sábado, abril 13, 2013

amoras

esse olho clínico que me deixa entrever sem muito esforço o cheiro de esgoto proliferando solto por debaixo dos tampos das mesas dos bares de sempre.
essa chuva rala
que não serve nem para molhar
nem para ficar seco.
essa falta de gosto,
essa gripe,
esse despero silencioso
corroendo na forma de sorrisos
os sonhos de uma idade inteira.
essa bebida
que não serve mais para ir além
senão para empapuçar
e deixar a vista nublada
e o sono inequívoco.
essa sede.
e nenhuma bebida.

é nesse quadro
que eu quis e quero te explicar na importância das pequenas alegrias.

alegrias quase nunca são grandes.
são pequeninas
como uma vela que se apaga ao sinal de menor vento,
como um gesto,
como uma lembrança.

alegrias são anãs e delicadas.
são como amoras.
de um azul bem vivo
que vai embora logo.

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