domingo, maio 06, 2012

areia

Eu esperei que chamassem os meninos, enquanto o tempo passava por entre as pedras difíceis. Eu esperei alinhando os copos. Eu esperei alimentando-a pelos tubos que saiam da garganta. Eu esperei nomeando os cachorros que latiam sem parar onde não podiam ser vistos. Eu esperei separando com o labor delicado do agricultor os timbres de cada latido súbito que invadia a casa. Eu esperei observando o movimento contínuo e determinado da hera por sob o cal. Eu esperei em cada fundo de garrafa alcançado, e a cada copo. Eu esperei esquecendo o que eram nomes, o que eram números, e chamando a ela de catorze (infinita). Eu esperei sentindo fome, esquecendo o que era a fome, por dias, jogados no quarto como as folhas em branco e as folhas escritas. Eu esperei como o céu tocando o rosto dela e fazendo cores inesperadas e vulgares. Eu esperei que chamassem, mesmo que não acreditasse mais que houvessem vozes para o fazer. Eu esperei, sem acreditar que os meninos viriam. Eu esperei, sabendo que eles já eram velhos, gastos e puídos. Os meninos. Eu esperei por muito tempo já sem esperar. E quando terminei, vi a casa pronta. Cada grão no seu lugar. Nesse instante deitado no próprio tempo, pude partir, como quem sabe de cor as listras de um tigre.

2 comentários:

selene disse...

tigres, leopardos - vale também lobos mesmo não sendo felinos?

Ana Roman disse...

nossa, eu nem tinha reparado na repeticao felina ... !
vale lobo sim!