sexta-feira, agosto 28, 2009

um dia

não era um dia frio,
não era um dia quente.
digo isso pois assim me situo,
como se relembrando as nuances de temperatura na pele
pudesse me sentir um pouco mais una,
como se não me espalhasse pelos tempos e espaços.

a princípio era um dia,
relevante que vinha logo depois de uma noite,
de bocas suadas de álcool e insônias mal situadas.

nesse dia que te falo ela chegou linda,
vinha com os lábios bem vermelhos da dor da tristeza do salgado da lágrima.
os cabelos molhados como se esbanjasse uma limpeza
que na verdade,
depois daquela noite,
não possuia.

não olhou para mim,
olhou para os cantos,
mentindo verdades,
como se não quisesse estar ali.

eu era um cadáver vivo,
fui depois saber.
tocando uma melodia crua no violão,
as olheiras fundas
como se dali nunca mais ousassem sair.
e a pele pálida.
de susto talvez,
por a ver e a gostar e ter medo.

algo nos rondava,
como um vaticínio -
sombra de rompimento.

eu mostrei meu poema
que ela modificou um pouco com sua própria poesia,
manchando as palavras dispostas logo abaixo do seu rosto.
eu tinha dor e a amparei.
ela tinha dor e se deixou levar.

os outros mais uma vez haviam doído em nós,
marcando o nosso céu com sua inveja e sua irresponsabilidade.

eu não precisava de muito para deixar esse momento passar,
a dor, a angústia, a insegurança, a vingança.
isso tudo havia de passar,
eu a amava,
e basta.

Um comentário:

Anônimo disse...

amar basta quando se ama de amor puro.
saudades.