileza tradicional das mentiras, mas sim a intenção carinhosa de te mostrar um mundo mais azul. Ela ria pra mim, enquanto eu me perdia nesses labirintos. Eu falava muito, e era muito jovem. E ela ria como se eu fosse uma criança me sujando com as tintas vermelha e amarela.
Mesmo quando a gente dormia junto ela tinha esse jeito. Passava os dedos entre meus cabelos suados enquanto eu inventava prazer onde antes só tinha dois corpos iguais, espelho transcendental.
Eu não sei bem onde ela me achou, ou eu achei ela. Ela quase nunca falava nada, e ria, ria. Ria das molecagens que eu sabia a supor feliz. Escondendo sempre minha também velhice, nos olhando atenta, como o tempo que passa no ritmo contínuo e exato de uma cadeira de balanço.

2 comentários:

rato disse...

bonita

sassá disse...

e esse tempo que dura no ritmo da cadeira... muito bom pra pensar