domingo, julho 27, 2008

self

não sairei lá fora.
certamente a noite me engolira com sua boca inchada
- entumecida
além de provavelmente invisível.
fico aqui
com a luz.
os traços bem definidos de um rosto em decomposição.

1.
hoje a luz principal do banheiro estava apagada,
mas eu via os olhos e seus contornos com a luz que sobrava da sala.
escuras olheiras - eu lhe diria.
no entanto não lhe digo nada.

guardo segredo.

2.
o dia passou como uma mentira,
como um sonho que não se sabe exatamente se foi sonhado ou...
(o som do ar entrando nas costelas)
pressentido.
assim como lembro-me do passado
- e não do futuro.

3.
querida,
eu hoje te inventaria.
alguém que talvez merecesse essa carta,
engavetada no lúgubre sotão das minhas memórias.
(curvas alongadas, um soluço ausente, granito, estátuas de corujas)

não te invento.
pois tenho a você e a mim distantes dessa tão rala (e não esparsa) realidade.
realidade de rotos, cheia de detalhes, embora (apenas) vital quanto a poeira.

4.
escuta.
escuta bem.
mergulha no silêncio escondido por trás dessas palavras.

esse silêncio somos nós.

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