O chão
agasalhava-se em um tapete alérgico, as paredes geladas em branco, úteis. No corredor tudo seguia seta, as portas
entreabertas, os convites, o chão longilíneo, a falta de carinho. Te encontrei
flutuando inconveniente entre a porta. Você ria insanidades sempre, balançava o
corpo, as ancas suaves, os peitos, ria fechando os olhos, abrindo a boca. Nada
importava frente aquele barulho alto e bom que saia do seu corpo todo. Quase
sempre era assim, impossível de imaginar profundidades, calamidades, algo mais
noturno que o humor, a derreter todas as coisas.
O seu pé cruzava a
soleira, os seus olhos perdidos entre esquerdas e direitas, e ali, qualquer
pessoa poderia passar. Se você risse o momento ruiria. Olhei para suas coxas
com medo de que o rumor pudesse começar por ali, tentei pressentir no seu rosto
qualquer nota desse carnaval, olhei os seus cabelos escondendo qualquer coisa,
talvez a nuca, e lancei no espaço oco do corredor algo.
Deveria ir, e não
voltar. Deveria ir para longe do meu corpo encontrar o seu, qualquer parte que fosse. Entraria como um
veneno, irradiando-se lento dos dedos até a parte detrás da cabeça, até o
pulmão, até o peito. Deveria partir desraigado, até virar uma cor delicada e
constante, que persistisse sutil para além da sua risada radioativa.
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