terça-feira, junho 12, 2012

humor

   O chão agasalhava-se em um tapete alérgico, as paredes geladas em branco,  úteis. No corredor tudo seguia seta, as portas entreabertas, os convites, o chão longilíneo, a falta de carinho. Te encontrei flutuando inconveniente entre a porta. Você ria insanidades sempre, balançava o corpo, as ancas suaves, os peitos, ria fechando os olhos, abrindo a boca. Nada importava frente aquele barulho alto e bom que saia do seu corpo todo. Quase sempre era assim, impossível de imaginar profundidades, calamidades, algo mais noturno que o humor, a derreter  todas as coisas. 
   O seu pé cruzava a soleira, os seus olhos perdidos entre esquerdas e direitas, e ali, qualquer pessoa poderia passar. Se você risse o momento ruiria. Olhei para suas coxas com medo de que o rumor pudesse começar por ali, tentei pressentir no seu rosto qualquer nota desse carnaval, olhei os seus cabelos escondendo qualquer coisa, talvez a nuca, e lancei no espaço oco do corredor algo.
   Deveria ir, e não voltar. Deveria ir para longe do meu corpo encontrar o seu, qualquer parte que fosse. Entraria como um veneno, irradiando-se lento dos dedos até a parte detrás da cabeça, até o pulmão, até o peito. Deveria partir desraigado, até virar uma cor delicada e constante, que persistisse sutil para além da sua risada radioativa.

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