segunda-feira, março 05, 2007

nuel

os minutos soavam no relógio da cozinha. as paredes eram sólidas como nos tempos de infância. o sol estirado no chão se parecia com um retrato antigo, encontrado na poeira da biblioteca. os gatos quietos roçavam as ramagens. entre os elementos dispersos no ar, havia uma bruma sem matéria que tornava os limites mais sutis. todas imagens formavam o silêncio daquela tarde distante.
sentado no quintal de casa a tarde me engulia enquanto eu experimentava o gosto ruivo e ácido do uísque na garganta. ali, me sentia só e vivo como as criaturas fundamentais da terra, talvez um córrego, ou mesmo uma pedra. ali, me sentia preso a vida por uma força sem vontade e sem questão. vivo como uma coisa morta.
é porque repentinamente não queria mais fechar os olhos, ou mesmo pensar em lugares distantes. toda idéia de fuga ou evolução me dava nauseas. a vida deixara de girar em círculos, de formar labirintos metafísicos, de dançar entre promessas. a vida era a ordem que o silêncio ditava. era o retrato do instante em que o sol se punha.

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