domingo, maio 06, 2012

leopardo

Sentou-se apressado no lugar de sempre. Sua nuca doia, tinha dores na bacia. O homem trouxe os dois copos opacos e a ampola. Engoliu suave o gosto do vento comprimido entre as janelas. Esperou o vôo.
Algo entre as costelas ficara preso, sentia. Sabia. Que dentro instantes, se a situação não se revertesse, ele se ausentaria da cadeira, do veludo suave e bem vermelho, da tranquilidade do piso de taco. Sentiu o gosto nauseado de talco nas virilhas. Repetiu as palavras costumeiras. O homem tocou suave os seus ombros, com os dedos em pinça. Ele sabia o que estava acontecendo. Ele abriu os olhos do outro. Os olhos iam saltando em verde. Amolecendo com a umidade e quentura espontânea da língua que invadia, serena. Aos poucos iam saltando pequenos veios, pintas, tintas-pele. Aos poucos  os seus olhos profundamente verdes, e o seu corpo leitoso, denso, bruto. Seu corpo de leopardo.

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